Putin: Rússia não pretende atacar ninguém, mas irá se defender

O presidente russo, Vladimir Putin, no decorrer de uma reunião com os dirigentes militares do país, nesta quarta-feira (26), em Sochi, voltou a definir claramente a posição da Rússia na política mundial. A ideia principal da parte política da declaração de Putin é que Moscou não tenciona atacar ninguém, mas tão pouco permitirá envolver a Rússia em intrigas geopolíticas.

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Como qualquer outra declaração do presidente russo, esta última deve ser considerada através do prisma dos acontecimentos em rápido desenvolvimento na Europa, e em especial no contexto do que está acontecendo dentro e em torno da Ucrânia.

A Rússia, segundo deu a entender Vladimir Putin, não está mostrando nenhuma agressividade, não está cercando ninguém com bases, mas está disposta a defender a sua própria segurança e de seus amigos por todos os meios necessários.

“Nós não estamos ameaçando ninguém, e não tencionamos nos envolver em quaisquer jogos geopolíticos, intrigas, e muito menos em conflitos, seja como ou quem nos queira neles envolver. Ao mesmo tempo, é necessário proteger de forma segura a soberania e a integridade da Rússia, a segurança dos nossos aliados. E chamo especial atenção para a necessidade de uma abordagem abrangente e de uma combinação dos esforços de todas as estruturas de poder estatal na resolução de problemas no domínio da defesa nacional”.

Em Sochi, Vladimir Putin realizou uma série de reuniões importantes com militares russos sobre assuntos de desenvolvimento do setor militar e de planejamento militar. O presidente russo falou algumas semanas antes de serem publicados esclarecimentos sobre a doutrina militar da Rússia. A doutrina vigente foi adotada em 2010. Mas a crescente agressividade da Otan, os problemas da defesa antimíssil norte-americana na Europa, as escapadelas da Otan e de Washington na Ucrânia mudaram completamente a natureza dos perigos militares e das ameaças geopolíticas.

Os especialistas não precisam “decodificar” as palavras do presidente, diz o professor Vladimir Shtol. Durante toda a década de 2000, a Rússia tem enfrentado tentativas de envolvê-la ora na guerra no Afeganistão, ora na guerra na Líbia, ora no confronto entre o Ocidente e o Irã, ora diretamente no conflito na Síria. Agora os Estados Unidos estão tentando transformar a crise ucraniana num conflito “constantemente ardendo em fogo lento”. A nova doutrina, acredita Vladimir Shtol, deve dar a Moscou ferramentas adicionais para manobrar em condições geopolíticas em rápida mudança, pontos de referência mais bem definidos.

“Primeiro de tudo, ela vai marcar a passagem da dependência de importações, a substituição de importações e uma maior utilização de seus próprios desenvolvimentos técnico-científicos, experimentais e construtivos. Deve ser fixado o aperfeiçoamento do escudo nuclear estratégico do país, o desenvolvimento de armas convencionais. Em princípio, não veremos nada de particularmente novo. Mas será claramente fixada uma mudança no sentido do reforço do componente militar da política externa”.

Depois do golpe de Estado organizado pelos Estados Unidos em Kiev, após o início de uma nova ofensiva da Otan em direção às fronteiras da Rússia, peritos russos começaram a dizer abertamente que a versão atual da doutrina está irremediavelmente ultrapassada. Ela contém expressões demasiado diplomáticas. Elas eram baseadas nas expectativas não concretizadas de parceria com os EUA e a Otan. Agora que as relações com o Ocidente estão extremamente tensas, é necessário indicar claramente de onde provêm as ameaças, o que elas são e quem é seu iniciador.

Entre outras coisas, a doutrina definirá em mais detalhes o desenvolvimento do Ártico, a criação de forças de Defesa Aeroespacial e a substituição de importações por causa das sanções contra Moscou.

Fonte: Voz da Rússia