Presidenta argentina denuncia questionamento do Congresso

Questionado pelos juízes Rodolfo Canicoba e María Servini e desmentido pela Interpol, o promotor Alberto Nisman levará nesta segunda-feira (19) ao Congresso sua grave acusação de encobrimento contra a presidenta Cristina Fernández e vários servidores públicos.

cristina kirchner - Agência Lusa

A grave denúncia de Nisman contra a presidenta tenta fundamentar a versão sobre o atentado em 1994 contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) que os governos de Israel e Argentina acordaram há mais de 20 anos, com o apoio dos Estados Unidos, diz hoje o pesquisador Horacio Verbitsky.

Essa linha tem sido de acusar o Irã e esquecer a causa de encobrimento e desvio da investigação por parte do ex-presidente Carlos Menem e seu ex-juíz Juan José Galeano, afirma o diretor do Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS).

Verbitsky se referiu a uma primeira investigação e julgamento que Galeano liderou a raíz do atentado, e que foi inabilitado como juiz e aquela causa invalidada quando se comprovou que o próprio magistrado entregou 400 mil dólares para a principal testemunha para que mentisse e mudasse sua declaração.

"A estridente acusação de Nisman, desqualificada pelo juiz da atual causa e pela Interpol, é outro capítulo da mesma estéril saga", adverte Verbitsky.

Para o diretor do CELS, grupos concentrados de poder na oposição tentam fazer o governo pagar a ousadia de ter se afastado da cartiha na busca de que a justiça argentina poderia indagar os acusados por Nisman, em um terceiro país ou inclusive no Irã.

Esse é o objetivo do Memorando de Entendimento com o Irã que o promotor acusador ataca.

Temem correr o risco de que a suposta solidez do processo se dissipasse no ar, como já ocorreu com o ex-embaixador persa em Buenos Aires, Hadi Soleimanpour, detido em Londres em 2003 a pedido da justiça argentina, mas foi absolvido por falta de provas, posto em liberdade e inclusive indenizado.

Depois de receber Nisman, a complacente direção comunitária da Delegação de Associações Israelitas Argentinas e a AMIA convocou todos os organismos e grupos que as integram, mas a maioria negou o apoio que Nisman tinha solicitado, revela Verbitsky, membro também da comunidade judia.

"O problema com a acusação agora desse promotor está em que não tem elementos que a sustentem, motivo pelo qual esse relato descansa em recursos políticos e publicitários, considera o também escritor e lutador pelos direitos humanos.

Convocado pela oposição, em especial a representação da direita portenha, o procurador deverá explicar sua impugnação em uma audiência da Comissão de Assuntos Legais da Câmara de Deputados a partir das 15:00 hora local da segunda-feira.

Será um debate forte pois os legisladores da Frente para la Victoria, que a direita pensou que não iriam, anunciaram que participarão para interrogar o fiscal. Até a imprensa está pedindo poder participar.

A pesquisadora Stella Calloni vê esta ação como parte de uma intensificação da campanha política em ano de eleições presidenciais e um novo espetáculo midiático contra o modelo popular nacional que a chefa de Estado impulsiona.

Fonte: Prensa Latina