O saldo do Carnaval, a muriçoca e os tipos de Cortázar
O que é alegria? No campo individual para uns é uma opção de vida, a razão da própria existência, no limite, toda uma escola filosófica, os epicuristas. Para outros, nem tanto, e outros ainda, – que respeito muito- , passam longe dela , porque uma certa dose amargura está tão presente na epiderme que o que sentem por aqueles que ainda a procuram não passa daquele pecado capital chamado de “inveja”.
Publicado 18/02/2015 19:20 | Editado 04/03/2020 16:38
Tal qual já disse o poeta, “ a felicidade é uma arma quente”. Por evidente há que se fazer uma separação entre os amargos e os que somente querem paz. A grande maioria por sinal, porque não haveria rua para todo mundo.
Alegria e dor são polos dialéticos, diria Hegel se estive na passarela. Diria mais ainda, é claro que a dor pode também ser transformada em alegria, basta lembrar de Nelson Cavaquinho, “ Tire o sorriso do caminho que eu quero passar com minha dor” , e que ainda nos disse que o Sol não pode vier perto da Lua. Pelo menos na poesia, remarque-se.
Mas o que seria o carnaval quando visto do ângulo coletivo? Uma festa desta proporção, que toma as ruas, os bares, os clubes, as avenidas, os sambódromos, a beira dos lagos e rios só pode ser uma coisa, um ativo que qualquer sociedade e qualquer país têm que se orgulhar muito. Nem que às vezes uma muriçoca queria atrapalhar um pouco. Aliás, para uns ela somente fez um voo mais rasante.
O carnaval é a cara de uma sociedade plural, portanto, democrática. Nele cabem, por exemplo, os tipos e personagem criados ou buscados no real por Júlio Cortázar, que nos legou, os "cronópios", os "famas" e as "esperanças, os primeiros que, no geral, aproveitam a vida, e sabem relativizar problemas e dificuldades, por isso creio, Cortázar os colocaria como os que enchem as avenidas, já os famas, aqueles indivíduos minimamente organizados iriam pular o carnaval, mas somente num camarote bem regado e muito bem produzido, já os esperanças, esses não sairiam de casa, o desânimo os venceria.
Mas, na quarta-feira de cinzas estaríamos todos de volta à realidade, seja ela mais alegre ou um pouco menos. E, agora sim, o ano começaria, para os cronópios, os famas ou os esperanças. Com ou sem muriçoca zunindo no ouvido
Rogério Marcos Jesus Santos é advogado e morador em Brasília