SSA: PCdoB publica documento sobre eleições e diretivas políticas

A reunião do pleno Comitê Municipal de Salvador, realizada na última terça-feira (9/12), debateu o texto elaborado pela Comissão Política – intitulado Pra Salvador seguir com Dilma na defesa da quarta vitória do povo Brasileiro – e o aprovou, por unanimidade, após emendas elaboradas por dirigentes terem sido acatadas.

O texto traz dados e informações relativas ao último processo eleitoral e aos anteriores – a partir de 2002 –, com ênfase na capital baiana.

Publicamos abaixo a íntegra do documento, que deve ter ampla divulgação nas bases do Partido.

"Pra Salvador Seguir com Dilma na defesa da quarta vitória do povo brasileiro!

A quarta vitória do povo brasileiro com a reeleição da presidenta Dilma Rousseff, afirma o mais duradouro ciclo comandado por forças democráticas de centro-esquerda no Brasil. As eleições de 2014 entrarão para a história como a mais acirrada disputa presidencial travada neste mais longo período de redemocratização. O bloco de partidos da coligação Com a Força do Povo (PT / PMDB / PCdoB/PSD / PP / PR / PROS / PDT / PRB), que apoiou a presidenta, enfrentou uma campanha dura e suja, mas conseguiu impedir o retrocesso personalizado no candidato derrotado do PSDB, Aécio Neves. Este, sustentado por um bloco de forças reacionárias, direitistas, tinha o nefasto propósito de restaurar e fortalecer a agenda neoliberal que privilegia os interesses de mercado e sacrifica os direitos sociais da maioria dos brasileiros.

Neste cenário, chama a atenção a atitude autoritária e golpista da grande mídia, que atuou mais uma vez como o maior e mais poderoso partido político de oposição. Um verdadeiro bombardeio midiático se deu na tentativa de inviabilizar o nosso governo e de impedir a reeleição de Dilma. A bandeira da corrução, que jamais saiu dos holofotes nesses 12 anos, foi potencializada tendo como centro o escândalo da Petrobrás. Na véspera da votação do segundo turno, a revista Veja chegou ao cúmulo de antecipar a edição que sairia no domingo, para a sexta-feira, trazendo matéria de capa com supostas denúncias do doleiro Youssef, que responsabilizava a presidenta Dilma e o ex-presidente Lula pelo esquema de desvio de recursos da estatal. A presidenta respondeu à altura ocupando o último programa do horário eleitoral para desqualificar as falsas denúncias e alertar ao povo sobre a explicita tentativa de golpe eleitoral orquestrado pela Veja.

Dilma começou o primeiro turno liderando as pesquisas, enquanto Aécio ocupava um distante segundo lugar e Eduardo Campos não conseguia ultrapassar os 6%. Entretanto, com o inesperado acidente aéreo que ceifou a vida do pessebista, Marina Silva, que era vice de Eduardo, passou a ocupar o posto de candidata e cresceu rapidamente, ultrapassando Aécio e disputando palmo a palmo com Dilma, beneficiando-se da onda de comoção que envolveu larga parcela do eleitorado.

Mas o debate programático e a estratégia de propaganda da campanha da presidenta, se encarregaram de mostrar ao povo brasileiro o engodo que Marina representava. O projeto econômico da candidata mais se aproximava das receitas neoliberais, chamando a atenção a forte defesa da autonomia do Banco Central, absurda concessão ao mercado, que traria consequências nefastas à vida dos trabalhadores, caso lograsse êxito.

No decurso da campanha, o confronto das agendas econômicas foi vencendo o mantra da corrupção. Ajuste fiscal, revisão da política de fortalecimento dos salários e de valorização do salário mínimo, aumento de juros, cortes de gastos públicos, foram a tônica da agenda econômica dos nossos adversários, desmascarada pela nossa candidata, que demonstrou conhecimento técnico e mais habilidade política nos debates. A afirmação de uma agenda econômica que defende o desenvolvimento com inclusão social, a defesa da soberania do Brasil no concerto das nações e as propostas de investimentos em áreas estratégicas, fez da candidata petista a melhor opção para a maioria do eleitorado. Fechamos o primeiro turno das eleições com Dilma na dianteira com 41,59% dos votos, Aécio Neves com 33,55% e Marina Silva (PSB) 21,32%.

No segundo turno, a vitória de Dilma (PT) com 51,48% dos votos válidos contra Aécio Neves (PSDB), que somou 48,52%, ganha especial dimensão se levarmos em conta o terrível bombardeio da mídia e o fato de estarmos indo para o quarto mandato deste bloco de forças políticas.

O papel da militância, dos movimentos sociais nas redes e nas ruas foi fundamental. O risco de retrocesso, de perda de importantes conquistas sociais, reacendeu a chama dos mais diferentes setores: trabalhadores urbanos e da zona rural, juventude, mulheres, negros, indígenas, LGBT … Todos se uniram em defesa do Brasil, ao garantir a continuidade do atual governo, por um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento.

Ganhamos a eleição e é preciso avançar na luta em defesa do governo e das reformas estruturais

A oposição pautou um terceiro turno e não consegue descer do palanque. O aparato da mídia e outras poderosas estruturas associam-se ao PSDB e buscam sabotar a governabilidade. A direita não dá trégua e procura fazer com que o escândalo na Petrobrás atinja os pilares e o comando do governo. O objetivo dessa gente é inviabilizar o mandato da presidenta Dilma ou impedir que Lula possa voltar em 2018.

Por isso na reunião do Comitê Central do nosso partido afirmamos a prioridade de a presidenta Dilma repactuar a sua base de governo; que haja mais protagonismo dos movimentos sociais e que seja feita a reforma da mídia e a reforma política democrática.

Considerando a grave crise política em curso, o CC apontou que é necessário “agregar e pôr em ação todos os que tenham afinidade e compromisso com as bandeiras da esquerda, Sejam partidos ou setores deles, os diversos movimentos sociais, as centrais sindicais dos trabalhadores, personalidades, intelectuais e artistas progressistas para respaldar e impulsionar o governo Dilma a realizar as reformas estruturais”.

Importante a conclusão de que “o PCdoB reforçará sua identidade de esquerda, como integrante do governo, cada vez mais proativo, no diálogo, na participação, na ação política e de massas, na mobilização social e na luta de ideias, para disputar política e ideologicamente amplas camadas do povo e dos trabalhadores, com suas marcas distintivas”. Diante disso, é necessário fazermos esforços no sentido de transforma o discurso em ação construtiva do nosso partido nos diversos espaços da vida social. Para isso, a militância, nosso maior e mais essencial patrimônio, precisa estar sintonizada com os desafios da atualidade para fazer valer o crescimento e o fortalecimento do PCdoB e garantir o êxito do projeto popular em curso no Brasil.

Rui vence de virada em Salvador

Salvador se destacou na eleição majoritária de maneira alvissareira! Contrariando as pesquisas, na capital baiana, o candidato Rui Costa (PT) venceu Paulo Souto (DEM), candidato do prefeito ACM Neto, com 54,53% dos votos, ganhando em quase todas as zonas eleitorais, exceto na Barra e na Pituba.

Após vencer as eleições de 2012, ACM Neto entrou em cena de maneira arrojada se posicionando como o grande articulador da chapa que disputaria o governo do Estado e que seria o palanque de Aécio Neves na Bahia. O herdeiro da velha oligarquia carlista ganhou ares de gigante, liderando Paulo Souto e Geddel Vieira Lima e escolhendo qual deles iria disputar o governo e o senado.

O PSB se apresentou como uma terceira alternativa. O partido saiu do governo Wagner já no final de 2013. Lídice da Mata foi a candidata a governadora, e a ex-presidente do CNJ, Eliana Calmon, membro da REDE, foi candidata a senadora, garantindo assim o palanque que seria de Eduardo Campos e que, após a tragédia, passou a ser ocupado pela candidata Marina Silva. Seu discurso foi fortemente marcado por um viés oposicionista, mas Lídice não conseguiu o seu intento de crescer como terceira via. Chegou ao final da eleição com apenas 6,62% dos votos e a sua candidata ao senado com 8,41%.

A disputa na Bahia começou com Rui, Costa e Otto Alencar (candidato a senador pelo PSD) ostentado menos de 10%, enquanto Paulo Souto e Geddel (candidato a senador pelo PMDB) já ultrapassavam a casa dos 30%. O cenário começou a virar quando iniciou o horário eleitoral e Rui pode se apresentar à população, expor suas ideias e propostas e fazer o debate político se diferenciando do seu principal adversário, o que o fez crescer enormemente, principalmente nos últimos 15 dias da eleição. A disputa dura e suja que se deu na campanha presidencial, repetiu-se na de governador. O caso Dalva Sele, denunciado também pela revista Veja, foi usado por Paulo Souto em seu programa de TV na tentativa de desconstruir Rui Costa nos últimos dias da campanha, mesma tática usada contra Dilma. Mas a equipe de campanha de Rui agiu rápido, processou a Revista e conquistou direito de resposta na TV.

O carlismo manteve sua aposta no vale tudo. Assim como na eleição de 2006, o IBOPE errou feio. O instituto manipulou claramente os dados das pesquisas em favor do candidato Paulo Souto, durante quase toda a campanha. Na véspera da eleição, revelou um suposto empate para não admitir que Rui estava na dianteira. Já o Instituto BABESP, de propriedade do deputado Marcelo Nilo, fez o contraponto e apresentou pesquisas que retratavam a tendência de crescimento e de possibilidade de vitória do candidato Rui Costa e do candidato a senador Otto Alencar, o que se confirmou nas urnas.

Salvador não se dividiu. As vitórias de Rui e Otto e de Dilma foram grandiosas e desconcertantes para o herdeiro de ACM e para o arrogante Geddel, que desde que rompeu com Wagner só faz amargar derrotas.

Com a tática acertada e vitoriosa, Wagner se consolidou como uma nova liderança democrática na Bahia, que joga papel importante no cenário regional e nacional.

ACM Neto, liderança maior do velho e reacionário DEM, amargou a derrota em dois turnos e já admite a possibilidade de fundir seu partido com o PSDB ou extingui-lo, já que o DEM vem minguando e não conseguiu eleger governador em nenhum estado.

Vitória importante do PCdoB na Bahia e no Maranhão, embora tenha havido revés na bancada nacional

A mais brilhante vitória do PCdoB na redemocratização do Brasil foi a vitória do nosso candidato a governador do Maranhão, o comunista Flávio Dino, com 63% dos votos. Foi uma verdadeira saga vencer o candidato da velha e mais longeva oligarquia do Nordeste, o senador José Sarney, que apoiava o peemedebista Edison Lobão Filho, filho de uma outra oligarquia maranhense. Agora o PCdoB pertence ao grupo de 9 partidos que venceram eleições para governador nos estados.

Assim como ocorreu com quase todos os partidos da base aliada, o PCdoB teve uma queda na sua bancada nacional. Saímos de 15 para 10 deputados federais e perdemos um senador. Vale destacar que o PT perdeu 18 deputados, o PDT perdeu e toda a base aliada perdeu 61 parlamentares, em relação à 2010. Na Bahia, embora não tenhamos cumprido a meta de crescimento de bancadas, federal e estadual, foi aqui que o partido teve o seu melhor desempenho. Elegemos 2 federais, além de garantir uma segunda suplência com Davidson Magalhães, com grandes chances de assumir o mandato. Também mantivemos nossas 3 cadeiras de deputado estadual, elegendo Fabrício, Zó e Bobô.

Vale observar, entretanto, a queda da nossa votação em Salvador. Analisando o cenário que emergiu das urnas, percebemos que houve um deslocamento do eleitorado na cidade. No primeiro turno, embora tenha garantido uma votação majoritária para a presidenta Dilma, 67%, e para o candidato a governador Rui Costa, o voto para deputado acompanhou a tendência mais conservadora evidenciada no resto do país. Aqui, candidatos com forte poder econômico ou forte influência religiosa tiveram grandes votações, enquanto parlamentares e algumas lideranças políticas de esquerda tiveram quedas expressivas no seu eleitorado, inclusive os nossos deputados federais e alguns estaduais.

Nosso partido, o PCdoB, perdeu cerca de 30% dos votos em relação à 2010. Este cenário exige uma maior investigação e identificação das razões do nosso descenso na capital. Em geral, o voto de opinião de esquerda teve uma queda importante nos grandes centros urbanos. Na eleição presidencial, Aécio Neves abriu 7 pontos de frente em relação a Dilma nas capitais. Ele ganhou em 15 e ela em 12. Isto certamente guarda relação com o discurso massificado pela grande mídia, que tenta fazer do PT o único responsável pela corrupção no país, e com o desgaste imposto à política e aos partidos, que impacta o nosso eleitorado. Foi também nas capitais e grandes centros urbanos o palco principal das grandes manifestações de junho de 2013, que descambaram para um viés conservador.

Em Salvador, vale compreender que, ao assumir o comando da prefeitura, ACM Neto buscou avançar sobre a cidade, suas bases comunitárias e segmentos ligados à esquerda na tentativa de constituir sua hegemonia. Diante da trágica herança deixada por João Henrique, o ACM Neto vem crescendo o seu prestigio simplesmente por organizar a cidade.

1) O desafio dos comunistas é elevar a sua intervenção política, fazendo o contraponto com a gestão do DEM, apresentando projetos e propostas na direção de democratizar Salvador e torná-la mais humana.

2) Investir na construção de um campo político capaz de realizar uma oposição qualificada, que discuta de maneira permanente a cidade que queremos e que o povo precisa. Assim, o PC do B defende a articulação de um bloco de forças políticas para pensar Salvador, composto por partidos, organizações do movimento social, setores produtivos, para fazer o debate amplo e democrático sobre a cidade e lutar por uma reforma urbana e pelo desenvolvimento diversificado de suas vocações econômicas.

3) Em sintonia com o projeto nacional, o bloco de forças avançadas, em Salvador, deve fazer o debate em defesa das conquistas do povo brasileiro e das reformas estruturais que o país precisa.

4) Nosso partido entende que o cenário político nacional e local exige um papel maior do debate de ideias para enfrentarmos as concepções equivocadas e disputarmos os segmentos formadores de opinião em favor do governo democrático e popular.

5) O PCdoB em Salvador vai priorizar o resgate da vida partidária nos seus espaços organizativos. Dar regularidade aos organismos e distritais é fundamental para garantirmos o enraizamento do nosso partido nos locais de moradia, estudo e trabalho. Também articularemos o nosso projeto organizativo com uma maior valorização das zonas eleitorais onde o partido obteve seu maior desempenho.

6) Garantir investimentos maiores na formação política da militância e quadros intermediários, valorizando as iniciativas da escola do partido e garantindo um coletivo mais preparados para a batalha de ideias.

7) O PCdoB vai constituir o seu projeto eleitoral para 2016 articulando desde já um leque amplo de lideranças para a disputa de vereador e definindo o melhor nome para liderar a disputa para a prefeitura.

Salvador, 9 de dezembro de 2014"