Serguei Lavrov: a realidade de um mundo policêntrico

Dizer não aos duplos critérios, cumprir todos os acordos internacionais – essa é a posição de princípio de Moscou, declarou o chefe da diplomacia russa. Serguei Lavrov discursou perante os participantes do tradicional fórum da juventude Seliger.

Por Igor Siletsky, na Voz da Rússia

Serguei Lavrov

Moscou, segundo o ministro, é o maior interessado no reforço do direito internacional. O diplomata sublinhou que tudo o que foi dito está diretamente relacionado com a atual posição de Moscou relativamente à crise na Ucrânia.

Quando os aliados não votam contigo em unanimidade, isso não é uma tragédia. Pelo contrário, isso apenas enriquece as relações, disse Serguei Lavrov. Moscou respeita seus parceiros e sabe que no essencial eles estão sempre com a Rússia. É assim, por exemplo, que estão sendo construídas as relações com a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC). Ao contrário da Otan, onde qualquer desvio e qualquer manifestação de divergência são penalizados.

Mas hoje essa “disciplina do chicote” já não funciona, o mundo mudou, declarou Serguei Lavrov:

“A essência da atual fase das relações internacionais é a transição para um modelo fundamentalmente novo de ordem mundial. Um modelo policêntrico baseado na consideração do fator de surgimento de novos centros de poder econômico e financeiro. A influência econômica e financeira é acompanhada, certamente, pela influência política.”

O Ocidente, infelizmente, não deseja de forma nenhuma se conformar com a realidade objetiva e usa todo o arsenal de meios obsoletos para conservar sua anterior influência, continuou o ministro russo:

“Se não houvesse Ucrânia, essa linha seria mantida de qualquer forma. Para enorme pesar nosso, isso está profundamente enraizado nos círculos dirigentes de uma série de países ocidentais, sobretudo nos Estados Unidos. Depois de um longo domínio histórico da economia e da política mundial, hoje esses países tentam manter suas posições artificialmente. Procurando utilizar os instrumentos que possuem: militares, políticos ou técnicas de mudança de regimes, para travar artificialmente o processo de formação de um sistema internacional democrático e equitativo.”

Esse problema global foi completamente revelado pela crise ucraniana. Por mais que o digam as capitais ocidentais e Kiev, Moscou não teve, nem tem, intenções de desmantelar o Estado ucraniano. Sim, a Rússia reconheceu os referendos realizados numa certa altura em Lugansk e em Donetsk, mas sempre se pronunciou pela realização dos resultados desses referendos apenas através de negociações.

“O principal seria que a parte ucraniana convidasse, tal como tinha prometido, todas as regiões da Ucrânia, incluindo evidentemente o Sudeste, para o início imediato de um diálogo nacional, no âmbito do qual as partes pudessem elaborar alterações à lei fundamental do país que garantissem uma coexistência tranquila, segura e equitativa de todas as etnias e minorias, de todas as regiões, tendo em conta seus interesses econômicos. É necessária uma concórdia nacional. Ela só pode ser obtida com base num equilíbrio dos interesses de todas as regiões e forças políticas do país”, sublinhou Serguei Lavrov.

De acordo com Lavrov, isso é do interesse comum de Kiev e de Moscou – conservar a grande população russa da Ucrânia. A Rússia quer que os russos se sintam bem tanto na Ucrânia, como na Moldávia, em todos os lugares onde agora vivem. Mas para que a resolução da crise ucraniana se aproxime pelo menos um pouco, a primeira coisa a fazer é parar o derramamento de sangue.

Os jovens pediram a opinião de Serguei Lavrov sobre quem eram agora os aliados da Rússia. Segundo o ministro, eles agora são muito mais do que se pensa. Não são apenas os países membros da OTSC, mas também os parceiros dos projetos de integração eurasiática, a Organização para Cooperação de Xangai e os países do Brics.

O ministro das Relações Exteriores chamou a atenção dos participantes: a Rússia é sobretudo atacada porque ela, mais que ninguém, não teme expressar abertamente seus interesses e expor seus pontos de vista. Além disso, a Rússia não os apresenta como uma verdade absoluta – a parte russa está disposta a ouvir os seus oponentes. Mas os oponentes devem sempre recordar: para Moscou a autonomia política externa e a soberania da Rússia foram e continuam sendo seus valores fundamentais.

Fonte: Voz da Rússia