Entrevista: Dolores Feitosa, uma mulher inspiradora
Ao chegar aos 90 anos, dona Dolores Feitosa reconta histórias de luta pelo Sertão dos Inhamuns, pela democracia e pelo meio ambiente. Ela fundou, junto com o marido, Joaquim de Castro Feitosa, a Sociedade Cearense de Defesa da Cultura e do Meio Ambiente, entidade que lutou pela implantação do parque Adahil Barreto. Leia a seguir a íntegra da entrevista concedida ao jornal O Povo e publicada na edição desta segunda-feira (22/09):
Publicado 22/09/2014 09:59 | Editado 04/03/2020 16:26
Os 90 anos chegam hoje para dona Dolores Feitosa em alguns dias como mais uma visita habitual. Vêm com espírito de tranquilidade. Parecem motivá-la a querer mais da vida. A senhora nascida em Sobral (a 250 km de Fortaleza) foi viver os primeiros anos de casamento em Tauá (a 344 km da Capital), no Sertão dos Inhamuns, e lá ganhou ares de matriarca.
Ao lado do marido, Joaquim de Castro Feitosa, o Feitosinha, criou fundação e museu que deram espaço para a história da região. Juntos, defenderam o verde, a democracia, a caatinga, o Ceará. Com o falecimento do marido, em 2003, dona Dolores assumiu a presidência da Fundação Bernardo Feitosa, a “maternidade” do Museu Regional dos Inhamuns, a função de perpetuar esta história cheia de capítulos de força e luta.
A senhora nasceu em Sobral em uma família tradicional. Que lembranças tem quando pensa naquela Sobral da sua infância? Como era a relação com a sua família?
Foi uma bênção de Deus porque eu fui de uma família muito unida, muito ampla. Pra nós não era essa história só de irmão, de primo legítimo. A gente se reunia. Eu morava em Sobral e tem a Serra da Meruoca próxima, que é um clima muito agradável. Sobral é uma beleza de clima, um calorzinho (risos)… Bom, mas assim que terminavam as aulas, a gente ia para a serra. Muitos primos… Era um tempo muito agradável. Foi uma infância muito feliz. A primeira lembrança que eu tenho de qualquer coisa, que eu acho que é a mais remota de todas – imagina que idade eu teria – é meu pai me jogando pra cima como a gente joga as crianças. Eu tenho essa lembrança. Fui dotada por uma memória muito boa.
Eram quantos irmãos?
Nós éramos cinco. Não, seis. Dos cinco primeiros, pra você ver como era uma família próxima, eu era a quinta e minha mãe tinha sete anos de casada. (risos). Era uma escadinha!
Como foi a criação de vocês?
Com muito afeto, muita preocupação, mas com uma moral muito rígida. Meu pai era um homem muito correto, muito reto, preocupado com a gente, com os outros e em como proceder.
Vocês vinham muito a Fortaleza?
Eu vim com nove anos. Não. Eu tinha sete anos.
E por que vieram?
Depois que eu nasci, minha mãe fez uma promessa a São Francisco de ir a Canindé levando a família toda. E naquele tempo pra ir de Sobral para Canindé era quase como ir daqui a… Sei lá… (risos). (A promessa era) se ela demorasse a ter mais filhos. E aí não veio. Eu fiquei como caçula durante sete anos. E para ir a Canindé tinha que vir por aqui. Não tinha outro caminho. (risos) Todos foram para Canindé para pagar a promessa. Eu devia ter uns seis anos porque no fim dos meus sete anos nasceu o outro irmão (risos).
Da época de estudos o que a senhora lembra? A senhora estudou em Sobral…
Mas fui alfabetizada por minha mãe. Mas ocasionalmente, porque ela foi ensinar meu irmão, que era mais velho que eu. Mas eu não ficava longe dele até na hora que ele estava estudando. Quando a mamãe “se apercebeu”, eu já sabia (ler) e ele ainda estava aprendendo. Eu com seis anos lia correntemente. Toda vida gostei. Acho que é por isso que gosto tanto de ler. Eu já nasci pra ler.
A sua mãe deu as primeiras letras e depois vocês foram para a escola?
Fomos. Fui para o Colégio Assunção, em Sobral. Eu lembro muito que lá. Na época, como eu gostava muito de ler, chegavam umas visitas no colégio e me chamavam pra ler. O colégio já tinha propaganda neste tempo! (risos). Depois do Assunção, eu fiz exame de admissão para o Colégio Santana, das freiras. Aí fui, passei e fiquei uns seis meses. Quando foi julho, acharam que o ensino de lá não era suficientemente bom. E a outra (irmã, Judith) já estava aqui nas Doroteias. Aí vim pra Fortaleza, fiz um exame de admissão, tirei o primeiro lugar e fiquei interna.
Vocês eram cinco irmãos nesta época?
Cinco: duas mulheres e três homens. A Judith foi ser freira. Era mais velha que eu cinco anos.
Nesta época, fiz um calo no dedo e não sarava. Quando fui ao médico, ele disse que tinha que fazer exame de sangue. Tinha casos de diabetes na família. Aí eu tive que ir pra Sobral. Fiz o curso de professora, curso normal, e pensei em fazer Direito. Mas não podia. Mulher não podia fazer Direito porque tinha muito crime indecente. A família não aprovava. E Medicina piorou. Aí eu fiquei lá em Sobral ensinando, costurando, bordando…
Os irmãos tinham ido embora e só ficou a senhora?
E o pequeno. Eu cuidava dele como se fosse mãe. A gente saía dois dias na semana, domingo e quarta, e ficava rodando, não podia ficar parado nem sentado nos bancos da Praça da Ema, lá em Sobral. Papai ficava sentado e olhando. Um dia eu saí com esse meu irmão pequeno, Francisco, pra comprar botões. Quando eu vinha, encontrei o Feitosa. Ele estava passando na calçada e disse: “Passando bem, né?”, e eu disse pra ele: “Quem pode passa. Quem não pode fica olhando.”
A senhora nunca tinha o visto?
Nunca! Eu tinha 18 anos. Numa ocasião, estava tomando sorvete com umas colegas, à tarde, e notei que estavam falando (de mim). E disse: “O senhor vai me fazer um favor: estou notando que o senhor está falando a meu respeito. Eu lhe peço que pare. Nós não nos conhecemos”. Mas nada! Ele estava pedindo a outra pessoa pra “fazer a ligação” comigo (risos)! Ele tinha uma namorada que era prima dele. Mas aí começamos a nos encontrar às vezes em festinhas. Uma vez, quando eu o encontrei, disse: “Eu não gosto de repartir nada. Você tem sua noiva, eu acho que não é elegante”.
Até aí não tinha acontecido nada? Nem segurar a mão?
Menina, segurar a mão já foi depois de noiva! Ele pegou na minha mão e nós demos uma volta na avenida lá perto de casa. Nós nos casamos em 1946. Ele faleceu em 2003. E até hoje eu tenho a impressão… Impressão não. Eu procurei me conscientizar de que ele não tinha desaparecido. Que ele continuava. Porque, inclusive, eu continuei a fazer o trabalho que ele fazia.
Quantos filhos vocês tiveram, dona Dolores?
"Filhos de tempo” (gestação completa) cinco. E aborto espontâneo foram sete.
Quando vocês casaram já foram para Tauá?
Dizem que eu era louca. Ele tinha uma tia que era política e queria muito que ele fosse fazer carreira política. Mas ele não dava pra política. Mas, enfim, foi transferido pra Tauá.
Ele trabalhava onde?
Era engenheiro agrônomo, trabalhava na secretaria da agricultura. Em Fortaleza, ele fundou o departamento de engenharia rural e uma escola onde é hoje o Parque da Paz, a Escola Prática de Agricultura. Essa escola foi a primeira aqui que fez medidores de erosão.
Em 1962, a senhora foi para os Estados Unidos fazer um curso. A senhora trabalhava nesta época?
Trabalhava não. Eu fazia tudo que era curso que existia nesta cidade. Fiz de auxiliar de puericultura, curso de artesanato de umas bonecas japonesas (risos), outro de avicultura…
E como surgiu a oportunidade de ir para os Estados Unidos?
Coincidiu que, uma vez dessas, na Ancar (Agência Nordestina de Crédito e Assistência Rural), nós estávamos fazendo um curso de economia doméstica. No encerramento do curso, uma das meninas disse: “Por que você não vai para a excursão, um curso que vai ter nos Estados Unidos?”. Foram seis meses. Nós estudamos em vários estados. Quando voltei, fui trabalhar na universidade. Nesta época já tinha feito curso de inglês. Então fui ser secretária executiva e tradutora. Trabalhei lá uns quatro anos.
A senhora perdeu seu filho mais velho, Bernardo. Ele dava sinais que tinha algum problema?
Não. A gente percebeu que ele começou a diminuir as notas, ficava aéreo, isso na adolescência. O médico disse que ele não tinha ainda esquizofrenia, mas estava no limite. O Feitosa não aceitava. Ter um filho doente era uma humilhação para um homem. Bernardo faleceu com 24 anos.
A senhora considera ter aprendido algo com essa situação?
Eu aprendi que Deus manda fazer as coisas e o que acontece aos outros pode acontecer a mim. Com relação ao Bernardo, para ele foi bom ter morrido. Eu acho que Deus o beneficiou. Foi bom enquanto ele esteve com a gente. Engraçado que quando estava um pouquinho doente eu dizia: “Quem vai cuidar de mim quando eu ficar velha e todo mundo sair de casa?”. Ele dizia: “Essa obrigação é minha. Sou eu que vou cuidar da senhora”. Tenho lembrado disso ultimamente. Será que o espírito dele não está me protegendo?
A senhora lutou contra a ditadura militar. De onde veio a vontade de defender a democracia?
Minha mãe era uma pessoa que lutava muito por isso. Ditadura eu sempre fui contra. Acho que ninguém pode dominar ninguém. A gente tem que se respeitar. (Em 1968), eu fui à rua, fazer umas compras na José de Alencar. Quando vim saindo para casa, encontro a mãe do Bérgson (Gurjão), Luiza, que era minha vizinha e nós tínhamos uma associação de caridade na Piedade. E ela diz: “Dolores, me ajuda! Os meninos estão saindo em passeata e a Polícia disse que vai prender todos”. Eu disse: “Luiza, vamos para a igreja, que a igreja eles não podem fechar”. Aí quando fomos cruzando a avenida nas proximidades da igreja (do Patrocínio, no Centro), passamos por uma turma de soldados e eles disseram: “Corram porque a pancadaria vai ser grande!”. Fomos chegando na igreja e eles iam fechar as portas. Eu disse: “Ninguém fecha a porta. Casa de Deus é casa de Deus! Avisa aí pra eles (estudantes) que a igreja vai continuar aberta”. Só saímos de lá quando acabou. Não sabíamos que o Bérgson tinha sido ferido. Ele foi levantar um fusca que estava com um (coquetel) molotov embaixo, derrubaram ele e deram um chute no pescoço. Depois, os estudantes disseram que iam fazer uma passeata. Eu dizia: “Se morrem vocês, que estão se formando, quem vai tomar conta? Já pensaram nisso? Vocês não têm que morrer. Tem que tentar viver e lutar. Eu proponho ir atrás de permissão pra sair a passeata”.
Os filhos de vocês iam participar?
Não.
A sua preocupação, então, era com o filho dos outros.
Justamente. Mas eram gente, né? Bom, aí teve uma reunião na Igreja Nossa Senhora das Dores. Ao final se resolveu que eu ia falar com o governador. A gente marcou e fomos quatro pessoas. Estava o secretário (de segurança), que a gente chamava “Vaselina”. O secretário disse que se os estudantes saíssem na rua tinha 300 homens com metralhadoras para colocar em cima dos telhados durante o percurso. Eu disse: “Tem uma coisa que eu não entendo bem: do que adianta matar? Se fosse um filho de vocês? Como seria?”. E ele disse: “Então, nós vamos pensar”. E eu: “Nós asseguramos que não vai haver baderna se vocês guardarem as metralhadoras”. Nesse dia ele não disse nada. Aí eles ligaram, nós fomos lá e quando chegamos eu disse: “A proposta é tirar as forças da rua e não haverá baderna. Vai ser pacífica.” Ele disse: “Pois assina um documento”.
A senhora assinou um documento garantindo, em nome de milhares de pessoas, que a manifestação ia ser pacífica?
(risos) Porque senão não tinha… (risos) Aí vai pra rádio, chama os rapazes, as mães… E eles saíram em passeata (em junho de 1968). Eu, muito nova, 40 e poucos anos, enchi os cabelos de talco para ficar com cara de velha (risos). Foi a coisa mais linda. Todos cantando o hino nacional, as mães segurando nas mãos, indo na frente…
Quando a senhora observa o que aconteceu em 1968, vê semelhanças com as manifestações do ano passado e deste ano no País?
Há alguma semelhança de protesto, mas a diferença básica, eu acho, é a qualidade de caráter. Porque hoje a violência já é comum. Eles eram mais conscientes, eu acho. As mães estavam no meio, a família estava participando. Era um momento diferente.
A senhora acha que haveria alguma atitude pra fazer as famílias irem para as manifestações atuais?
Não por causa do caráter da violência e por causa do distanciamento da juventude da família. (Em 1968), nós conseguimos conter o que poderia ter acontecido. Eu acho que neste dia eu tive muito medo de que ninguém conseguisse. Porque tinha 21 mil pessoas… Mas foi muito lindo, muito emocionante.
A senhora e o senhor Feitosa participaram da criação da Sociedade Cearense de Defesa da Cultura e do Meio Ambiente (Socema), entidade que lutou pelo que hoje é o parque Adahil Barreto. Como a senhora vê o que se tornou o Cocó?
O que nós especificamente preservamos foi o Adahil Barreto, que faz parte do todo – não só na proximidade, mas na significação. Lá (nós fizemos um ato que) eles queriam chamar de piquenique. Nós começamos logo a mudar o nome porque piquenique é nome estrangeiro e nós temos nome em Português: convescote. Participaram 1,5 mil pessoas. Conseguimos a preservação. Ali ia ser construída a sede do Banco do Nordeste.
Quando a senhora olha o parque do Cocó hoje, que ainda não tem delimitação legal…
Eu acho que não há cuidados com o parque. Nós fizemos ato como início da defesa do parque. E eu tenho a impressão de que se a gente se fizer presente, falar, frequentar, não é possível que esse povo (o poder público) não enxergue.
Hoje, ao analisar as ações de convivência com a seca, o que acha que ainda falta para que isso seja melhor?
Eu acho que tem que aprofundar um pouco na realidade. Tem que saber que tipo de solo tem, que tipo de cultura é adaptada para aquilo… E isso a ciência pode fazer tranquilamente. Tem que estudar e executar. Porque se estuda, mas não se executa.
Qual é a origem desse seu envolvimento com as questões ambiental e social?
Isso começou principalmente na minha casa, com a minha mãe. Minha mãe botava na janela e eu me lembro de ficar ajudando a entregar café numa daquelas latinhas pequenas de doce. Passavam aquelas pessoas e a gente dava.
E as atividades do senhor Feitosa influenciaram seu interesse pela temática ambiental?
Foi. Eu sempre datilografava as coisas dele. E, datilografando, eu ia lendo. (risos) Aí aprendia e a gente discutia.
Depois do período da ditadura, vocês retornaram aos Inhamuns e havia um hábito de guardar fósseis, objetos antigos. Isso é a origem da fundação e do museu, né? Isso começou aí?
Isso começou logo quando nós casamos. Eu já vivia em um meio em que você preservava a história, os objetos, dava valor porque se usava aquilo como um sinal de importância, de grandeza. A gente casou, já apareceu uma coisinha e começou a juntar. Como ele trabalhava, viajava muito, comprava, ia trazendo e guardando em casa. A casa que construímos (em Fortaleza) tinha uma varanda grande… Vimos que tínhamos que guardar lá.
Foi ideia sua criar um museu?
Foi nossa. Todo mundo via que já tínhamos muitas coisas, tínhamos machado de pedra… Então a minha filha, Ana Maria, disse: “Mamãe, eu acho que vocês não têm o que fazer aqui. Porque vocês estão aqui, a casa é enorme, com seis quartos, salas enormes”… Aí ela disse isso e nós fomos pra Tauá levando o acervo. Lá em Tauá não tinha museu. Alugamos uma casa pra nós e alugamos outra casa para montar o museu – mas eram umas mesas e as peças cobertas com um pano. Quando o Ciro (Gomes) foi eleito (governador) foi a Tauá e perguntou ao Feitosa o que ele queria. E o Feitosa disse: “Eu quero ajeitar esse acervo porque da maneira que as peças estão vão se estragar”. Tinha esse prédio que era a intendência e a Câmara em cima e em baixo a parte prisional. Aí foi feita uma reformazinha… A fundação (Bernardo Feitosa) surgiu como necessidade de se criar uma associação pra preservar.
Qual o tamanho do acervo hoje? A senhora tem noção?
Tenho não, minha filha. Nós estamos fazendo um catálogo. Porque nós não fazemos registro das peças. Muita coisa o Feitosa sabia – e eu ainda sei com a minha memória. (risos) E eu tenho que fazer isso (catalogar). Tenho que ir pra lá ou trazer pra cá.
Como a fundação atua hoje?
Tem museu, tem biblioteca, tem alguns projetos…
O que falta pra melhorar a atuação da fundação?
É só dinheiro.
Hoje vocês têm apoio de alguma instituição?
Nós fizemos uns projetos com o Conpam (Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente), fizemos levantamento arqueológico. Porque nas proximidades de Tauá, no entorno, existem muitas inscrições rupestres. Quando teve (parceria), foi uma época em que fizemos muitos projetos. A Prefeitura, uns 18 anos atrás, dava R$ 500. Depois foi aumentando um pouquinho. Hoje está em R$ 1.000. Mas ela dá o pessoal (que trabalha na fundação). O dinheiro é pra manter, pagar luz, água, papel, alguma coisa.
A senhora sente falta de trabalhar mais diretamente lá?
Eu sinto. Muita. Tanto que quando vou a Tauá eu vou direto pra lá. Mas eu tenho que ver… Me arrependi já de participar da universidade (Sem Fronteiras, onde dona Dolores faz cursos) porque me prende na semana.
Diante de tudo que a senhora já fez e ainda faz, acha que falta fazer algo na vida pública?
Eu gostaria… Não digo que não morro sem realizar porque sou muito tranquila com as coisas quando acontecem e acho que elas têm seus caminhos. Mas eu gostaria que o museu tivesse uma melhor acomodação.
Qual lição o senhor Feitosa deixou, em sua opinião?
Ele deixou uma lição grande de persistência, mas uma persistência tolerante.
Fonte: O Povo