Serguei Lavrov: não existem terroristas “bons” ou “maus”

O chanceler russo, Serguei Lavrov, discursando em uma conferência internacional para o Iraque em Paris, apelou aos parceiros a “pensarem duas vezes sobre consequências da sua política de duplos padrões na luta contra o terrorismo”.

Por Nina Antakolskaya*, na Voz da Rússia

Serguei Lavrov

A recente declaração do presidente dos EUA, Barack Obama, sobre a intenção de realizar ataques aéreos às posições do Estado Islâmico tanto no Iraque, como na Síria que não havia autorizado tais incursões no seu território, obrigaram a França a convocar com urgência uma conferência internacional.

Em Paris, os diplomatas franceses recordaram que os EUA tinham criado um terreno fértil para o atual conflito do Oriente Médio que eclodira há dez anos, altura em que Washington iniciou uma campanha militar contra o Iraque. Um enfoque análogo tem sido defendido por Moscou.

“Convém dar conta de consequências de suas ações”, salientou o chefe da diplomacia russa: “Há já muito que nós colocamos a questão do surto da atividade terrorista no Oriente Médio e no Norte da África após a Primavera árabe quando o desejo de derrubar certos regimes se colocava acima dos objetivos comuns de impedir o alastramento da ameaça terrorista. Lembramos disso para 'não atirar a culpa' pelos acontecimentos passados, mas para fazer com que novas ações empreendidas pela comunidade mundial, possam levar em conta as lições do passado. E para compreender, disse adiante, que no combate ao terrorismo não podem haver duplos padrões. Não há terroristas 'bons' e 'maus'. É necessário realizar uma política consequente, sem dar a prioridade a projetos políticos que afetem a luta comum contra o terrorismo”.

Vale notar que os 30 países participantes da conferência ressaltaram a necessidade de prestar ao Iraque uma assistência urgente. Todavia, um comunicado final do foro não especifica medidas concretas viradas para a realização dessa meta, dando a liberdade de ação a cada país. As medidas de combate ao terrorismo deverão corresponder aos interesses e às necessidades das autoridades iraquianas e às fundamentais normas do direito internacional.

Entretanto, o vice-chefe da comissão parlamentar de assuntos internacionais, Andrei Klimov, ressalva: “Estados do oeste da Europa estão bem informados dos acontecimentos reais que ocorrem no Oriente Médio. Seus diplomatas sabem que o surgimento do Estado Islâmico no território do Iraque e da Síria se deve à política insensata dos EUA no sentido de armar a oposição síria e derrubar, deste modo, o governo de Bashar al-Assad. A Europa fez bem em recorrer agora ao Conselho de Segurança da ONU ao qual compete aprovar as ações militares perigosas”.

A França se manifestou disposta a efetuar voos militares de reconhecimento na zona do conflito. O Canadá se comprometeu a fornecer munições para as armas ligeiras em serviço do exército iraquiano. O Japão, contudo, não se disponibilizou a contribuir para a operação, tencionando prestar apenas a assistência humanitária.

Infelizmente, a conferência de Paris não contou com a presença de diplomatas do Iraque e da Síria. Eles não foram convidados a pedido dos EUA e da Arábia Saudita, embora estes dois Estados se empenhem mais do que outros no combate aos terroristas do EI. Isto significa que, até hoje, não obstante as declarações dos EUA sobre a criação de uma larga coalizão antiterrorista, as ações concretas se retrocedem perante as prioridades políticas.

*Articulista na emissora pública de rádio russa