Eleições presidenciais italianas e os novos desafios de Renzi
A eleição de Sergio Mattarella como novo presidente italiano constituiu uma demonstração da força do premiê Matteo Renzi e da unidade de seu Partido Democrático (PD), mas abriu sérios desafios para seu Governo.
Publicado 20/02/2015 16:00

Em uma quarta votação, onde sozinho era necessário atingir uma maioria simples de 505 votos de mil e nove grandes eleitores, o ex-juiz do Tribunal Constitucional acumulou o respaldo de 665, para se consagrar como figura de consenso.
No entanto, as vias para conseguir tal resultado poderiam pôr em risco em um futuro próximo aspectos importantes do programa de Renzi e sua coalizão no Gabinete com o Novo Centro de Direita (NCD) diante de um arranjo no Parlamento com Silvio Berlusconi.
O magnata midiático, que conseguiu a redução da pena de um ano de trabalho para a comunidade pelo crime de evasão fiscal, desejava uma maior coordenação com Renzi, com quem há um ano assinou um acordo de cooperação, o chamado Pacto de Nazareno.
Os partidários do PD e Forza Itália (FI) de Berlusconi chegaram a um acordo na sede dos primeiros, situada na rua Nazareno, mas agora essa parceria parece letra morta.
De acordo com o diário A Repubblica, alguns proeminentes deputados do FI consideraram que o referido pacto chegou a seu fim e demandaram uma reestruturação da direção desse agrupamento.
Ao menos 30 membros da formação ressuscitada por Berlusconi, depois de sua expulsão do Senado no final de 2013, apoiaram Mattarella, em vez de votar em branco como solicitou o também ex-primeiro-ministro.
Tal situação causou uma divisão nas fileiras de FI e gerou fortes críticas de seus membros ao bilionário italiano, que dirigiu em três ocasiões o executivo, por se dobrar às demandas de Renzi, o mais jovem premiê da pós-guerra italiana.
A indicação do voto contrário ao ex-juiz do Tribunal Constitucional, parecia uma questão de princípios para o magnata midiático, depois que o primeiro renunciou em 1990 como ministro da Educação no governo de Giulio Andreotti.
Nessa ocasião, Mattarella protestou contra a aprovação da chamada lei Mammas que permitia a transferência de três canais públicos ao império midiático Mediaset, da família Berlusconi.
Outro elemento incômodo para o dono de quase 90% dos meios de comunicação italianos e com ao menos um processo pendente de sentença, foi a posição irreconciliável do ex-magistrado com a máfia.
Mattarella perdeu seu irmão Piersanti, assassinado pela Cosa Nostra siciliana na década de 1980, depois entrou no mundo da política.
A imprensa local especulou que na década de 1990 Il Cavaliere, comoBerlusconi é conhecido, pactuou um arranjo de proteção com o crime organizado, gerenciado por pessoas próximas a ele e políticos, ainda que isto precise de confirmação policial.
Ainda que em princípio o septuagenário ex-chefe de Governo não tenha exposto reparo algum à figura do ex-integrante da Corte Constitucional, reprovou as formas empregadas por Renzi para impor essa candidatura ao resto dos partidos.
Mas a diferença de abril de 2013, quando 101 deputados do PD votaram na contramão do ex-primeiro-ministro Romano Prodi, o candidato dessa organização, nesta ocasião, os democratas votaram em bloco.
Nisso incidiu que Renzi chamou a bancada de seu partido a votar em branco nos três primeiros turnos na Assembleia Nacional, quando eram necessários dois terços, isto é, 673 votos, para só apresentar a candidatura do ex-juiz na quarta rodada.
Os Desafios
A ruptura do pacto de Nazareno pode levar o governo de Renzi a precisar do apoio do partido FI em temas cruciais como a reforma da lei eleitoral, a composição do Senado e da transferência de mais prerrogativas às regiões, que requerem mudanças constitucionais.
Ainda que sem ser da aliança no poder, FI garantia um respaldo em ambas as câmaras da Assembleia Nacional para o PD, mas depois da votação na assembleia conjunta as coisas parecem ter mudado radicalmente.
Berlusconi anunciou que passava à oposição com respeito ao gabinete de Renzi, mas a unanimidade nesta ocasião nas próprias filas da FI está longe de ser a do ano passado, quando Il Cavalieri resgatou esse agrupamento, já esquecido.
Por seu lado, Renzi o vê de outra forma, pois considera que as mudanças no artigo 18 do código trabalhista para permitir mais flexibilidade nos contratos e demissões no mercado do trabalho ajudarão às estratégias anticrises das empresas.
Mas o verdadeiro é que Renzi passou na difícil prova de levar um candidato de consenso ao estratégico posto da presidência italiana.
Fonte: Prensa Latina