Investigação do acidente do Boeing na Ucrânia continua sem resultados

É necessário que investigação da catástrofe do Boeing da Malaysia Airlines na Ucrânia seja feita por uma equipe internacional, insiste o embaixador da Rússia na ONU, Vitali Tchurkin.

Malaysia Airlines

De acordo com a resolução 2166 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, as ações militares no local da tragédia devem ser suspensas. Kiev, contudo, não cumpre essas exigências, dificultando o acesso de inspetores internacionais aos destroços da aeronave.

Passou mais de um mês desde a queda do Boeing na Ucrânia. Mas nenhum dos relatórios, inclusive os realizados no quadro do Conselho de Segurança da ONU, testemunha progressos na investigação.

Até hoje não está claro o papel que a Organização Internacional de Aviação Civil (ICAO) desempenha na investigação, não obstante a sua participação estar prevista na resolução 2166 do Conselho de Segurança. Foi para a ICAO que o Comitê de Aviação Internacional, que responde pela zona em que de jure entra a Ucrânia, transferiu suas competências.

Mas uma vez que a aeronave caiu na Bacia do Rio Don (Donbass), região em que decorrem combates entre o exército ucraniano e rebeldes locais, as questões de aviação estão entrelaçadas com problemas políticos. Pensava-se que seria mais fácil para a ICAO, como organismo internacional prestigioso, obter a assistência de Kiev.

Mas o inquérito enveredou por um caminho estranho. A investigação passou a ser encabeçada pela Holanda, oficialmente por ser o país da maioria das vítimas da tragédia. A Holanda anunciou a intenção de cooperar estreitamente com a ONU e a ICAO. Mas, na realidade, seus métodos de trabalho não correspondem ao regulamento internacional, destaca o presidente da agência analítica Segurança de Voos, Valeri Chelkovnikov:

“Geralmente, quando chega um grupo de investigadores, o primeiro que se exige do Ministério da Defesa e dos serviços de inteligência do país em que ocorreu a catástrofe aérea é um relatório oficial sobre lançamentos de mísseis, exercícios de tiro e voos de aviões, ou seja um enorme conjunto de informações inclusive sobre o lançamento e a aterrissagem de naves espaciais. É necessário colher imediatamente todas as informações, para que ninguém possa falsificar planos de voos, o horário de tiros e de comandos. Devem ser apresentadas à comissão sob a égide da ICAO as gravações de trocas radiofônicas entre controladores aéreos e de comunicações com postos de comando militares”.

Kiev, porém, tornou secretas essas informações. A gravação de conversas entre os controladores aéreos e tripulantes da aeronave malaia foi retirada logo na altura por agentes do Serviço de Segurança da Ucrânia. Os próprios controladores aéreos também foram levados para interrogatório.

A razão pela qual os pilotos do Boeing da Malaysia Airlines receberam indicações de se desviar do itinerário marcado e de voar por cima da zona do conflito militar passou a ser um sigilo pessoal de um círculo restrito de pessoas. Não se sabe ainda se esta informação teria sido comunicada ao grupo de investigadores internacionais. Pelo menos, o relator obrigado a manter ao corrente os membros do Conselho de Segurança da ONU não conseguiu esclarecer essa questão.

A leitura das caixas-pretas, que estavam em perfeito estado e inicialmente foram entregues à parte malaia, foi confiada, por estranho que pareça, a especialistas britânicos em Londres. Segundo alguns dados, os países cujos cidadãos morreram em resultado da catástrofe já receberam o relatório, mas o seu conteúdo continua sendo desconhecido.

O embaixador do Reino Unido na ONU, Mark Lyall Grant, prometeu que o relatório preliminar sobre a investigação da catástrofe será divulgado do fim de agosto, mas só no caso do consentimento de Kiev, que até hoje fez tudo para dificultar ou até tornar impossível o inquérito.

Moscou insiste em que a investigação da catástrofe da aeronave tenha caráter internacional e seja aberta e transparente.

O Boeing 777-300 da Malaysia Airlines caiu em 17 de julho na região de Donetsk da Ucrânia. Todas as 298 pessoas que se encontravam a bordo morreram em resultado da catástrofe.

Fonte: Voz da Rússia