Sperber
O autor, que é historiador e leciona na Universidade do Missouri (EUA), trabalhou durante seis anos para escrever o livro, que já está traduzido para nove línguas. Ele examinou a formação do autor de O Capital. Sua pesquisa envolveu toda a produção de Marx, explicou. A maior dificuldade, disse, foi tudo o que Marx escreveu, além de centenas de biografias, ensaios e artigos escritos sobre o grande revolucionário. Inclusive anotações rabiscadas no verso de envelopes.

A maior tragédia da vida de Marx, assegura Sperber, foi a morte de seu filho Edgar, em 6 de abril de 1855, aos oito anos de idade. Esta tragédia repetiu a ocorrida com dois outros filhos, que morreram ainda menores (Guido e Franziska viveram apenas um ano de idade), vítimas de doenças e da vida miserável que levaram na Dean Street, no bairro pobre do Soho, em Londres. O próprio Marx deixou registrado o tamanho de sua dor: "Já enfrentei toda a sorte de infortúnio, mas agora conheço, pela primeira vez, a face do verdadeiro sofrimento. Sinto-me alquebrado. Afortunadamente, desde o dia do funeral tenho sido acometido por uma dor de cabeça tão intensa que me impede de pensar, ouvir ou enxergar".
Em sua análise. Sperber examinou temas como a luta de classes, a teoria do valor, a revolução comunista, a influência de Hegel na obra de Marx. Explicou que foi levado a escrever a biografia pelo "um forte apreço pelo profundo e poderoso compromisso de Marx com os seus ideais, apesar dos muitos sacrifícios pessoais que teve que fazer". Narrou desde as crônicas dificuldades financeiras da família e a luta para pagar contas cotidianas como aluguel, quitanda, açougue…
Ele partiu do histórico familiar de Marx (1818-1883) e da influência determinante que os livros clássicos, em grego ou latim, tiveram em sua formação. Marx sempre foi um grande admirador, e leitor, de autores como Balzac, Dante, Cervantes, Goethe, Púchkin. Segundo a filha Eleanor, a “bíblia” de Marx era a obra de Shakespeare.
Sperber relata as participações de Marx na criação da Primeira Internacional e nos levantes operários de 1848, ano em que foi publicado o Manifesto do Partido Comunista, que o autor definiu como uma "verdadeira obra-prima da literatura: a uma só vez conciso, expressivo, elegante, marcante e sarcasticamente divertido".
Sperber dedicou o livro à memória de seu pai, Louis, que foi membro do Partido Comunista dos EUA. Ele próprio foi militante marxista na juventude, embora hoje se defina como um "liberal ou social-democrata".
(*) A partir da resenha "Livro narra tragédias e rebeliões de Marx", de Eleonora de Lucena, publicada na Folha de S. Paulo (9 de junho de 2014)