Jornal comunista francês comenta eleição presidencial do Brasil

O jornal comunista francês L´Humanité publica nesta quarta-feira (8) comentário da jornalista Lina Sankari sobre a eleição presidencial no Brasil. Lina esteve no país na última semana da campanha eleitoral do primeiro turno.

Dilma campanha

Nesta quarta-feira, o candidato da direita, Aécio Neves, recebe o apoio de Marina Silva. Apoiado pelo mundo dos negócios, ele prega a austeridade e as privatizações.

A constatação é inapelável. Depois do primeiro turno da eleição presidencial, o Brasil está mais polarizado do que nunca. A coalizão liderada pelo Partido dos Trabalhadores e a presidenta Dilma Rousseff obteve 41,5% dos votos, ao passo que o candidato da direita, Aécio Neves, do PSDB, alcançou 33,5%, e a ecologista neoliberal e conservadora Marina Silva, 21,3%. Ou seja, os dois têm um escore somado de 54,8%. A batalha do segundo turno, previsto para 26 de outubro, se anuncia mais dura do que a campanha do primeiro turno, que já foi de uma violência extrema contra o PT.

Aécio Neves, economista e produto da elite política, passou para o segundo turno vendendo a ideia de que ele seria o único em condições de livrar o Brasil do “lulismo” e de uma política econômica que, malgrado seus paradoxos, baseia-se no progresso social. Isto é insuportável para o mundo dos negócios e a mídia que massivamente tomaram posição por Aécio Neves (testemunhando isso, houve uma forte alta nos mercados financeiros brasileiros logo em seguida ao anúncio dos resultados). No outro polo social, “a consciência de classe ainda está em construção”, opina José Reinaldo Carvalho, membro do Secretariado Nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

Até recentemente, Aécio Neves era pouco conhecido fora das fronteiras do estado de Minas, onde foi governador. Na linha de direita do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ele construiu sua campanha em torno da austeridade, das privatizações e da independência do Banco Central. Aos seus olhos, o intervencionismo encarnado por Dilma Rousseff é responsável pela inflação. Esta, porém, está controlada (5,8% hoje, contra 1000% sob Itamar Franco e 12,5% ao final da era Cardoso). Assim, o Brasil se prepara para “um dos combates mais duros de sua história política”, segundo Renato Rabelo, presidente do PCdoB.

Aécio Neves acusa igualmente o governo de ter conduzido uma política externa “ideológica”, por ter privilegiado a integração regional (Mercosul, Unasul etc.), o desenvolvimento das relações Sul-Sul (Brics, África, países árabes …), a emancipação em relação à tutela estadunidense, o que permitiu ao Brasil se afirmar no cenário mundial.

Marina Silva, com seus 22,1 milhões de votos, deve confirmar nesta quarta-feira (8) sua proximidade doutrinária com Aécio Neves dando-lhe apoio.

Basta dizer que se trata de uma “frente anti-PT” agressiva e disposta a ganhar custe o que custar.

Lina Sankari