Colômbia: Denúncias contra ex-presidente Uribe seguem sem desfecho

Em dois informe publicados por uma agência de notícias são relembrados os diversos casos que envolvem o nome do político em supostos crimes de homicídio, massacres paramilitares, tortura, prevaricação, tráfico, abuso de autoridade, dentre outros

Por Marcela Belchior, na Adital

Uribe, o grande perdedor da Colômbia - Reprodução/Aporrea

Movimentos sociais e políticos colombianos seguem cobrando medidas judiciais para uma série de denúncias que se acumulam na Justiça do país contra o ex-presidente da Colômbia e ex-governador de Antioquia Álvaro Uribe Vélez. Em dois informes publicados pela agência de informação Colombia Informa, respectivamente nos últimos dias 24 e 26 de setembro, são relembrados os diversos casos que envolvem o nome do político em supostos crimes de homicídio, massacres paramilitares, tortura, prevaricação, tráfico, abuso de autoridade, dentre outros.

Segundo a agência, vários crimes têm sido denunciados pelo senador Iván Cepeda, filósofo por formação e defensor de direitos humanos colombiano, desde o ano de 2012. Dentre eles estão crimes ocorridos ainda nos anos 1990, envolvendo a Fazenda Las Guacharacas, propriedade do ex-presidente e seu irmão Santiago Uribe Vélez, localizada no município de San Roque, Departamento de Antioquia. De acordo com a fundamentação jurídica apresentada por Cepeda, o local abrigava uma base de um grupo paramilitar que deu origem às Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), do qual fazia parte Juan Monsalve, funcionário da fazenda.

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O senador assegura que Santiago Gallón Henao e Luís Alberto Villegas Uribe (este último assassinado em 2004), políticos, co-proprietários da fazenda Guacharacas e sócios comerciais dos irmãos Uribe, foram membros ativos de grupos paramilitares e o que desenvolviam no imóvel não eram negócios, mas sim cooptação político-militar. Inclusive, o então governador de Antioquia, Álvaro Uribe, teria autorizado a criação e o funcionamento da "El Cóndor”, cooperativa de vigilância e segurança privada com respaldo do governo, o que gerou um marco jurídico, em 1994, para que latifundiários criassem grupos armados para sua própria defesa.

A agência destaca também crimes ocorridos em 1996, como o massacre de oito comerciantes, a execução do comandante guerrilheiro do Exército de Libertação Nacional (ELN) Juan Pablo, os assassinatos de Darío Granda, Ramiro Ceballos e do irmão deste (acusados de serem cúmplices de incêndio da casa principal da Fazenda Guacharacas, de autoria do ELN, em 1995). De acordo com a Colombia Informa, todos esses crimes haviam sido executados, supostamente, com o consentimento do então governador Álvaro Uribe e de seu irmão Santiago.

No mesmo ano, foi cometida uma série de massacres contra moradores de San Roque, Cristales, Providencia e San José del Nus, todos municípios de Antioquia, no noroeste do país. O então governador, Uribe, no entanto, não teria tomado as providências necessárias para fazer frente à escalada de violência na região; ao contrário, teria justificado ou teria sido negligente diante dos crimes.

Segundo Cepeda, que também é porta-voz oficial do Movimento de Vítimas de Crimes de Estado (Movice), organização fundada em 2003 para agrupar familiares de vítimas de crimes de lesa humanidade, as instalações da fazenda teriam abrigado, além disso, um cartel de gasolina, um laboratório de produção de drogas ilícitas, como cocaína e, a 8 quilômetros da propriedade, funcionaria uma escola de formação paramilitar. "Nunca foi feita nenhuma ação para erradicar esse controle territorial por parte do então governador, apesar dos fatos ocorrerem em sua própria fazenda”, apontou Colombia Informa.

"Nunca se produjo alguna acción para erradicar ese control territorial por parte del entonces gobernador, a pesar de que los hechos ocurrían en su propia hacienda”.

Outro fato que chamou a atenção no país ocorreu em 2001, quando Álvaro Uribe era candidato à Presidência da Colômbia e participava de um ato político durante campanha eleitoral. Ele foi transportado e escoltado por paramilitares, diante da população de San José del Nus.

Lista de crimes

De acordo com a agência de notícias, as denúncias foram apresentadas há dois anos à Promotoria Geral da Nação, mas, até hoje, não se conhece nenhuma medida judicial para os casos. Foram formalizadas denúncias de homicídio qualificado, desaparecimento forçado, tortura, conluio para delinquir, falsidade em documento público, prevaricação por omissão e captura ilícita.

Além destes criemes, Álvaro Uribe foi denunciado por tráfico de hidrocarbonetos, fabricação de entorpecentes, abuso de autoridade e destinação ilícita de móveis e imóveis. As denúncias se apoiam em fotos, escrituras, registros de desaparecimento, reportagens jornalísticas e vídeos de testemunhas, e incluem Santiago Uribe Vélez, Santiago Gallón Henao e Luís Alberto Villegas Uribe.