Pela primeira vez, Argentina julga médicos que atuaram na ditadura

Uma corte federal vai julgar, pela primeira vez na Argentina, desde a última ditadura civil-militar (1976-1983), os profissionais da saúde que participaram de partos clandestinos para sequestrar filhos de militantes presas que ainda permanecem desaparecidas.

reynaldo bignone - Telám

O jornal Página 12 informa, nesta segunda-feira (15), que os médicos Noberto Bianco e Raúl Martín e a obstetra Luisa Arroche serão processados a partir de quarta-feira (17) pelo Tribunal Oral Federal número 6, por apropriação de crianças durante a ditadura.

Eles são acusados de se empenhar em partos clandestinos que funcionavam no hospital militar de Campo de Maio. Essa mesma Corte determinou, em julgamentos anteriores por delitos de lesa à humanidade, que o roubo de filhos de militantes sequestradas foi uma prática sistemática e generalizada do terrorismo de Estado.

Após 10 anos de insistência do grupo Avós da Praça de Maio, os integrantes da cúpula militar que governou o país neste período foram condenados por este crime. Dois anos depois, o mesmo tribunal começará a julgar os integrantes das equipes médicas vinculados ao roubo de bebês, cujas responsabilidades foram analisadas no julgamento anterior.

Os médicos Bianco e Martín e a obstetra Luisa, mais os ditadores que tiveram cargos na região, Santiago Riveros e Reynaldo Bignone, deverão responder pelo roube de nove bebês, cinco dos quais conseguiram recuperar sua verdadeira identidade.

A história dos netos recuperados, Francisco Madariaga e Catalina de Sanctis Ovando, serão algumas das tratadas ao largo do debate judicial. Neste primeiro processo serão julgados apenas os casos de nove mulheres.

O jornal afirma ainda que no Pavilhão de Epidemiologia do Hospital Militar de Campo de Maio existiram, de 1976 a 1978, dois quartos especiais com janelas arejadas, cadeados nas portas e sem luz elétrica, por onde passaram pelo menos 17 jovens grávidas.

Elas eram levadas até esses quartos quando chegava o momento do parto, em carros particulares e algemadas, vindas de diferentes centros de detenção clandestinos que funcionavam na região do Campo de Maio. Os nascimentos aconteciam, na maioria das vezes, impulsionados por cesárias nas salas de cirurgia do hospital.

Logo depois de dar à luz, as mães eram separadas de seus bebês, e seu próximo destino era novamente um centro clandestino, em seguida, o desaparecimento ou a morte.

Fonte: Prensa Latina