Naufrágio no Mediterrâneo: tragédia podia ser evitada?

Cerca de 900 pessoas podem ter morrido no Mediterrâneo, quando um barco que transportava migrantes naufragou entre as costas da Líbia e a ilha italiana de Lampedusa. Este é a maior tragédia marítima dos últimos tempos, mas não é um caso isolado.

Imigrantes africanos em Lampedusa

As avaliações das vítimas mortais de tráfico ao largo da costa da Itália e Líbia parecem subestimadas: cerca de 2.000 pessoas desde o início do ano, e de 3.500 a 4.000 no ano passado.

O premiê italiano, o Conselho de Segurança da ONU e muitas outras organizações sérias internacionais e políticos têm falado repetidamente sobre a gravidade da situação da imigração nesta zona. Mas na verdade as ações foram contrárias às declarações.

Para resolver o problema dos refugiados na região, a União Europeia reduziu o financiamento em mais de 70%. Segundo o jornal Forbes, em 2015 a UE atribui mensalmente 3 milhões de euros, o que é três vezes menos do que no ano passado. A justificativa de tal corte drástico foi a ideia de que a migração se tornará mais perigosa para os próprios refugiados, e eles serão menos dispostos a arriscar suas vidas.

Agora que a tragédia aconteceu e levou as vidas de quase mil pessoas, a União Europeia tem que realizar medidas concretas. A alta representante para Relações Exteriores da União Europeia, Federica Mogherini, declarou sobre a decisão de incluir a questão de imigração na agenda formal da reunião dos chanceleres da União Europeia, que deverá acontecer na segunda-feira (20) em Luxemburgo.

Agora a União Europeia está a pensar em enviar navios de guerra para a costa da Líbia para combater os contrabandistas de petróleo e armas, mas há temores de que tal poderá incentivar mais imigrantes a irem para o mar na esperança de conseguir ser resgatado e levado para a Europa, de acordo com um documento da UE visto pela agência noticiosa Reuters.

Francamente, a UE teme que após eles salvarem mais vidas, as quadrilhas de tráfico poderão enviar mais pessoas para o mar em embarcações sem segurança, diz-se no documento elaborado antes de afogamento em massa de domingo (19), que alertou para o perigo de muito mais migrantes se dirigirem para a Europa.

Naufrágio no Mediterrâneo pode ter matado mais de 700 pessoas
Um porta-voz da Comissão Europeia não quis comentar. Diplomatas da União Europeia disseram que tal missão era improvável no futuro próximo.

A Líbia está passando por uma aguda crise política devido à incapacidade das autoridades de restaurar a ordem no país.

Dois anos após o término da ação militar que levou à derrubada e ao assassinato de Muammar Kadafi, no país continuam a operar combatentes de tropas irregulares, incluindo terroristas, que não obedecem ao poder central e estabelecem suas próprias leis nos territórios sob seu controle.

Em entrevista concedida em 15 de dezembro de 2011, o então premiê russo e candidato à presidência do país, Vladimir Putin, acusou os serviços secretos dos Estados Unidos de estarem envolvidos no assassinato de Kadafi.

Não abordando a questão do envolvimento dos EUA na morte do líder da Líbia, podemos constatar que os líderes ocidentais congratularam-se com a sua morte. O presidente norte-americano, Barack Obama, disse que a morte "marcava o fim de um capítulo longo e doloroso para a Líbia", que agora teria a oportunidade de determinar seu próprio destino.

O então presidente da União Europeia, Herman Van Rompuy, declarou que a morte de Kadafi marcava o fim de uma era do despotismo.

Uma vez que, através dos esforços da Europa e os Estados Unidos, vários Estados da África passaram por crises políticas, sociais e econômicas, os criminosos começaram a traficar cidadãos africanos para a Europa. O ano passado marcou um recorde triste: 170 mil imigrantes atingiram a Itália e, no total, cerca de 250 mil conseguiram chegar à União Europeia.

Fonte: Agência Sputnik