Filme "Tarja Branca" propõe revolução pela brincadeira
É raro encontrar algum adulto que não se comova ao ver a beleza das crianças brincando. Por um instante, bate saudades da leveza do mundo lúdico que geralmente povoa o universo infantil. Mas isso logo passa, afinal, crescer traz grandes responsabilidades e não se pode perder tempo com coisas que não são “sérias”. É exatamente isso que o documentário Tarja Branca – A Revolução que Faltava questiona.
Publicado 20/06/2014 11:11
O longa-metragem dirigido por Cacau Rhoden com produção de Maria Farinha Filmes tem estreia nacional nesta quinta-feira (19).
Com um roteiro impecável, o filme intercala saborosas imagens de brincadeiras e de manifestações populares brasileiras com entrevistas com artistas, pesquisadores, psicólogos, psicanalistas, terapeutas, pedagogos, etnomusicólogo e brincantes em geral. Os depoimentos de José Simão, do multiartista Antonio Nóbrega, do escritor Marcelino Freire e do músico e ator Wandi Doratiotto se equilibram com os depoimentos de estudiosos e pesquisadores e de personagens comuns que brincam a cultura popular, como é o caso de Geraldo Antonio da Silva, capitão da Congada Guarda de Moçambique, de Belo Horizonte.
A trilha sonora, composta de cirandas, maracatus, cocos, sambas e outros ritmos nacionais faz um casamento harmonioso e emocionante com a fotografia de Janice D'Ávila. O conjunto da obra leva ao espectador a compreensão do tema pelo sentimento, mais do que pela razão. Impossível não se identificar com as histórias e brincadeiras apresentadas e não lembrar das cores brilhantes que devem fazer parte da vida de todas as crianças. Mais que isso, improvável não se questionar: “Quando é que deixei de brincar e por quê?”
Do início ao fim, a montagem de André Finotti conduz o espectador à esta reflexão por meio de um ritmo orgânico, que evolui sem que se perceba, naturalmente, sem forçar a barra. Assim como as brincadeiras. O casamento que documentário promove entre as brincadeiras e as manifestações culturais típicas brasileiras é comovente, além de fazer todo o sentido. “A grande riqueza da cultura popular é que ela é a chance de você ter uma segunda infância”, afirma a coreógrafa Andrea Jabor, entrevistada num Rio de Janeiro ensolarado tendo ao fundo o deslumbrante Morro Dois Irmãos.
A impressão que se tem quando o filme acaba é que a equipe viajou pelos rincões do Brasil todo para captar a beleza e alegria de um povo brincante com o objetivo de alertar sobre importância de não deixar a brincadeira morrer, especialmente as grandes cidades, onde há cada vez menos espaço para o lúdico. “Tem gente que morre e que uma ou duas cordas foram acionadas. As outras ficaram em silêncio a vida toda. É no brincar que você dedilha a lira inteira”, lamenta Lydia Hortélio, professora e pesquisadora de música tradicional da infância.
Na ânsia de preparar as crianças para o futuro, os pais estão cada vez mais se esquecendo do tempo sagrado das brincadeiras, a principal base da infância. Há cada vez menos um equilíbrio entre o aprendizado formal e o aprendizado por meio do lúdico. “A criança, com 4, 5, 6 anos, já aprende balé, inglês, sapateado… É muita coisa que se enfia na cabeça. Daí vai crescendo um adulto muito preocupado”, aponta o músico e ator Wandi Doratiotto.
“Não adianta ter a forma e não ter conteúdo. E o conteúdo, para mim, vai ser encontrado no brincar, nesse tempo livre, justamente quando ela está em contato com a cultura, com a comida, com a dança, com o teatro. É isso o que vai fazer essa alma ficar cheia. Tirar o tempo livre de recreio, o pouco contato que ela possa a ter com a natureza é o maior pecado que a gente está cometendo com a criança”, afirma a pedagoga Ana Lucia Villela, que diz se sentir profundamente triste ao constatar que 9 entre 10 crianças das grandes cidades preferem ir ao shopping a brincar.
O documentário prega que o prazer da brincadeira deve ser estimulado desde cedo para que, quando adulta, a pessoa continue brincando e saiba buscar a verdadeira felicidade. “Pergunte ao poeta se ele pode não escrever. Se a resposta for 'sim', abandona essa m* e se dedica a qualquer outra coisa. Se a resposta for 'não', então você será um poeta e um escritor, vai escrever e escrever cada vez melhor. Pronto. Isso é ir atrás do seu próprio desejo. Isso é brincar. A única solução para nós é fazermos o que gostamos. Se formos pagos por isso, melhor, mas é secundário”, opina o psicólogo argentino Ricardo Goldenberg.
Para Lydia Hortelio, a solução para muitos problemas da sociedade vêm junto com crianças brincantes. “Eu estou pela revolução que falta, que é esta revolução da criança. É isso que vai nos tirar deste mal-estar, dessa tristeza generalizada que a gente vê nas pessoas, essa falta de alegria que a gente está vivendo”, afirma e vai além: “A gente está vendo a rebeldia das crianças nas escolas, o número de crianças encaminhadas para terapeutas e a escola sem poder resolver a questão da violência. E a violência está aí porque as pessoas foram violentadas na sua capacidade de ser gente”, afirma Lydia.
Pião, bolinha de gude, pipa, carrinho de lata, cantigas de roda. Para a criança, é simples ser feliz em um mundo de brincadeira. Por que, então, depois de adultas, as pessoas acham vergonhoso brincar? “Quem brinca é mais feliz. Ponto. Eu não tenho dúvida. E eu acho que é o grande lance. Todo mundo quer ser feliz. Tudo bem, você quer ter dinheiro, ter conforto… Mas fundamentalmente, o que a gente quer? Felicidade”, diz Andrea Jabor.Com um roteiro impecável, o filme intercala saborosas imagens de brincadeiras e de manifestações populares brasileiras com entrevistas com artistas, pesquisadores, psicólogos, psicanalistas, terapeutas, pedagogos, etnomusicólogo e brincantes em geral. Os depoimentos de José Simão, do multiartista Antonio Nóbrega, do escritor Marcelino Freire e do músico e ator Wandi Doratiotto se equilibram com os depoimentos de estudiosos e pesquisadores e de personagens comuns que brincam a cultura popular, como é o caso de Geraldo Antonio da Silva, capitão da Congada Guarda de Moçambique, de Belo Horizonte.
A trilha sonora, composta de cirandas, maracatus, cocos, sambas e outros ritmos nacionais faz um casamento harmonioso e emocionante com a fotografia de Janice D'Ávila. O conjunto da obra leva ao espectador a compreensão do tema pelo sentimento, mais do que pela razão. Impossível não se identificar com as histórias e brincadeiras apresentadas e não lembrar das cores brilhantes que devem fazer parte da vida de todas as crianças. Mais que isso, improvável não se questionar: “Quando é que deixei de brincar e por quê?”
Do início ao fim, a montagem de André Finotti conduz o espectador à esta reflexão por meio de um ritmo orgânico, que evolui sem que se perceba, naturalmente, sem forçar a barra. Assim como as brincadeiras. O casamento que documentário promove entre as brincadeiras e as manifestações culturais típicas brasileiras é comovente, além de fazer todo o sentido. “A grande riqueza da cultura popular é que ela é a chance de você ter uma segunda infância”, afirma a coreógrafa Andrea Jabor, entrevistada num Rio de Janeiro ensolarado tendo ao fundo o deslumbrante Morro Dois Irmãos.
A impressão que se tem quando o filme acaba é que a equipe viajou pelos rincões do Brasil todo para captar a beleza e alegria de um povo brincante com o objetivo de alertar sobre importância de não deixar a brincadeira morrer, especialmente as grandes cidades, onde há cada vez menos espaço para o lúdico. “Tem gente que morre e que uma ou duas cordas foram acionadas. As outras ficaram em silêncio a vida toda. É no brincar que você dedilha a lira inteira”, lamenta Lydia Hortélio, professora e pesquisadora de música tradicional da infância.
Na ânsia de preparar as crianças para o futuro, os pais estão cada vez mais se esquecendo do tempo sagrado das brincadeiras, a principal base da infância. Há cada vez menos um equilíbrio entre o aprendizado formal e o aprendizado por meio do lúdico. “A criança, com 4, 5, 6 anos, já aprende balé, inglês, sapateado… É muita coisa que se enfia na cabeça. Daí vai crescendo um adulto muito preocupado”, aponta o músico e ator Wandi Doratiotto.
“Não adianta ter a forma e não ter conteúdo. E o conteúdo, para mim, vai ser encontrado no brincar, nesse tempo livre, justamente quando ela está em contato com a cultura, com a comida, com a dança, com o teatro. É isso o que vai fazer essa alma ficar cheia. Tirar o tempo livre de recreio, o pouco contato que ela possa a ter com a natureza é o maior pecado que a gente está cometendo com a criança”, afirma a pedagoga Ana Lucia Villela, que diz se sentir profundamente triste ao constatar que 9 entre 10 crianças das grandes cidades preferem ir ao shopping a brincar.
O documentário prega que o prazer da brincadeira deve ser estimulado desde cedo para que, quando adulta, a pessoa continue brincando e saiba buscar a verdadeira felicidade. “Pergunte ao poeta se ele pode não escrever. Se a resposta for 'sim', abandona essa m* e se dedica a qualquer outra coisa. Se a resposta for 'não', então você será um poeta e um escritor, vai escrever e escrever cada vez melhor. Pronto. Isso é ir atrás do seu próprio desejo. Isso é brincar. A única solução para nós é fazermos o que gostamos. Se formos pagos por isso, melhor, mas é secundário”, opina o psicólogo argentino Ricardo Goldenberg.
Para Lydia Hortelio, a solução para muitos problemas da sociedade vêm junto com crianças brincantes. “Eu estou pela revolução que falta, que é esta revolução da criança. É isso que vai nos tirar deste mal-estar, dessa tristeza generalizada que a gente vê nas pessoas, essa falta de alegria que a gente está vivendo”, afirma e vai além: “A gente está vendo a rebeldia das crianças nas escolas, o número de crianças encaminhadas para terapeutas e a escola sem poder resolver a questão da violência. E a violência está aí porque as pessoas foram violentadas na sua capacidade de ser gente”, afirma Lydia.
Pião, bolinha de gude, pipa, carrinho de lata, cantigas de roda. Para a criança, é simples ser feliz em um mundo de brincadeira. Por que, então, depois de adultas, as pessoas acham vergonhoso brincar? “Quem brinca é mais feliz. Ponto. Eu não tenho dúvida. E eu acho que é o grande lance. Todo mundo quer ser feliz. Tudo bem, você quer ter dinheiro, ter conforto… Mas fundamentalmente, o que a gente quer? Felicidade”, diz Andrea Jabor.
Fonte: Rede Brasil Atual