Protestos nos EUA exigem atenção a problemas raciais

Uma nova onda de manifestações surgiu nos EUA após a decisão do tribunal do júri de não indicar o policial Darren Wilson como acusado do homicídio do jovem negro Michael (Mike) Brown, em 9 de agosto deste ano. Sem ser ainda um empasse, a situação exige uma solução.

Por Amarildo Torrizelli, na Voz da Rússia

policia ataca em ferguson - Reprodução

A nova onda de protestos que reivindica os direitos humanos da população negra dos EUA era bem esperada. O país aguardava com esperança e impaciência uma decisão que admita não uma falha do sistema. Não existem sistemas completamente regulares e sem falhas. Mas o sistema não quis se reprovar.

Foi isso que notou uma participante da manifestação em Ferguson citada pela mídia estadunidense: “O sistema nos falhou de novo”.

Como resultado, dezenas de cidades por todo o país se levantaram para reprovar eles próprios o sistema. Fotos publicadas na mídia e nas redes sociais mostram adesão não só de pessoas negras, mas também participação ativa de brancos contra a impunidade de uma pessoa que matou outra pessoa sendo policial.

As manifestações solidárias não pararam de crescer durante a noite inteira. Da costa Atlântica à costa Pacífica do país, manifestantes ocupavam praças, fechavam rodovias, jogavam garrafas contra carros da polícia, punham fogo a prédios, faziam pilhagem em lojas. Uma manifestação que quis ser pacífica até o fim desembocou em uma onda de desordens cujo objetivo é protestar contra o sistema.
Agora, a cidade de Ferguson é ocupada por forças armadas federais que foram convocadas pelo governador Jay Nixon para restabelecer a ordem pública.

Uma jovem que está acompanhando os protestos no Twitter fez na madrugada o seguinte post sarcástico: “Sim, destrua o seu próprio bairro, fica ótimo”. A animação mostra um supermercado pegando fogo e sendo vandalizado durante a manifestação.

A polícia também responde com violência. Testemunhas informam sobre balas de borracha e gás lacrimogêneo em diversos locais. Já na manhã da terça-feira (25) houve relatos afirmando que a polícia teria invadido uma igreja destinada para o refúgio de cidadãos.

Decisão às cegas e hesitação do presidente

A decisão do júri, composto por nove pessoas brancas e três negras, optou por não reprovar a conduta do policial branco que matou uma pessoa negra. A principal causa reside na pouca claridade da situação em questão. Várias testemunhas, citadas pela mídia internacional, afirmaram que não tinham visto o que foi exatamente que passou.

O acontecimento, desta maneira, fica na incerteza. Mike Brown podia estar ameaçando o policial, fugindo ou se rendendo. O evidente é que foi morto.

A causa principal do protesto atual parece ser a impunidade de um homicida. Os interessados estavam na espera de uma decisão que advogue pela igualdade entre os cidadãos comuns e os policiais, encarregados de manter e vigiar a ordem.

No entanto, o fato de o caso inicial ser a morte por arma de fogo de uma pessoa negra faz ressuscitar o receio do racismo. Houve reclamações da composição do júri que não acusou Wilson, por ter ele somente três negros.

No entanto, Barack Obama, ao comentar a decisão do júri, destacou que os EUA são “uma nação construída sobre a supremacia da lei”. “Nós também temos que concordar que esta decisão era uma tarefa do júri. Há norte-americanos que concordam com ela e há norte-americanos que estão profundamente frustrados, até ofendidos”, adicionou em um discurso da segunda-feira.

No seu discurso, o presidente apelou para uma solução pacífica e “construtiva”, colocando como exemplo os familiares de Brown, que também pediam diálogo. Porém, a mãe de Mike Brown é frustrada também. Segundo uma publicação no The New York Times, ela gritou, saindo do local onde foi anunciada a decisão, a um grupo de policiais: “Vocês estão errados, vocês sabem que têm culpa!”

Perguntado sobre se pretende ir a Ferguson quando as coisas se acalmarem lá (e provavelmente quando abra o aeroporto, que agora ficou fechado por ordem do governo local para evitar escalada das desordens), Obama evitou uma resposta direta, repetindo que é preciso “diálogo construtivo” e dizendo que quer “ser parceiro da população local”.

Situação suspensa

Ninguém pronunciou a palavra “aprovado” em relação a Darren Wilson. A sociedade exige que a polícia reconheça que age por vezes com excesso de violência e diminua o seu nível.

Os EUA são chefiados por um afro-americano, e aquelas eleições que o escolheram foram consideradas como uma vitória do povo estadunidense. O primeiro presidente negro da história do país participou de vários enredos herdados dos presidentes anteriores, mas parece que nestas circunstâncias, ele tem uma chance de ganhar uns pontos para a sua imagem virando um pouco para a política interna.