Valter Pomar: O oportunismo de Miriam Leitão

A jornalista Miriam Leitão publicou, em O Globo da última quinta-feira (4), um artigo em defesa de Marina Silva. Até aí, nada de estranho. Estranho é o argumento: segundo Leitão, estaria havendo "intolerância religiosa" contra Marina.

Por Valter Pomar, em seu blog

Bola de Cristal

O argumento recorda a defesa que Marina fez do Pastor Marco Feliciano, em 2013. Segundo Marina, Feliciano estaria sendo hostilizado por ser evangélico, não por estar atentando contra os direitos humanos e as liberdades garantidas pela Constituição brasileira.

Vamos combinar: não há nenhuma "cobrança religiosa" sobre Marina.

O que existe é a dúvida de alguns e a certeza de muitos, acerca da ameaça que paira contra o caráter laico do Estado brasileiro.

Leitão afirma que a laicidade está assegurada pela Constituição. É verdade. Mas a questão é: esta candidata defende a laicidade?

Da boca para fora, sim. Mas basta assistir a entrevista de Marina ao Jornal da Globo para perceber que ela não consegue ir além da saudação à bandeira.

Por exemplo: a postura de Marina frente a criminalização da homofobia.

Uma comparação ajuda a entender qual o problema.

O racismo é crime inafiançável. Se uma autoridade de qualquer crença promover o racismo, a liberdade religiosa não pode ser utilizada como argumento para impedir o cumprimento da legislação.

A homofobia é uma ameaça aos direitos humanos. Por isto é justo defender e será correto aprovar uma lei criminalizando a homofobia.

Pois bem: se a homofobia for criminalizada, de maneira similar ao que fizemos contra o racismo, então quem estimular o preconceito e o ódio contra os homossexuais deve ser tratado nos termos da lei.

Quando alguém diz que não pode ser assim, porque isto iria contra a liberdade religiosa de XYZ, minha conclusão é: este tipo de argumento é uma ameaça a laicidade do Estado.

Não é a crença das candidaturas que está em questão, nem tampouco as qualidades literárias da Bíblia, Torá ou Alcorão.

O que está em questão é o nível de compromisso de cada candidatura com a democracia, os direitos humanos e o caráter laico do Estado brasileiro.

Contestar o direito das pessoas questionarem este compromisso é, isto sim, intolerância religiosa. Ou, no caso de Leitão, puro e simples oportunismo eleitoral.