Emmanuele Thomaziello: Reforma política é estratégia de combate

Os comentários preconceituosos e machistas contra Dilma Rousseff não são apenas uma reprodução dos estereótipos, padrões e normas do capitalismo impostas às mulheres como também são o reflexo da indignação dos setores mais conservadores, pelo ato de posse da presidenta.
Por Emmanuele Thomaziello*, no Portal da UJS

Posse da Dilma - Reprodução

Na tentativa, frustrante, de desmoralizá-la, os mais conservadores remetem agressões à presidenta. Comentam sobre a roupa, o modo com o qual caminha, senta e se comporta. Futilidades, naturalizadas no machismo, que oprimem mulheres todos os dias, na investida de silenciá-las.

Outras mulheres, inclusive – Miriam Leitão, Cora Ronai, Cristiana Lobo, também reproduzem opressões, tem opiniões conservadoras, e também são vitimizadas pelo machismo, pelo próprio machismo que elas mesmas reproduzem, oriundo do sistema que sustentam. A culpa é do capitalismo!

No capitalismo, em tempos de individualismo, desonrosa e mesquinha é a competição por poder. Os mais conservadores sentem medo de perder privilégios, não se conformam com o fato de que mulheres estão ocupando, com excelência, os mesmos espaços que antes foram sempre ocupados por homens. Então eles apelam às agressões.

Para os mais conservadores, tão ofensivo quanto a presidenta ser mulher é a presidenta representar um projeto que pensa no povo e governa para todos. É, também, a presidenta ter lutado corajosamente contra a ditadura militar instalada em 1964, bem como respeitar e defender mais direitos às trabalhadoras e trabalhadores e políticas sociais para quem precisa.

Sobretudo, é a presidenta que neste momento vai defender a educação como principal fator estratégico de desenvolvimento e o aprofundamento da democracia através de uma reforma política que determine regras no sistema político-eleitoral, com financiamento público de campanha e lista fechada com alternância de gênero , e também ter como meta democratizar a mídia, pois esta é o principal aparato que reproduz a opinião conservadora dos setores majoritários.

O ato de posse da presidenta Dilma é um marco! Esta é a sétima eleição direta e consecutiva, um recorde na história da democracia no Brasil, sendo empossada pela segunda vez uma mulher ao mais alto cargo da República.

No entanto, é preciso avançar mais! Ligando o episódio vivido pela presidenta com a realidade de centenas de mulheres no Brasil, percebemos que todos os avanços que vivemos nos últimos anos ainda não são suficientes para sanar séculos de opressão e discriminação contra a mulher. Há 80 anos conquistamos o voto feminino, somos 51% do eleitorado, porém, no congresso, ainda representamos menos de 10%.

O Congresso, composto na sua maioria por homens, brancos, cisgênero e heterossexual e no qual nem todas as mulheres que compõe a bancada feminina são comprometidas com o interesse das mulheres trabalhadoras, não é capaz de representar as necessidades das mulheres! Precisamos de representantes comprometidas!

Ampliar a participação de mulheres nas instâncias de poder é aprofundar a democracia brasileira e fundamental para avançar na garantia de mais direitos, a fim de fortalecer a autonomia econômica e valorizar o trabalho da mulher brasileira. É estratégico também, para a desconstrução da naturalização das desigualdades existentes entre os sexos, através da afirmação de políticas públicas específicas de combate ao machismo.

É valido enfatizar que, com o congresso nacional atrasado, a nossa luta será na rua! Para fazermos as reformas que o Brasil precisa é necessária uma grande mobilização popular e forte pressão no Congresso.

É necessário o povo na rua! Povo na rua que faz o debate no ponto de ônibus, na cantina, nas salas de aula, nos auditórios das universidades, nas associações de bairro.

É com reforma política que combateremos, de forma incisiva, os efeitos opressores engendrados no capitalismo, que atingem até a nossa presidenta.

Em mais um episódio escancarado de machismo os mais conservadores tentam de maneira frustrada minimizar, desdenhar, desmoralizar o ato de posse da presidenta Dilma Rousseff. Mas não dessa vez.

Muita luta!


*É Diretora da UEE-SP, diretora da UJS Feminista-SP, e estudante de Direito.