Pochmann: proposta de Marina e Aécio para BC prejudica democracia

Em entrevista à rádio Brasil Atual, o economista Marcio Pochmann, afirma que a autonomia do Banco Central, proposta pelos presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB), é prejudicial à democracia brasileira, pois considera fundamental que a população possa influenciar diretamente nas ações de controle do sistema financeiro.

Márcio Pochmann

“É difícil imaginar que um país que conceda na lei uma autonomia ao Banco Central. Isso a meu ver compromete ainda mais a democracia porque o povo trabalhador sempre tem poucas oportunidades de manifestar sua opinião”, avaliou ele, destacando que o momento eleitoral é uma demonstração de opinião, de consciência do povo. “O núcleo estratégico de um governo passa a ser autônomo, sem ter voto, sem ter participação popular. Isso, obviamente, dá uma oportunidade adicional para ser um núcleo que termina contaminado pelos interesses econômicos predominantes no país”, completou.

Como um aceno ao sistema financeiro, os candidatos Aécio e Marina defendem em campanha a independência do Banco Central em relação ao Estado, mas completamente sob o domínio do sistema financeiro. E garantem que fariam isso por meio de lei.

O guru econômico de Aécio, Armínio Fraga, não esconde o jogo. Em entrevistas ele afirma que tal medida deixaria a entidade de controle do sistema financeiro a salvo de pressões e oscilações políticas. Também a coordenadora-geral de campanha de Marina, Neca Setúbal, herdeira do Banco Itaú, defende a proposta de tornar o BC mais alinhado a instituições financeiras.

“É fundamental que a população continue tendo participação, o poder de tirar e colocar pessoas, porque é para isso que serve a democracia, é para isso que a política é constituída: para servir à população, e não o contrário”, adverte Pochmann.

A candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) defende o contrário. Para a presidenta é fundamental que exista poder do governo de influenciar nas escolhas de diretores e em temas como câmbio e taxa de juros, ainda que exista autonomia operacional.

Bancos contra Dilma

A insatisfação do sistema financeiro se deve ao fato do governo Dilma ter reduzido a taxa de juros a 7,25% ao ano, nível mais baixo da história. Depois disso, as taxas voltaram a subir, até o patamar atual, de 11%, mas segundo Pochmann, as instituições não perdoaram ter a margem de lucro reduzida pela remuneração que o governo dá ao setor financeiro.

“A posição diametralmente oposta à do governo, expressa por uma parte dos bancos, é de que embora estejam ganhando muito, estão ganhando menos”, avalia. Ele apresenta o cálculo de que, em 2002, ao final do governo de Fernando Henrique Cardoso, o governo entregava ao setor financeiro o equivalente a 14,2% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto no ano passado repassou 5,7% do PIB.

Pochmann vai mais fundo e afirma que a questão dos juros é um dos motivos da euforia do mercado ao anúncio do Aécio de que Fraga seria o seu ministro da Fazenda, caso fosse eleito. Ele lembra que o patamar da taxa de juros chegou a 45% na gestão de Armínio Fraga à frente do Banco Central, encerrada com uma Selic de 22% ao ano. “Os bancos não tiveram perdas, mas deixaram de ganhar uma parte, e essa parte que deixaram de ganhar foi direcionada para políticas públicas, política de investimento público, transferência de renda, salário mínimo”, finalizou Pochmann.

Fonte: Rede Brasil Atual