Proposta de Marina é “autofágica” e “inviável”, diz Wanderlei Santos

Para o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, o plano de governo de Marina Silva (PSB), além de obscurantista e criacionista, é uma proposta “autofágica” e “inviável”.

Wanderley Guilherme dos Santos

“E por isso acredito que se o fator emocional retomar seu nível tradicional e relativo em competições políticas, o candidato Aécio Neves se afirmará como o representante consistente da facção conservadora e não seria uma carta fora do baralho”, destacou o cientista em entrevista ao Brasil 247.

O professor Wanderley Guilherme dos Santos é uma dos mais renomados cientistas políticos brasileiros. Em 1962, com 27 anos, escreveu “Quem dará o golpe no Brasil”, texto que antecipou os desdobramentos do conflito que levaria ao golpe de 1964. Em 1998, publicou “Décadas de Espanto e uma Apologia Democrática”, que trata da Era Vargas e dos anos FHC explicando a luta permanente contra a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).

Menosprezo ao pré-sal

Sobre a proposta de Marina de reduzir os investimentos no pré-sal, Wanderley questionou: “Como é possível menosprezar a economia política do pré-sal, manter os empregos em toda a cadeia produtiva ativada pela Petrobrás e investir fortemente na educação e na saúde? Da hegemonia da economia do etanol? Da energia eólica e solar? Em que década do século XXI?”.

O mestre em Ciência Política e professor da UFRJ afirma que cada proposta da candidata do PSB serve para um país diferente. “Por isso não creio que as propostas da Rede, em sua versão PSB, sejam sérias”, frisou.

Segundo Santos, Marina propaga a ideia de que os problemas do Brasil decorrem da competição entre o PT e o PSDB, e a solução, portanto, seria a eleição de uma terceira via. “Esse equívoco de diagnóstico – se é que a candidata e seus assessores acreditam de verdade nele – permite tratar os problemas de forma fatiada como se a política adotada em um setor não repercutisse em outras áreas relevantes”, afirmou.

O que falta a Dilma

Sobre a campanha de Dilma, Santos enfatiza que é preciso traduzir as obras em realidades humanas e de forma didática ao eleitor. “Eu começaria mostrando o valor do Bolsa Família e de onde ele vem: tudo tem início na agricultura, que precisa de crédito, garantia e investimento. Passa pelo transporte em rodovias, ferrovias, portos, silos e energia para chegar aos brasileiros sob forma de bens de consumo, que só podem ser consumidos porque os salários tem sido defendidos no poder de compra”, disse ele.

Santos também falou sobre o posicionamento da mídia na cobertura das eleições. “O jornalismo político brasileiro se aproveita exaustivamente das condições institucionais vigentes. Umas são de extrema relevância para a democracia – a liberdade de opinião e de expressar preferência política, por exemplo – outras deixam os cidadãos desarmados em face dos crimes catalogados nos códigos, mas de julgamento e reparação ineficazes. Esse é um dado a ser levado em conta nos cálculos eleitorais, não para formar hipóteses sobre o que aconteceria caso o mundo fosse diferente. Não se dispôs a alterar as regras antes. Agora é contar com elas.

Fonte: Brasil 247