Fim do carnaval: e agora, quantas mulheres negras estarão na TV?

No carnaval, uma maior quantidade de mulheres negras na televisão é perceptível – a começar pela Globeleza, cujo papel é representar a suposta “hipersexualidade” da mulher negra. O carnaval midiático encontra na figura da “mulata” a imagem ideal para promover uma festa onde a sexualidade entra de carro chefe. No entanto, independente da representação dada às mulheres negras no carnaval, após o período festivo elas simplesmente somem da televisão.

Por Jarid Arraes*, na Revista Fórum

Personagem Alícia de Taís Araújo - Reprodução

É possível contar nos dedos de uma mão as atrizes negras que ganham papéis de destaque em novelas, séries e outros programas televisivos, ou mesmo as que marcam presença nos comerciais.

Quando aparecem, os nomes são sempre os mesmos; as atrizes negras que conquistam destaque na televisão são as poucas conhecidas de sempre e quase todas atendem ao padrão de “mulata” vendido pela mídia. São todas jovens, com traços faciais finos e corpos magros, de modo que não “choquem” demais a supremacia branca brasileira. O difícil é vê-las em papéis subversivos, que desafiem a lógica racista.

Ao contrário do que muitos sugerem, a solução para essa situação não é o boicote. Desligar a televisão e ignorar a programação das emissoras racistas, sem sequer comentar a respeito, não é a atitude que vai resolver o problema. Mais de metade da população brasileira é constituída por pessoas autodeclaradamente negras, muitas das quais assistem televisão – até porque também possuem o direito de escolher o tipo de entretenimento que desejam consumir. Por isso, o protesto é a única via possível para que as personagens negras criminosas e subalternas não sejam a única representação que a população negra encontra na TV.

Não podemos permitir que continue havendo programações inteiras dedicadas a humilhar e discriminar pessoas negras; é preciso fazer muito barulho para lembrar os senhores brancos, donos desses impérios midiáticos racistas, que não poderão mais representar as mulheres negras como “mulatas hipersexuais” sem que enfrentem protestos severos. Essa reação pode começar pelo simples ato de questionar a escassez de atrizes negras na televisão e os papeis limitados que lhes são concedidos.

Que o racismo e o machismo contra as mulheres negras brasileiras incomode cada vez mais.

*Jarid Arraes é diretora do Femica e estudante de Psicologia