"É preciso garantir a retomada do crescimento do Brasil" diz Marcelino

Dezenas de lideranças da base de atuação do PCdoB do Recife no Recife se reuniram na noite da última terça-feira (16), no Fórum de Quadros de Base, para avaliar o quadro político de Pernambuco e do Brasil nesses período pós-eleitoral, bem como asperspectivas dos comunistas para 2015.

O encontro conduzido pela presidenta do Comitê Municipal, Antonieta Trindade, teve como principais debatedores o vice-prefeito do Recife, Luciano e Siqueira, e o secretário estadual indicado da Cultura, Marcelino Granja, que comentaram os desafios colocados para os próximos 365 dias do ponto de vista político-partidário.

Primeiro orador do Fórum de Quadros, Marcelino começou avaliando os resultados das eleições de outubro em plano nacional e local. Sobre a reeleição da presidenta Dilma Rousseff, ele classificou o resultado como "uma grande vitória, uma extraordinária vitória".

"Nós devemos compreender a eleição da presidenta Dilma não pelo resultado da contagem dos votos, que apresentou, em tese, uma eleição apertada, como toda eleição. Mas, o tamanho da vitória eleitoral e política não é contada pelos votos. Dilma ganhou as eleições e é a quarta vitória das forças progressistas do Brasil nesse ciclo iniciado pelo presidente Lula, de conotação de centro-esquerda, dirigida pela esquerda, de um processo de mudanças que vem se acumulando nos últimos anos que tem a oportunidade de se consolidarem", disse.

"Esse é que é o tamanho da vitória, vitória muito grande, mesmo com as dificuldades existentes no transcurso desses 12 anos, mesmo com as dificuldades no cenário externo, já que no plano internacional a correlação de forças para o movimento progressista e socialista é desfavorável, o contraponto é a situação da América Latina, onde há o predomínio de tentativas de lutas, de projetos políticos para livrar a América Latina da herança neoliberal, mas em plano mundial o que predomina são as forças conservadoras", explicou Marcelino.

Segundo, pela importância do Brasil, a vitória de Dilma sinaliza a possibilidade concreta de o Brasil passar ter mudanças significativas no sentido do progresso social. "De forma que a reação da oposição e esse chamado "terceiro turno" que está em curso até agora está relacionada à resposta da consequência do tamanho da nossa vitória. É um esperneio da oposição, do PSDB, é uma reação de certo desespero em função da ameaça real de passarem para a história e de nós construirmos um projeto de avanço bem maior do que hoje".

Então, por que ganhamos as eleições, apesar de todos os percalços da campanha eleitoral? Para Marcelino, "fundamentalmente, temos aqui uma demonstração por parte da grande massa da classe trabalhadora, de todas as regiões do Brasil, com mais uma fração da classe média, que são beneficiárias desse ciclo de progresso iniciado do governo Lula para cá, que são conquistas sociais muito grandes e cujo resultado foi a melhoria das condições de vida do povo, pela distribuição da renda, por mais empregos, pelo crescimento do salário, além de um conjunto de políticas compensatórias que levaram uma multidão de desvalidos a chance de sobrevivência, a chance de ser cidadão, a chance de poder viver com mais dignidade, apesar do muito que ainda precisa ser feito".

Os desafios

Marcelino comentou ainda os principais desafios a serem enfrentados pelo país em 2015, que, segundo ele, são de curto, médio e longo prazos e estão relacionados às próprias causas do por que ganhamos e porque as eleições aconteceram como aconteceram.
"Um desafio de curtíssimo prazo é resolver a sustentação do governo no Congresso Nacional, porque o sistema político brasileiro leva a um presidencialismo de coalizão e nós temos de ter maioria no Congresso Nacional. Outro desafio é garantir as condições políticas, sociais e econômicas para o Brasil retomar o crescimento econômico. Há sinais de um certo esgotamento do modelo vigente, de baixa reprodução do investimento, com prejuízo das conquistas sociais da classe trabalhadora."

Marcelino aponta também para questões de médio prazo, em cuja solução o PCdoB tem um papel importante. "Uma delas é ajudar o governo da presidenta Dilma a ter uma melhor condução política, e condução política é uma questão muito importante. É a forma de o governo se conduzir, de tratar e resolver os problemas políticos, de saber construir soluções e capitalizá-las politicamente", explicou.

Outra questão, que, segundo ele, diz respeito mais diretamente ao PCdoB, é a necessidade de se retomar, rapidamente, o protagonismo dos movimentos populares, especialmente dos trabalhadores, na luta social do país.

Marcelino avaliou ainda os resultados obtidos pelo partido nas eleições de outubro. "Em plano nacional, o resultado do partido foi de vitória, com a reeleição da presidenta Dilma, na qual tivemos um papel muito importante, e apesar de termos reduzido a bancada de deputados federais, dentro de um quadro de diminuição das forças de esquerda no Congresso Nacional, mas com o contraponto de termos conquistado o governo do Maranhão", destacou.

No plano estadual, ele acredita que o resultado é positivo para o partido. "Esse resultado levou o PCdoB a melhorar seu desempenho eleitoral. Porque, nos saímos vitoriosos em Pernambuco, apesar da perda da vaga de estadual, pois a eleição de Luciana Santos, com grande votação, Cadoca com terceiro suplente e a eleição de Paulo Câmara, em uma tática política complexa, onde apoiamos a presidenta Dilma no plano nacional, e no plano local, o candidato de Eduardo Campos para o governo do estado, uma tática correta, cujos resultados mostram que nós estávamos certos".

Cabo de guerra

Luciano, por sua vez, explicou como vem ocorrendo o processo de mudanças no Brasil, destacando o papel da correlação de forças para o êxito das iniciativas transformadoras. "É como um exercício de cabo de guerra entre quem quer mudar e quem não quer mudar. Se o lado de quem quer mudar está fortalecido, toma iniciativas e vai aprovando as coisas no Congresso Nacional, vai realmente alterando as coisas, o movimento de transformação se acelera. Mas, se não está com essa força toda ou o lado de lá, momentaneamente, está com força, com instrumentos, pressiona, cria problemas e sabota aí a coisa vai mais devagar. Isso é a correlação de forças".

Para ele, a presidenta Dilma fez um governo mais avançado até mesmo do que os governos Lula, mas com muita dificuldade, por causa dos erros políticos cometidos, principalmente, no que diz respeito à capacidade de governar, avançar, "dialogando amplamente com todos os mais próximos e os mais diferentes para juntar forças para o lado de cá do cabo de guerra ter força suficiente para avançar.

"Dilma tentou enfrentar a oligarquia financeira, principal inimigo do povo brasileiro, conseguiu baixar os juros de uma maneira importante, mas teve de recuar porque a pressão contrária foi muito grande. Durante a campanha, sugeriram que ela fizesse um aceno a oligarquia financeira e aos empresários, mas ela resistiu, foi firme na defesa dos interesses do povo. Eu acredito que, agora, ela vai fazer um governo muito melhor do que o primeiro, inclusive, pela política, porque o governante é um líder político e como tal tem de dialogar o tempo todo com sociedade, com as forças políticas. E Dilma não fez isso".

Ele também avaliou os avanços e conquistas dos brasileiros nos últimos doze anos. "Ao todo são 42 milhões de brasileiros que deixaram a linha da pobreza absoluta e passaram a trabalhar, a consumir, a melhorar de vida. Isso significa que parte da riqueza, da renda passou para outras mãos e no Brasil isso nunca aconteceu sem muita luta, sem muita confusão", disse, citando ainda a ampliação da democracia e da participação popular, bem como o incremento das relações internacionais.

Audicéa Rodrigues
Do Recife