Serguei Lavrov: Ocidente nem tenta pressionar Kiev

O Ocidente tenta “assimilar o espaço geopolítico ucraniano”, e quer fazê-lo prejudicando os interesses da Rússia, assim como os da população russófona da própria Ucrânia. As sanções contra Moscou criam condições para a execução desse projeto geopolítico, diz o ministro das Relações Exteriores da Rússia Serguei Lavrov.

Serguei Lavrov

Ao falar num briefing especial, dedicado essencialmente ao problema ucraniano, o chefe da diplomacia russa referiu que a antiga oposição ucraniana, que tomou o poder em fevereiro, não cumpriu uma única de suas promessas, até o campo do Maidan continua por desmantelar. Contudo, o Ocidente não faz nada nessa situação:

“Ninguém tenta sequer pressionar a atual direção ucraniana para que comece cumprindo o que foi prometido. Antes de mais nada, que inicie um diálogo nacional sobre o tipo de país em que as pessoas e as regiões possam viver em paz e estabilidade. O problema está na capacidade de diálogo dos nossos parceiros em todas as etapas da crise ucraniana. Talvez ao sentir sua incapacidade em obrigar a direção ucraniana a fazer aquilo que foi acordado, alguns políticos ocidentais procuram um escape para as energias acumuladas nas sanções (contra a Rússia).”

A Rússia aspira apenas a uma coisa: encontrar uma forma de influenciar a situação da Ucrânia de forma a transformá-la de um confronto militar em negociações políticas, sublinhou Serguei Lavrov:

“O que quer que a Rússia tenha feito a favor do início de um processo negocial, isso sempre esbarrou na resistência da direção ucraniana, a qual sente um apoio incondicional dos nossos colegas norte-americanos e europeus. Aí reside o problema.”

De acordo com o ministro russo, os acordos internacionais alcançados com a participação dos países ocidentais são travados e distorcidos. Entretanto, proposta da Rússia para colocar observadores da OSCE na fronteira russo-ucraniana quase se “afundou” em duas semanas de discussões estéreis:

“Não vi, nem ouvi, quaisquer iniciativas políticas por parte dos nossos colegas ocidentais. Eles apenas falam de uma coisa: que a Rússia deve alterar sua política e, enquanto ela não o fizer, haverá sanções. Eu não sei o que eles entendem com alteração de política. Nós, após insistência dos nossos colegas ocidentais, apoiamos o acordo de 21 de fevereiro. Nós tivemos a iniciativa de elaborar a declaração de Genebra. Nós apoiamos o roteiro da OSCE que o Ocidente se recusou a apoiar. Nós propusemos diversas formas de presença de observadores nos postos fronteiriços. O tempo que levou a decidir uma coisa tão simples só tem uma explicação: o Ocidente tentou travar esse processo. Não sei porquê. Talvez, insistindo tanto na transparência, eles realmente não queiram essa transparência?”

Regressando ao tema das sanções como tais, Serguei Lavrov referiu que, do ponto de vista de Moscou, as sanções raramente atingem seus objetivos:

“No caso da Rússia eles não podem ser atingidos por definição. Nós não ficamos contentes com isso. Assim como não ficam os países da Europa que introduzem essas sanções, nós sabemos disso. Mas, posso assegurar-vos, as dificuldades que surgirem em determinadas áreas da economia serão por nós ultrapassadas. Talvez nos tornemos mais autônomos e confiantes nas nossas capacidades. O principal é que os nossos parceiros ocidentais não conseguem nos explicar o que pretendem de nós.”

De acordo com o ministro russo, na Europa existe uma inércia evidente na questão das sanções, e ela é suportada pelos EUA. A probabilidade da união de esforços entre a Rússia e a União Europeia é vista pelos Estados Unidos como uma ameaça.

Entretanto, a Rússia não pretende atuar pelo princípio “olho por olho, dente por dente”. “Entrar em histeria e responder a cada golpe com outro, isso não é digno de um grande país”, referiu Serguei Lavrov.

No briefing foi também focado o tema da queda do Boeing malaio no distrito de Donetsk, na Ucrânia. O chefe da diplomacia russa voltou a declarar que Moscou apela ao fim das tentativas de “esconder o rastro” na investigação dessa tragédia, e que essa investigação deve ser honesta e baseada nos fatos. A Rússia não irá acreditar apenas em palavras de seja quem for.

Segundo disse Serguei Lavrov, seria ridículo entrar num tribunal norte-americano e dizer: “O meu constituinte tem um alibi a toda a prova, mas como ele constitui segredo de Estado, terão de acreditar na minha palavra.”

Fonte: Voz da Rússia