Aécio discursa e procura levar adiante o "terceiro turno"

Visivelmente nervoso e após atraso de algumas horas, o senador Aécio Neves, candidato derrotado nas eleições presidenciais pelo PSDB de Minas Gerais, fez na tarde desta quarta-feira (5) um discurso cheio de lamúrias, dando continuidade à campanha pós-eleitoral da oposição.

Aécio Neves - Geraldo Magela/Agência Senado

Sem ter desmontado ainda o palanque eleitoral, Aécio continua chamando a presidenta reeleita Dilma Rousseff de "adversária", e conduziu um verdadeiro Jus Sperniandi no púlpito do Senado.

Movido pelo rancor, reclamou das supostas "mentiras" utilizadas contra si na propaganda eleitoral. Reclamou também da elevação de juros, o déficit das contas públicas e o reajuste das tarifas públicas, medidas que um governo seu realizaria de imediato, visto que no início da campanha avisou ao eleitorado que "tomaria medidas populares". Algo que foi vocalizado pelo seu então "ministro" da Economia, Armínio Fraga, que também afirmara que o salário mínimo "estava muito alto".

O ex-governador de Minas Gerais também vituperou contra a corrupção. Mas o seu discurso não cola, visto que tem processos contra seu governo em andamento em Minas Gerais, como por exemplo, o desvio de verbas da Saúde do Estado.

Aécio disse que vai fazer oposição ferrenha e fará a defesa intransigente da liberdade de imprensa. O contraditório é que no comando de seu governo acionou seus colegas, donos de veículos de comunicação, para demitir profissionais que tinham publicado artigos ou materiais considerados negativos para si.

Há também 66 usuários do Twitter que foram processados pelo ex-governador de Minas Gerais sob a acusação de que teriam difamado a imagem do político por meio de uma rede que compartilha e cria “conteúdo ilícito, ofensivo e mentiroso”.

Eles utilizaram fontes críveis em suas publicações para criticarem o governo de Aécio, por exemplo, na piora da segurança pública, mostrando que a criminalidade no estado elevou-se em 52% durante a gestão de Aécio. Também exploraram os casos de nepotismo do senador no governo mineiro, que podem ser confirmados em várias fontes. Um dos atingidos pela ação, o blogueiro Altamiro Borges, afirma que o senador “é o rei da censura em Minas Gerais e, se fosse na época da ditadura, ele poderia ser um grande general”.

O candidato derrotado à Presidência criticou a militância que fez a campanha de Dilma, chamando-a de "exército pago nas redes sociais", quando seu partido é reconhecido por utilizar "militantes" pagos nas ruas, além de utilizar robôs nas redes sociais.

Outro momento ruim de Aécio é a crítica que fez ao decreto sobre a participação popular. O decreto é uma resposta ao movimento surgido em junho de 2013 e que preconizava uma maior participação popular no governo do país. A medida foi alvo da mídia corporativa e da direita, que abomina qualquer forma de participação que não seja por meio de seus escolhidos no Congresso. Para Aécio, o decreto "não é válido" porque não foi feito com "os representantes do povo", os deputados e senadores.

Continuou fazendo o discurso do ódio, fazendo críticas contra o documento que o Partido dos Trabalhadores publicou mostrando que sua candidatura representava o atraso e o retrocesso democrático. Seus apoiadores têm ido as ruas ultimamente para defender o impeachment da presidenta Dilma e a volta da Ditadura Militar.

Em seguida a seu discurso vários senadores fizeram apartes, a maioria a favor do candidato derrotado. Porém, o senador Humberto Costa, do PT de Pernambuco, trouxe Aécio Neves de volta à realidade, rebatendo a reclamação do oposicionista de que teria sofrido uma campanha agressiva contra si.

"Agressiva foi a campanha do PSDB. Até porque não foi apenas por parte do PSDB. Foram outros setores que em tese não eram diretamente interessados, mas que usaram os seus espaços para favorecer a candidatura dele", disse Humberto.

Segundo o líder do PT, "o maior escândalo de todos" foi a revista Veja que circulou na quinta-feira anterior ao segundo turno, com capa alegando que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff teriam conhecimento da corrupção praticada dentro da Petrobras.

"Uma matéria falsa. Uma matéria que não corresponde à realidade e já foi desmentida pelo próprio advogado do doleiro e que buscava interferir no resultado da eleição. Isso sim é escandaloso", afirmou Humberto.

De acordo com o senador petista, os governistas estão abertos para debater “uma pauta para o país”, mas disse que a oposição precisa primeiro “serenar um pouco os ânimos” e reconhecer que a eleição não tem dois resultados.

O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, disse há alguns dias que o discurso de Aécio, em outras ocasiões, "é típico de quem perdeu o jogo e diz que a culpa é do juiz."

Do Portal Vermelho