Artigo | Ceuci Nunes*: Sou médica e voto Dilma

No momento atual, um médico declarar apoio a Dilma é encarado como uma blasfêmia e ainda mais uma médica que há mais de 20 anos milita nas entidades médicas, como Conselheira do CREMEB e Conselheira Suplente do CFM até 30 de setembro passado, mas gostaria de justificar a minha escolha.

Entrei no CREMEB pelas mãos de Carlos Marcílio, Fernando Vasconcelos e Gil Freire. Nestasentidades aprendi muito de medicina e da vida, pois por ali nos debruçamos avaliando técnica e eticamente os problemas dos médicos e do sistema de saúde. Convivi e participei de debates com Conselheiros de vários matizes ideológicos – da direita à esquerda – e essa diversidade tornava as discussões ricas e instigantes. Sempre tive minha opinião respeitada e respeitava as demais. Agora, pelas inúmeras manifestações expressas nas redes sociais, o que parece é quererem tornar as entidades de uma única cor, o que com certeza não representa a categoria médica de forma expressiva, assim como não representa a sociedade brasileira.

Voto em Dilma, pois entendo que o projeto que ela representa é o melhor para o povo brasileiro e isto está demonstrado na melhoria dos indicadores de saúde (queda importante da mortalidade infantil e aumento da expectativa de vida, aumento do IDH, entre tantos outros) e na saída do Brasil do Mapa Mundial da Fome. Tenho que ser coerente com a minha trajetória de esquerda desde a Faculdade de Medicina e não posso votar no candidato que defende o neoliberalismo que representa o Estado mínimo. Acho que o Estado tem que ser do tamanho que possa garantir serviços básicos de qualidade ao cidadão, ainda que reconheça que ainda temos um grande caminho a trilhar para que isto se concretize, especialmente na saúde.

Grande parte da categoria médica está contra Dilma, pois atribui a ela atos de desrespeito e “demonização” da profissão. Não pactuo com este sentimento. A lei homologada do Ato Médico foi um avanço reconhecido pelo CFM e representou a força da representação e o “lobby” das várias profissões de saúde no Congresso Nacional. Neste ponto o CFM pecou, uma vez que as negociações com as demais profissões de saúde foram postergadas e quando foram iniciadas a resistência não pode mais ser vencida.

Quanto ao Programa Mais Médicos, foi uma resposta a uma necessidade imperiosa da população levada ao Planalto por prefeitos de todo o Brasil e de todos os partidos. É uma medida temporária, paliativa e tem vários problemas. Neste contexto existiu uma enorme inabilidade de ambas as partes (governo e entidades) na condução das negociações. A presidente foi muito mal assessorada e acabou induzindo a uma reação, que entendo que muitas vezes foi exacerbada e acima de tudo partidarizada, coisa que nunca havia visto em toda a minha trajetória no movimento médico. Nem quando fomos comparados por um governante a sal, que é “branco, barato e existe em todo lugar”, a reação foi tamanha.

Não concordei quando em represália, o CFM resolveu se retirar de todas as representações dos órgãos governamentais, inclusive das Comissões Técnicas do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Saúde. Entendo que os médicos têm muito a contribuir, pelo conhecimento e papel destacado na área de saúde e independente do partido que esteja governando, este espaço precisa ser ocupado.
Felizmente minha opção por Dilma 13, representa também a opção da minha mãe (onde ela esteja), do meu pai, meus irmãos e de grandes amigos.

Tenho também amigos queridos que por raiva ou ideologia estão apoiando o projeto defendido por Aécio Neves, respeito esta opção. A democracia é assim. Dia 26 teremos a decisão das urnas e que seja feita a vontade do povo brasileiro.

Parafraseando Geraldo Vandré, que no calor de uma disputa disse a frase histórica de que “a vida não se resume a festivais”, digo “a vida não se resume a eleições”. Ganhe quem ganhar temos um Brasil ainda desigual a transformar.

*Ceuci Nunes é médica Infectologista (CREMEB 8876), mestre e doutora em Medicina e Saúde pela FAMEB/UFBA, e professora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.