Andrei Fedyachin: Ucrânia volta a sonhar com a Otan

Kiev voltou a sonhar com o ingresso na Otan. O premiê, Arseni Iátseniuk, procura fazer passar pelo novo parlamento emendas constitucionais que visam alterar o estatuto ucraniano de não-alinhamento. Esse será o primeiro passo a ser dado rumo à filiação na Aliança Atlântica.

Por Andrei Fedyachin*, na Voz da Rússia

Símbolo da Otan sobre a bandeira ucraniana - Colagem da Voz da Rússia

No caso de eventual mudança de estatuto, se colocará a questão da concessão de garantias de não ingresso da Ucrânia na Otan, anunciou, esta quinta-feira em Moscou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Alexander Lukachevitch. É óbvio que tais garantias serão indispensáveis para a Rússia, já que, no caso de admissão, ela terá de proceder à revisão de sua política militar.

Seja como for, a questão da filiação deve ser resolvida pelos ucranianos e não pelo chefe de governo, disse o dirigente da filial ucraniana do Instituto da CEI, Denis Denisov:

“Arseni Iátseniuk faz declarações precipitadas. Não lhe compete definir os futuros passos da Ucrânia – se estes serão dados rumo à Otan ou em qualquer outra direcção, se irá a Ucrânia mudar o seu actual estatuto neutro ou não. Para tal será necessário realizar uma consulta popular”.

No parecer do primeiro vice-presidente da Duma de Estado, Oleg Morozov, a incorporação de Kiev na Otan parece muito problemática:

“Nem a Ucrânia, nem a Aliança Atlântica, estão prontas para a integração da Ucrânia na Otan. Para aderir à Aliança será necessário cumprir uma série de exigências. Umas delas é a ausência de conflitos com os países vizinhos. Esse é um condicionalismo importante que hoje impossibilita a adesão da Ucrânia a esse bloco político-militar.

Mais um requisito a preencher se refere aos padrões vigentes ao abrigo da Otan. Ora, se trata de um programa de longo prazo. Em termos econômicos, a Ucrânia não está pronta para efetuar programas de rearmamento em plena consonância com as normas da Otan por possuir a dívida externa no valor de US$ 138 bilhões, quase igual à da URSS em 1991”.

Segundo declarou há dias a chanceler alemã, Angela Merkel, a questão do ingresso não foi examinada. Entrevistada pelo canal televisivo ARD, assinalou ser possível “uma colaboração bilateral, embora a questão da entrada nem tenha sido incluída na agenda”.

Na primeira fase, Kiev terá que introduzir alterações à Constituição e revogar o seu estatuto de neutralidade, sustenta Serguei Ermakov, analista do Instituto de Pesquisas Estratégicas:

“Para que servem estas mudanças? A nova direcção ucraniana não se sente capaz de acabar com a difícil situação na política externa. E quase não tem forças para resolver os problemas econômicos realmente graves. Daí, uma tentativa de inverter e recanalizar o descontentamento popular para a esfera de política externa. Por outras palavras, apresentar a Rússia como um inimigo do qual será preciso fugir para a Otan”.

De acordo com o periódico alemão Die Welt, a Otan encara a hipótese de realizar, no próximo ano, manobras militares sem precedentes perto da fronteira russa. Seus prazos e qual o país a acolher os participantes ainda não foram definidos. Segundo fontes do comando da Otan, as manobras irão abranger um contingente de 25-40 mil soldados e oficiais de vários Estados-membros.

Até hoje, os exercícios dessa envergadura tinham sido levados a cabo somente nos países ocidentais da Aliança, perto das maiores bases militares e centros de aquartelamento das tropas.

*Articulista da emissora pública de rádio Voz da Rússia

Fonte: Voz da Rússia