O triplex de Lula e os boatos usados como notícia pelas Sheherazades

O jornal O Globo deu uma longa matéria, que teve a repercussão esperada, dando conta de que “o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já pode passar o ‘reveilon’ na Praia das Astúrias, no Guarujá, área nobre do litoral Sul de São Paulo”.

O triplex de Lula e os boatos usados como notícia pelas Sheherazades - Foto Montagem

“Reveilon”, como se sabe, é como apedeutas pronunciam “réveillon”. Redação marota. Continua: “De sua ampla sacada, poderá ver a queima de fogos, que acontece na orla bem defronte do seu prédio, feito pela OAS, empresa investigada pela Operação Lava-Jato. É que na semana passada terminaram as obras de reforma do apartamento triplex no Edifício Solaris, que ele e dona Marisa Letícia, sua mulher, compraram por meio da Bancoop – a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo –, ainda na planta, em 2006. Acusada de irregularidades e em crise financeira, a Bancoop deixou três mil famílias sem receber os sonhados apartamentos”.

Lula, como qualquer cidadão, pode comprar um apartamento se tiver dinheiro honesto para isso. Até aí, ok. Mas houve um desmentido de seu instituto. “Dona Marisa Letícia Lula da Silva adquiriu, em 2005, uma cota de participação da Bancoop, quitada em 2010, referente a um apartamento, que tinha como previsão de entrega 2007”, diz a nota. “Com o atraso, os cooperados decidiram em assembleia, no final de 2009, transferir a conclusão do empreendimento à OAS. A obra foi entregue pela construtora em 2013. Neste processo, todos os cooperados puderam optar por pedir ressarcimento do valor pago ou comprar um apartamento no empreendimento. À época, Dona Marisa não optou por nenhuma destas alternativas esperando a solução da totalidade dos casos dos cooperados do empreendimento. Como este processo está sendo finalizado, ela agora avalia se optará pelo ressarcimento do montante pago ou pela aquisição de algum apartamento, caso ainda haja unidades disponíveis. Qualquer das opções será exercida nas mesmas condições oferecidas a todos os cooperados.”

Não foi a primeira vez que a Globo levanta essa lebre. Em 2010, o Jornal Nacional deu uma reportagem sobre o assunto. “A lista de mutuários da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo tem um nome ilustre: o do presidente da República”, narrava William Bonner.

Você pode dizer que um dos dois está mentindo. Caberia, porém, à Globo esclarecer os fatos. Vai fazer isso?

Não, porque o que interessa é confundir e deixar na sombra. O “triplex do Guarujá” já virou uma história a mais para a família milionária, dona de aviões, fazendas e da Friboi.

Durante a semana, Rachel Sheherazade deu uma cacetada na deputada Maria do Rosário usando uma notícia falsa publicada num site de um humorista do PSDB. Pega no pulo, Rachel não assumiu o erro, não se desculpou, não nada – e nem o fará. Apenas retirou o texto de seu blog, um dia depois do DCM explicar a farsa.

No ano passado, a revista Forbes publicou uma matéria intitulada Is Lula, Brazil’s Former President, A Billionaire?” (“Lula, ex-presidente do Brasil, é um bilionário?”). O mote era a edição especial sobre os homens mais ricos do mundo. “Depois de ter explicado a nossa metodologia, gostaria de destacar que, embora existam alguns bilionários que são políticos, Lula não é um deles. Caso contrário, ele teria, obviamente, que estar presente na lista anual da Forbes”, escreveu o autor.

“O filho de Lula, Fábio Luis Lula da Silva, apelidado de Lulinha, não se tornou (ainda) um bilionário também. […] Tem havido uma série de rumores sobre a riqueza da família de Lula, mas nada baseado em fatos reais.”

Não haverá esclarecimento sobre o fenomenal imóvel de Lula no litoral de São Paulo porque não interessa. O que importa é que permaneça no imaginário a sacada, o elevador particular e convidados vestidos com uma toga e segurando uma taça de vinho como nas orgias de Asterix.

Não por acaso, Sheherazade fez uma “denúncia”, referindo-se à praia de Astúrias como “chiquérrima”. É mais ou menos como as TVs falam das jacuzzis de sobrados de traficantes transformados em “mansões”. No caso da biografia de Lula, como dizia Chacrinha, o importante é confundir e não explicar.

Fonte: Diário do Centro do Mundo