Para conter grupo isolado, PM ataca a todos em ato contra tarifa em SP

Manifestação ocorria pacificamente, até que cerca de 50 pessoas começaram a depredar lixeiras. A reação desproporcional da PM provocou correria e feridos. MPL considera participação popular positiva.

Repressão da Polícia Militar contra ato do Movimento Passa Livre 9 de janeiro 2015

O primeiro ato contra o reajuste das tarifas do transporte público na capital paulista, em São Paulo, que entrou em vigor na última terça (6), terminou sob forte repressão policial, nesta sexta-feira (9). Com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e cassetetes, a Tropa de Choque da Polícia Militar (PM) atacou as cerca de oito mil pessoas que participavam do ato público, em ruas da região central da capital.

Tudo começou quando cerca de 50 manifestantes, que vinham à frente e separados dos demais participantes da marcha, começou a depredar lixeiras e, segundo a PM, uma agência bancária. A polícia deteve quatro deles e logo o clima tenso tomou a esquina das ruas da Consolação e Matias Ayres.

“Os blackblocks estavam à frente do ato. O que a gente estava fazendo era se distanciar, por que depois sai 'treta' e a gente 'se ferra'. Essa parte da rua da Consolação já estava 'estourada' e não foi a gente. A gente seguiu e de repente começou a cair bomba na nossa direção”, relatou o militante do MPL Heudes Cássio da Silva.

Antes de iniciar as depredações, o grupo já tivera um desentendimento com militantes do Movimento Passe Livre (MPL), organizador do ato, ao entrar na rua da Consolação – eles queriam formar o primeiro bloco da marcha, enquanto o MPL pedia para que todos se posicionassem atrás de uma grande faixa, que estampava a frase 'contra a tarifa'.

Após cerca de uma hora de concentração, em frente ao Teatro Municipal, os manifestantes seguiram em direção à avenida Paulista, sempre sob a vigilância de um contingente 800 policiais – a PM tomou a rua da Consolação nos dois sentidos.

Porém, ao chegar próximo ao local onde soldados mantinham quatro pessoas detidas, a marcha foi recebida com uma chuva de bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, disparadas em todas as direções. Numa ação conjunta, os policiais posicionados ao final da passeata também começaram a bombardear os manifestantes, que ficaram encurralados.

Houve muita correria. Um grupo seguiu no sentido da avenida Angélica, dividindo-se novamente entre os que subiram sentido avenida Paulista e os que desceram para o estádio do Pacaembu. Outro grupo tentou seguir para a rua Augusta. Policiais os perseguiram com cassetetes, balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo.

O cruzamento ficou sob uma nuvem de gás lacrimogêneo. Viaturas percorriam as ruas da região em alta velocidade atrás de manifestantes. As ruas Matias Ayres, Maceió e Bela Cintra, e a avenida Angélica se tornaram praças de guerra. Muito lixo queimado, algumas barricadas e portas de banco destruídas. Soldados da Tropa de Choque da PM percorriam as ruas com escudos, disparando balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo.

Ao fim do tumulto, 51 manifestantes haviam sido detidos. Antes de ser encaminhados a delegacia, a PM os manteve cercados e sentados no chão, sem permitir que nenhum outro ativista – e nem advogados – pudessem se aproximar. A PM não usou algemas, mas abraçadeiras plásticas de nylon para imobilizar os presos. Os manifestantes foram levados para o 1º, 4º e 77º Distritos Policiais e para o Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic).

Comandante da operação, o major PM Larry afirmou que "lá (no Deic) já existe uma investigação em curso", em referência ao inquérito nº 1, de 2013, aberto para investigar e monitorar – ilegalmente, segundo os ativistas – as mobilizações e os militantes do MPL.

A manifestação foi dispersada 450 metros antes do local que havia sido definido para encerrar o protesto: a praça do Ciclista, na esquina das avenidas Paulista e Angélica.

Apesar do final turbulento, os militantes do MPL ficaram animados com a mobilização da primeira manifestação. "Nós não vamos parar. Dia 16 teremos um novo ato no centro. Até lá haverão muitas mobilizações na periferia, reuniões para debater o transporte coletivo", afirmou Heudes. O objetivo do movimento é revogar o aumento e garantir passe livre universal no transporte coletivo. O próximo ato na região central será no dia 16. Outras ações estão sendo organizadas na periferia da cidade.

Outras capitais

Mal começaram as manifestações contra o reajuste da tarifa e a cidade de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, já revogou o aumento, efetivado em 29 de dezembro. Lá houve manifestação na tarde desta sexta (9), na praça Sete de Setembro, com cerca de 300 pessoas. Na cidade existem três tipo de cobrança. A tarifa que havia subido para R$ 2,20 voltou para R$ 2,05. A que foi a R$ 3,10 baixou para 2,85. E a de R$ 2,50 voltou a R$ 2,30.

O Rio de Janeiro também teve protestos. O primeiro foi na segunda-feira (5), com um grupo de 300 pessoas que realizou uma passeata na Cinelândia para pedir a revogação do aumento das passagens. Nesta sexta (9), outro ato foi realizado no mesmo local, mas acabou reprimido pela PM carioca. Cerca de 500 pessoas participaram do ato, que chegou a ocupar a estação Central do Brasil. Dois acabaram detidos.

Na cidade o aumento foi questionado pelo Ministério Público (MP), que considera o índice de 13,3% acima do acordado com as empresas de ônibus. A passagem subiu de R$ 3,00 para R$ 3,40. O MP defende uma tarifa de R$ 3,20.

Fonte: Rede Brasil Atual