Marx e as mazelas teóricas e cotidianas do capitalismo

A vida de Karl Marx, mais uma vez examinada num livro que acaba de ser traduzido (Karl Marx – uma vida do século 19, de Jonathan Sperber, pela Editora Amarilys), foi um contínuo enfrentamento não apenas teórico, contra as mazelas do capitalismo, mas sobretudo aquelas que este sistema provoca na vida cotidiana das pessoas.  

Por José Carlos Ruy (*)  

Sperber
O autor, que é historiador e leciona na Universidade do Missouri (EUA), trabalhou durante seis anos para escrever o livro, que já está traduzido para nove línguas. Ele examinou a formação do autor de O Capital. Sua pesquisa envolveu toda a produção de Marx, explicou. A maior dificuldade, disse, foi tudo o que Marx escreveu, além de centenas de biografias, ensaios e artigos escritos sobre o grande revolucionário. Inclusive anotações rabiscadas no verso de envelopes.

A maior tragédia da vida de Marx, assegura Sperber, foi a morte de seu filho Edgar, em 6 de abril de 1855, aos oito anos de idade. Esta tragédia repetiu a ocorrida com dois outros filhos, que morreram ainda menores (Guido e Franziska viveram apenas um ano de idade), vítimas de doenças e da vida miserável que levaram na Dean Street, no bairro pobre do Soho, em Londres. O próprio Marx deixou registrado o tamanho de sua dor: "Já enfrentei toda a sorte de infortúnio, mas agora conheço, pela primeira vez, a face do verdadeiro sofrimento. Sinto-me alquebrado. Afortunadamente, desde o dia do funeral tenho sido acometido por uma dor de cabeça tão intensa que me impede de pensar, ouvir ou enxergar".
 
Em sua análise. Sperber examinou temas como a luta de classes, a teoria do valor, a revolução comunista, a influência de Hegel na obra de Marx. Explicou que foi levado a escrever a biografia pelo "um forte apreço pelo profundo e poderoso compromisso de Marx com os seus ideais, apesar dos muitos sacrifícios pessoais que teve que fazer". Narrou desde as crônicas dificuldades financeiras da família e a luta para pagar contas cotidianas como aluguel, quitanda, açougue…

Ele partiu do histórico familiar de Marx (1818-1883) e da influência determinante que os livros clássicos, em grego ou latim, tiveram em sua formação. Marx sempre foi um grande admirador, e leitor, de autores como Balzac, Dante, Cervantes, Goethe, Púchkin. Segundo a filha Eleanor, a “bíblia” de Marx era a obra de Shakespeare. 
 

Sperber relata as participações de Marx na criação da Primeira Internacional e nos levantes operários de 1848, ano em que foi publicado o Manifesto do Partido Comunista, que o autor definiu como uma "verdadeira obra-prima da literatura: a uma só vez conciso, expressivo, elegante, marcante e sarcasticamente divertido".
 
Sperber dedicou o livro à memória de seu pai, Louis, que foi membro do Partido Comunista dos EUA. Ele próprio foi militante marxista na juventude, embora hoje se defina como um "liberal ou social-democrata".
 
(*) A partir da resenha "Livro narra tragédias e rebeliões de Marx", de Eleonora de Lucena, publicada na Folha de S. Paulo (9 de junho de 2014)