Konstantin Garibov: Iuane e rúpia irão sustentar rublo

O governo da Índia está examinando uma eventual renúncia ao uso do dólar e do euro nas transações comerciais com a Rússia.

Por Konstantin Garibov, na Voz da Rússia

Cédulas de iuane, rúpia e rublo

A solução da questão pendente está a cargo de três entidades governamentais, a saber, do Ministério das Finanças, Ministério do Comércio e da Indústria e do Ministério das Relações Exteriores. Se supõe que tais operações financeiras sejam efetuadas exclusivamente em rublos e rupias.

Os exportadores indianos têm insistido nessa opção. “Não temos muito tempo para pensar e esperar mais: o rublo instável tem vindo a afetar as exportações calculadas em dólares”, afirma Ajay Sahai, diretor-geral da Federação de Exportadores Indianos (FIEO).

As maiores perdas resultantes da queda do rublo estão sendo sofridas por empresas de produção e exportação de produtos como uvas, pepinos e café. No entanto, as operações financeiras podem ser realizadas em rupias”, realçou.

Uma proposta análoga foi lançada por empresários da China que sugerem passar à contabilidade em sua moeda nacional, o iuane. Andrei Ostrovsky, do Instituto de Oriente Médio, considera que “a questão não é do rublo, mas da Rússia”: “Ambos os países se mostram interessados em desenvolver as relações econômico-comerciais. Se torna cada vez mais complicado fazê-lo através do dólar. A cotação do rublo baixou. A Rússia está interessada em aumentar as exportações em vez das importações. Por isso, perante a Índia e a China se coloca o problema de exportações para a Rússia.

Quando o rublo está em queda, seria mais fácil e vantajoso trabalhar com o iuane e a rupia, já que, recorrendo à terceira divisa, os países exportadores vão sofrendo prejuízos que se avaliam em 10-15% adicionais em relação ao preço de custo. O fator político também tem de ser levado em conta.

Os países do grupo Brics anuíram em criar o Banco do Desenvolvimento. As operações em moedas nacionais permitirão fortalecer as relações entre a Rússia, a Índia e a China. Na ausência de vínculos financeiros é muito difícil dinamizar as trocas comerciais”.

Importa realçar que as propostas sobre a renúncia ao dólar nas operações financeiras com a Rússia haviam sido lançadas e debatidas ainda antes da queda do rublo. Os exportadores indianos se debatem com problemas causados pela diminuição da procura no mercado dos EUA, a recessão econômica no Japão e a crise na Europa. Os exportadores da China também vão enfrentando a quebra da demanda nos mercados externos. Por isso, a Índia e a China se dispõem a suportar o rublo, perseguindo, contudo, seus interesses próprios, opina o economista, Alexander Salitsky: “Tanto a China, como a Índia se manifestam interessadas em atribuir um status internacional ou regional às suas moedas nacionais. Os acordos com a Rússia, celebrados no âmbito do Brics, estão virados para o uso das moedas nacionais em operações financeiras entre os parceiros.

Ao passo que nesses países vai ocorrendo o fortalecimento dos setores econômicos competitivos a nível global, as transações entre eles deve ser elevada a um novo patamar. Mas o processo é capaz de virar duradouro. São necessários mecanismos vantajosos para os contra-agentes. Tal necessidade se faz sentir perante da falta de profissionalismo de especuladores russos, o que suscitou nervosismo após a brusca queda do rublo em relação ao dólar”.

Isto se repercutiu nas relações da Rússia com seus parceiros econômicos.

Entretanto, o dirigente do Centro de Pesquisas do Oriente junto do MRE da Rússia, Andrei Volodin, não tem dúvidas de que o abandono do dólar está ganhando a força: “O mecanismo é simples. Se o intercâmbio comercial entre os países com economias emergentes vem superando o volume de negócios entre os países industrializados, o recurso ao dólar, visto como mediador financeiro, será praticamente reduzido a zero. O processo vai ganhando vulto, dado que muitas economias emergentes têm sentido o impacto negativo da moeda norte-americana. A swap de divisas seria o primeiro passo na passagem à contabilidade em moedas nacionais. A Índia, a China, a Rússia e o Brasil já estão procedendo a tal prática”.

Em virtude disso, a China decidiu não corrigir o acordo de swap rublo-iuane não obstante a baixa cotação do rublo.

Fonte: Voz da Rússia