Economistas defendem mais participação popular nas decisões do Governo

Ladislau Dowbor e Marcio Pochmann participaram do evento que discutiu o plano de governo do governador eleito Camilo Santana (PT). Dowbor defendeu que o Estado brasileiro amplie instrumentos de participação direta da população. Já Pochmann considera o protagonismo do Nordeste na atual correlação de forças nacionais. Leia a seguir a íntegra das entrevistas publicadas pelo jornal O Povo nesta segunda-feira (24/11):

Ladislau Dowbor: “O povo precisa ter governo em rédea curta"

Um dos maiores ideólogos do planejamento nas gestões do PT no País, o economista Ladislau Dowbor defendeu neste fim de semana que o Estado brasileiro amplie instrumentos de participação direta da população. Ele esteve no último sábado (22) em Fortaleza, onde participou de evento do plano de governo de Camilo Santana (PT).

Segundo o economista, o Brasil passou por desenvolvimentos marcantes nos últimos anos, mas ainda peca no ajuste desses avanços à participação da população nos processos decisórios. Neste sentido, seriam necessárias novas “rédeas curtas” da população sobre o governo.

O economista destacou que, quando se amplia meios institucionais de participação, se impede também que o governante se sinta “dono” do governo. Ele destaca que ações podem gerar “incômodos” nas elites tradicionais, mas que o País segue avançando no sentido propositivo.

Plano de governo

Quase um mês após ser eleito, Camilo Santana (PT) iniciou neste sábado etapa final da elaboração de seu plano de governo. Na ocasião, o petista participou de palestras e lançou propostas que serão validadas em conferência marcada para os dias 2, 3 e 4 deste mês.

Entrevista

O Povo: Por que ampliar a participação nos governos?

Ladislau Dowbor – Quando se criam ações de participação, como conselhos de representantes, se cria correias de transmissão entre a população e o processo decisório do governo e das grandes empresas. Gera democracia de rédeas mais transparente e de rédeas mais curtas, que é o que precisamos, pois com rédea solta a gente já viu o que acontece.

O País avança nesse sentido?

O Brasil está se desenvolvendo muito rapidamente, então agora temos que ajustar os processos decisórios, que é como funciona efetivamente o governo, a essas novas realidades. Não temos mais população onde tem gente formada que decide e lá embaixo pessoal ignorante, peão. Qualquer pessoa sabe hoje, por mais modesta, que tem direito de uma saúde decente para sua família, escola para seus filhos.

Quais seriam essas novas realidades?

Não dá para participar só se mobilizando aos milhões na rua. Você tem que criar conselhos, sistemas de participação direta, na linha do plano nacional de participação, de maneira que as decisões, uso dos recursos, se aproxime do que a população necessita.

Quais são as consequências dessa ação?

Quando se estrutura dessa maneira, pode mudar o prefeito, o governador, que ele não vai poder passar por cima e dizer “esse é o meu projeto”. Ele vai ver que é um servidor da população, que precisa discutir com ela.

Marcio Pochmann: "Nordeste e Ceará são protagonistas"

Uma das principais cabeças pensantes da política econômica do PT, o ex-presidente do Instituto de Economia Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, disse que estados do Nordeste caminham hoje para se consagrarem protagonistas de uma nova correlação de forças nacionais.

Participando de evento do plano de governo de Camilo Santana (PT), Pochmann destacou que existe hoje uma “crise do são paulismo”, que estariam transformando o Nordeste na nova “locomotiva” social e econômica do País.

“O Nordeste acumula hoje uma combinação de expansão, através do investimento público e também pela presença crescente do setor privado, através do deslocamento de investimentos de outras regiões do país e do mundo. Isso faz dele portador dessa perspectiva, de que o Nordeste e o Ceará se consagram com um protagonismo especial nessa nova construção”, diz.

Pochmann reforça ainda que, apesar de ainda possuir maior base econômica do País, São Paulo não seria capaz de responder aos anseios da população. Isso teria sido representado inclusive na ausência de candidato do Estado na eleição deste ano.

Ele destaca que, apesar de ter conseguido deslocar a balança econômica e social, a região ainda não possui esta mudança bem expressada no ponto de vista político. “É preciso deixar a questão local e unir setores sociais em articulação política de expressão nacional, formar lideranças com maturidade, capazes de liderar projeto para o País”, avalia.

Apesar do otimismo, Pochmann destaca que a região precisa, nessa nova correlação de forças, evitar “erro histórico” de misturar o “novo e o antigo”. “O Brasil no passado cometeu erros desse tipo, de trazer o novo ao lado do velho. Essa tradição precisa ser rompida”, diz. (CM)

Fonte: O Povo