Arcebispo de Olinda pede a Roma canonização de Dom Hélder 

O arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, anunciou que vai solicitar a Roma o inicio do processo de canonização de Dom Helder Câmara, arcebispo emérito de Olinda e Recife, falecido em 1999. Na terça-feira (20), foi assinada uma carta dirigida à Congregação Para Causa dos Santos, em Roma, pedindo licença para iniciar o processo de canonização.

Arcebispo de Olinda pede a Roma canonização de Dom Hélder

Saburido explicou que só pode mandar a carta depois que recebeu o aval da Confederação de Bispos do Brasil no Nordeste (CNBB). A carta enviada tem uma breve explicação da causa, expondo dados biográficos de Dom Hélder. Com chegada das respostas positivas do Vaticano, o arcebispo pode abrir o processo e anuncia a instalação do tribunal eclesiástico.

Uma comissão histórica deve ser formada, para que profissionais pesquisem e recolham escritos de Dom Hélder, assim como documentos que dizem respeito à causa, incluindo os da Comissão da Verdade. Pelo menos três teólogos vão analisar os escritos de Dom Hélder para dar um parecer de que os escritos estão de acordo com as normas da Igreja Católica.

História de luta

Cearense de nascimento, Dom Hélder Câmara foi um dos mais influentes personagens da Igreja Católica no Brasil do século 20, principalmente quando comandou a Arquidiocese de Olinda e Recife, durante o período da Ditadura Militar. Após entrar muito jovem no Seminário da capital do Ceará, se tornou padre aos 22 anos.

O primeiro momento da vida religiosa de Dom Helder foi marcado pela militância junto a instituições políticas conservadores, como a Ação Integralista Brasileira (espécie de fascismo no País), entre 1932 e 1937. Mais tarde, o religioso considerou a participação como um erro da juventude. Já radicado no Rio de Janeiro desde 1936, passou a optar por um trabalho assistencialista, quando fundou departamentos da Igreja voltados para atender os mais necessitados.

Após longo período atuando na então capital do Brasil, Dom Hélder foi nomeado para o Maranhão por apresentar divergências com o arcebispo carioca Dom Jaime Câmara. Com a morte do arcebispo de Olinda e Recife, é mandado para Pernambuco, onde desembarcou em 12 de abril de 1964, poucos dias após o golpe militar.

Na capital pernambucana, o religioso desembarcou em meio a uma relação conturbada entre Governo do Estado e Igreja. Apesar do clima, Dom Hélder foi recepcionado com festa pelas autoridades do Estado, em ato na Praça da Independência, no centro do Recife. Dois dias após a posse, Dom Hélder lançaria, juntamente com outros 17 bispos nordestinos, um manifesto à Nação, pedindo liberdade das pessoas e da Igreja.

O primeiro grande atrito, entretanto, ocorreu em agosto de 1969, quando o arcebispo foi acusado de demagogo e comunista, por ter criticado a situação de miséria dos agricultores do Nordeste.

A partir de então, Dom Hélder sofreu represálias, inclusive com sua casa metralhada, assessores presos e com a morte de Padre Antônio Henrique, que foi assassinado. Em 1970, quando Dom Hélder teve o nome lembrado para o Prêmio Nobel da Paz, o governo brasileiro promoveu uma campanha internacional para derrubar a indicação, já que ele denunciava a prática de tortura a presos políticos no Brasil. Também em 1970, os militares chegaram a proibir a imprensa de mencionar o nome do Arcebispo de Recife e Olinda.

Dom Hélder ficou na Arquidiocese de Olinda e Recife até sua aposentadoria, no dia 10 de abril de 1985, quando foi substituído pelo arcebispo Dom José Cardoso Sobrinho. Ele morreu em sua casa, no Recife, em 27 de agosto de 1999, devido a uma insuficiência respiratória decorrente de uma pneumonia. Uma multidão acompanhou o seu corpo que foi conduzido até a Igreja da Sé, em Olinda, onde foi sepultado.

Pelo seu trabalho em defesa dos direitos humanos, Dom Hélder recebeu vários prêmios internacionais, como Martin Luther King, nos Estados Unidos, em 1970, e o Prêmio Popular da Paz, na Noruega, em 1974. O religioso é autor de 22 livros, a maioria ensaios e reflexões sobre o terceiro mundo e a igreja.

Fonte: G1/PE