Bruno Peron: Os meios são outros

As tentativas de promoção de paz no mundo são incontáveis. Grupos religiosos, movimentos sociais, comunidades organizadas e indivíduos mais ou menos influentes propõem soluções pacíficas a atritos e conflitos entre pessoas, instituições e nações. No entanto, os focos de luz que emanam de regiões do globo não têm sido suficientes para neutralizar a mancha trevosa que anuvia a geografia terrestre. ]

Por Bruno Peron*, em seu blog

Notícias recentes sobre a exacerbação dos conflitos no Oriente Médio apontam o extremismo de grupos islâmicos que lutam contra a pressão antidiplomática do Ocidente. Alguns países do Oriente Médio (Afeganistão, Iraque, Síria, etc.) são exemplos de logradouros onde países ocidentais como USA Fora-da-Lei, La France e Cool Britannia prescindem de diplomacia como se tal região asiática se tratasse de uma “terra sem lei”. O Oriente Médio é cenário de êxito da indústria ocidental de armamento e de preparação de pontos geoestratégicos para vampirismo de gás e petróleo asiáticos.

Essas atitudes de nações altamente industrializadas do Ocidente (como as referidas) naturalmente causam reações das populações asiáticas que se sentem aterrorizadas e invadidas. Por isso, o terror praticado por alguns Estados “democráticos” é mais covarde e sistemático que o desespero defensivo de indivíduos islâmicos que se sacrificam para proteger suas culturas e seus territórios.

É de se esperar, assim, que agências de notícias a serviço do Ocidente pintem um quadro que represente os povos do Oriente Médio como extremistas, terroristas e dignos de “democratização” através de uma “Primavera Árabe”. Entretanto, as cores desse quadro perdem seu brilho quando há algum esforço consciente de desvelar os interesses europeus e norte-americanos no Oriente Médio. Um deles é o esgotamento da paciência com a dependência europeia de gás natural da Rússia, país que retorna ao palco desse sistema internacional nem tão multipolar como se imagina.

Por coincidência, a Rússia recupera sua notoriedade diplomática e militar enquanto se aproxima de países como Índia, China e Brasil. Embora esta aproximação seja sugestiva de um reordenamento dos jogadores mundiais, o ato não passa de uma estratégia de países com tecnologia nuclear para reabilitar o tabuleiro de quem realmente define as regras do jogo: o grupo dos países pertencentes ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.

Nesse reordenamento global, as nações tradicionalmente líderes reafirmam sua liderança após um período de crença na multipolaridade. Nesse ínterim, Alemanha e Austrália temem que grupos extremistas pratiquem atos terroristas contra seus nacionais e emitem sinais de alerta para evitar tamanha impiedade. Em nenhum momento, porém, políticos de países altamente industrializados reconhecem que a culpa dos extremismos não é só dos extremistas.

Terroristas usam as armas que têm em suas mãos (ameaça, sequestro, explosões, etc.) para coibir a avalanche de instituições e normas ocidentais que soterra as culturas e os territórios asiáticos. Esses ataques começam com a descrição estereotipada pelo cinema e o jornalismo, passam por encenações como a do complô de derrubada das torres gêmeas de Nova York, e culminam no consentimento da opinião pública para invadir países e depor governantes.

Pergunto, para finalizar as reflexões deste texto, se o Ocidente também não age com extremismo ideológico para impor uma infraestrutura global de servidão humana e tecnológica. Acadêmicos falam de dependência, neocolonialismo, divisão internacional do trabalho. Minha interpretação é que países do Ocidente mudaram o jeito de possuir escravos, abrir portos e “desenvolver” outros povos.

Os meios são outros para o mesmo fim político.

*Bruno Peron é articulista brasileiro e colaborador do Vermelho