Mais um “neto das Avós da Praça de Maio” é encontrado

Pela segunda vez em duas semanas, a presidente das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, voltou a se apresentar diante das câmeras na Argentina com um grande sorriso no rosto. A ativista anunciou nesta sexta-feira (22) que foi encontrada a neta de Alicia de la Cuadra, a neta 115ª, chamada pelos pais de “Ana Libertad”.

Estela Carllotto - Telám

Ana mora na Europa e fez o teste de DNA para conhecer sua identidade voluntariamente. O exame revelou que ela é a neta que “Alicia de la Cuadra buscou até o dia de sua morte”, que ocorreu em 2008. No último dia 5, a notícia de que Estela encontrara seu neto “Guido” gerou grande comoção no país.

“É imensa a alegria de encontrar outro neto em tão pouco tempo do último. O nome dado por seus pais é Ana Liberdad, disse Estela. A identidade da neta e o país em que reside, no entanto, não foram especificados.

As avós fazem um grande esforço para que a identidade dos netos encontrados seja preservada para não atrapalhar a aproximação com a família e pediram comedimento à imprensa neste sentido. Questionada sobre com quem Ana se encontrará já que a avó morreu em 2008, Estela ressaltou que ela tem tios e primos em La Plata que esperaram por este momento.

O desfecho desta história remonta a 2010, quando as Avós receberam uma denúncia com a informação de que uma jovem poderia ser filha de desaparecidos. A Conadi (Comissão Nacional pelo Direito à Identidade) iniciou uma investigação em 2013, solicitando a coleta de sangue. Ao tomar conhecimento do processo judicial, ela resolveu procurar as Avós e fez o teste voluntariamente na embaixada do país onde vive.

O material genético chegou à Argentina em maio. O resultado saiu nesta quinta-feira (21). “A análise determinou que era a filha de Elena de la Cuadra e Héctor Carlos Baratti”, comemorou Estela.

A história de Ana Libertad

Elena, filha de Alicia, estava grávida de cinco meses quando foi presa pela ditadura militar. De acordo com o relato de sobreviventes, no dia 16 de julho de 1977, ela deu à luz em um cativeiro em La Plata. Ao falar sobre o caso, Licha, como era chamada a fundadora das Avós, contou que o parto ocorreu “em meio à mais absoluta falta de higiene, sem acompanhamento médico, jogada no chão, enquanto suas companheiras gritavam espantosamente, pedindo ajuda”.

Elena e Hector foram presos no centro clandestino de detenção Pozo Quilmes. O corpo de Elena nunca foi encontrado. Hector foi assassinado e seus restos mortais foram identificados pela Equipe Argentina de Antropologia Forense.

Foi na casa de Licha que começaram as reuniões das mães e avós que buscavam entes queridos presos e posteriormente assassinados nos porões da ditadura. Além de Elena, Alicia também perdeu o filho Roberto José por ação dos militares. Como reconhecimento à luta, foi a primeira presidente das Avós da Praça de Maio.

Em um comunicado difundido hoje, as Avós saudaram o encontro: “hoje ela conseguiu adquirir esse bem tão precioso que seus pais desejaram com seu nome: bem-vinda Ana à sua liberdade”.

Por Vanessa Martina Silva, no Opera Mundi