A incoerência da elite paulista e seu domínio sobre o senso comum

Semana passada tivemos mais um episódio da atual efervescência política do país, na sexta-feira (13) mais de 500 mil pessoas ocuparam as ruas em todo o Brasil para defender a manutenção do projeto desenvolvimentista eleito em outubro de 2014, a Petrobras e a reforma política democrática, que amplie a participação e a representatividade popular nos espaços de poder e, fundamentalmente, decrete o fim do financiamento empresarial de campanhas eleitorais.

Por Henrique Domingues*, no portal da UJS

Manifestação da elite paulistana - Reprodução

Dois dias depois, no domingo (15) novamente as ruas foram ocupadas. O ato convocado por setores conservadores da política e amplamente divulgado pela mídia hegemônica, através das manchetes dos jornalões e dos principais âncoras do telejornalismo brasileiro, reuniu cerca de 2 milhões em todo o Brasil. A cobertura ao vivo, com pompas de megaevento, insistia em dizer que era um ato pacífico, pela democracia e por um país melhor. Contudo, foi muito comum ver atitudes hostis contra pessoas que apenas transitavam vestindo vermelho ou faixas defendendo a ditadura militar.

São Paulo, estado onde, historicamente, as elites prosperaram desde as capitanias hereditárias, aglomerou o maior número de manifestantes que pediam exclusivamente o “fora Dilma” e o “fora PT”. Foram ao menos 200 mil pessoas na Av. Paulista. Dizer que lá se encontravam apenas as elites é fechar os olhos para a realidade. Porém, se analisarmos a situação política local é bastante coerente afirmar que todos os presentes no domingo, fossem da elite ou não, endossaram um ato com pautas de interesse da parcela mais rica da população.

São Paulo passa por expressivos escândalos de corrupção, envolvendo cifras muito maiores que o caso da Petrobras, vide o cartel dos Trens e Metrô. O estado passa ainda por um claro desmonte, as estradas estão privatizadas, 3 mil salas de aula foram fechadas, 2 mil professores da rede pública estão sem aula, o ensino superior sofre constantes cortes de verba o que destrói ano a ano as universidades e faculdades estaduais, as regiões periféricas, em pleno século 21, não têm acesso ao saneamento básico e, por fim, chega-se ao absurdo de não ter nem água nas torneiras.

O projeto neoliberal é evidente em São Paulo. O capital da Sabesp, a principal empresa estatal, aberto na bolsa de valores de Nova York, a privatizada linha 4 – amarela, 90% de todos os estudantes paulistas de nível superior matriculados em instituições privadas de ensino, por exemplo, demonstram claramente a política privatista do governador Geraldo Alckmin. O ensino superior paulista, com estes números que apresenta, está em nível avançado de privatização e a mercê dos lucros em detrimento da qualidade. Cada vez mais, o estado de São Paulo é estruturado para atender aos poucos que têm condições de pagar.

Diante da situação política e sabendo das responsabilidades que têm cada estado ligado à federação, fica a dúvida: Onde estavam os paulistas de domingo quando o escândalo do Metrô veio à tona? Onde estavam todos e todas quando as 3 mil salas de aulas foram fechadas? Por que não foram às ruas contra a má administração na Sabesp? Diante da péssima gestão tucana em São Paulo, por que não se viu uma faixa sequer dizendo “Fora Alckmin e leve o PSDB junto!”?

Não é difícil chegar a uma resposta razoável a esses questionamentos. O ato de domingo não levou apenas a elite para as ruas, mas foi mobilizado exclusivamente por ela. A direita política brasileira, liderada pela fortíssima elite paulista, resolveu dar as caras assim como fez, de maneira fracassada, em 1932 na “Revolução Constitucionalista” frente à ascensão de Getúlio Vargas, político progressista, ao poder e como fez vitoriosamente em 1964 contra João Goulart, outro político progressista, instalando um sanguinário regime militar que cerceou violentamente as liberdades democráticas do povo brasileiro.

O momento político é bastante semelhante a 1964. A mídia golpista atua fortemente todos os dias buscando um rompimento para com os últimos 30 anos de construção política democrática, apenas para voltar plenamente ao poder, de onde nunca saíram por completo.

Aos estudantes paulistas cabe atuar em favor daquilo que sempre defenderam desde a campanha “O Petróleo é Nosso”: a democracia, um estado forte e que atenda as demandas da população, o progresso e o desenvolvimento. É preciso resistir às investidas da direita, para que nenhum passo atrás seja dado e ninguém melhor que nós, estudantes, para pautar a sociedade contrapondo a grande mídia e as recentes movimentações golpistas.

*Henrique Domingues é diretor de assistência estudantil da UEE-SP