Quinta Vermelha: Comitê Municipal debate 10ª Conferência do PCdoB

Em mais uma edição da Quinta Vermelha, a direção municipal do PCdoB de Fortaleza, através da Secretaria de Formação, realizou na noite da última quinta-feira (23/04), o debate acerca do documento da 10ª Conferência Nacional do PCdoB. A atividade faz parte de uma programação proposta pelo Comitê Estadual de debates da Conferência.

Filiados, militantes, membros da direção estadual do PCdoB e amigos do Partido participaram do encontro que aprofundou o projeto de resolução que deverá ser discutido em todas as bases partidárias e culminará com sua apresentação final em São Paulo, de 29 a 31 de maio. O documento defende uma frente ampla em defesa do Brasil, do desenvolvimento e da democracia; a atualização e efetivação das linhas de construção partidária e ainda a sucessão da Presidência Nacional do PCdoB.

Abel Rodrigues, Secretário Estadual de Organização do PCdoB-CE, apresentou o documento destacando sua complexidade, extensão e profundidade. “Este material foi proposto pela direção nacional do PCdoB para ser discutido e debatido no processo de sua 10ª Conferência Nacional. Esta não é uma obra pronta, mas em construção, como tudo o que o Partido faz, sempre de forma coletiva. Ele trata especialmente sobre a definição de rumos que deverão nos nortear para os próximos enfrentamentos e anos, por isso deve ser elaborado coletivamente e com responsabilidade. É tarefa do filiado estudar, tratar o documento com carinho e saber que cada contribuição será valiosa no sentido do seu enriquecimento”, destaca.

Diante da complexidade e importância do documento, Abel Rodrigues tentou sintetizá-lo. Dividido em quatro partes principais, o projeto de resolução "Frente ampla em defesa do Brasil, do desenvolvimento e da democracia" trata sobre o atual cenário político mundial e nacional, a construção do PCdoB diante destas circunstâncias atuais e ainda aborda a sucessão da Presidência Nacional do Partido. A quarta parte detalha a regulamentação e as normas da 10ª Conferência. “Estamos diante de um documento rico, denso e difícil de tentar enxugar porque cada palavra está bem colocada e sistematiza o que vemos produzindo ao longo dos últimos anos”, ratifica.

Parte política

Segundo o dirigente comunista, o título que nomeia o projeto de resolução do Partido já é “uma a síntese da proposta do PCdoB diante da situação pela qual o país vive”. “Devemos buscar construir uma frente ampla em defesa do Brasil, do desenvolvimento e da democracia. Esta frente deve conter todos os que estão preocupados em defender o país”.

Assim como o Brasil, afirma Rodrigues, os percalços têm acometido outros países da América Latina. “Trata-se de um alvo do imperialismo, de acirrada disputa política em curso vinculada à luta de classes. Estão em disputa interesses difusos e opostos. Este cenário deve ser compreendido no contexto de uma crise sistêmica do Capitalismo, que desde 2008 bate mais forte nos países em desenvolvimento”, considera.

Rodrigues pontua que o documento destaca esta ofensiva do imperialismo nos países em desenvolvimento, em especial os que compõem o BRICS (grupo de países formados por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul), que têm jogado papel contrário ao imposto pelo imperialismo. “O BRICS caminha em rumo contrário, visando uma multipolarização da economia mundial”. Ele citou a reunião da cúpula do grupo realizada em 2014, em Fortaleza, onde foi confirmada a criação de um banco e de um fundo para ajudar países em desenvolvimento.

“A lógica do Capitalismo e do imperialismo continua a mesma, de agravamento crescente das desigualdades sociais. O ciclo progressista vivido na América Latina nas duas últimas décadas está sob fogo cerrado, sofrendo ataque das forças imperialistas, com escalada da direta para tentar por fim aos governos progressistas da região. Argentina, Brasil e Venezuela têm sido os alvos principais dos fatores externos”, avalia.

A tentativa de desestabilização do atual governo Dilma soma-se ao intento de interromper os sucessivos passos dados rumo ao progresso. A quarta derrota imposta nas urnas incendiou ainda mais os setores reacionários da direita que tem se organizado para alcançar este intento. "Com essa investida, a direita neoliberal objetiva ceifar os ciclos democrático e progressista, reconquistando o governo ou em 2018 ou antes, pela via do golpismo”, cita o documento.

O dirigente comunista alerta que, diferente das outras três derrotas, no último caso a direita sai fortalecida e continua no ataque. “Estamos numa espécie de terceiro turno das eleições, mas só um lado faz campanha. A verdade é que estamos diante de uma nova correlação de forças favorável às ideias conservadoras, com a direita na ofensiva e dando as cartas do jogo político”, critica.

O embate entre os dois campos de pensamentos, de direita e de esquerda, com a disputa polarizada, está nas ruas. “A direita tenta dar caráter de manifestações espontâneas e tenta esconder o conteúdo conservador dessas manifestações”, alerta Abel, que acrescenta: “Mais de uma década de demonização da política e de campanha prolongada de desgaste da imagem do PT, do governo e da esquerda em geral criou um caldo de cultura que transbordou para as ruas, revelando uma capacidade de mobilização da direita que não se via desde o período que antecedeu o golpe de 1964. E o pior: contaminada por preconceitos, intolerância e mesmo em pequenos segmentos por arroubos de naipe fascista”, cita o documento.

“É crucial defendermos a democracia e impulsionar a contraofensiva da esquerda. Uma situação é o centro da nossa tática e se materializa na defesa do legítimo mandato da Presidenta Dilma, eleita democraticamente. Para isto, temos que aglutinar todo mundo que não aceita o golpe”, defende.

Bandeiras unificadas

Para dar mais sustentação a esse novo plano de contraofensiva é unificar bandeiras que deverão ser empunhadas pela frente ampla em defesa do país. “A defesa Petrobras, o fortalecimento da economia nacional e a retomada do crescimento, o combate à corrupção e ainda a reforma política democrática”, enumera Abel Rodrigues.

“Temos que jogar pesado para enfrentar esta realidade que não é nada favorável neste curso político instável, perigoso e indefinido. Devemos sacudir nós mesmos e todo o conjunto da população para tentar reverter este quadro. Esta frente ampla deve reunir desde a presidenta, o núcleo de governo, das esquerdas e em especial os comunistas visando esclarecer o conjunto da militância e da sociedade o que está em jogo”, defende.

Questões partidárias

Na segunda parte do documento, o Secretário Estadual de Organização do PCdoB pontuou sobre sua importância. “A política aponta o caminho a ser trilhado, mas quem materializa a política, quem leva à prática é o Partido. Sabemos que a primeira parte do documento é bem palpitante, por ser um tema empolgante, mas as questões partidárias também são tão relevantes quanto, pois uma complementa a outra”, considera.

Sobre o item “Atualizar e efetivar as linhas de construção partidária”, Rodrigues questiona: Existe espaço político para o PCdoB atuar diante deste novo cenário? “Mudaram a conjuntura, a realidade e as condições de acumulação de forças. Sim, há lugar para o PCdoB atuar, pois somos um Partido de necessidade histórica, que atende às aspirações do país e dos trabalhadores, mas temos que afirmar e ocupar mais e melhor esse espaço, demarcando sempre a nossa identidade. Não podemos deixar de lado que temos um objetivo maior, temos convicção do que fazemos. Não participamos do governo para ter um cargo, mas para construir o futuro”, ratifica.

E esta identidade, reforça Rodrigues, “decorre do nosso programa socialista”. “Devemos sempre renovar a nossa convicção de que temos história, propostas concretas para o país, um projeto estratégico que nenhum outro partido brasileiro tem”.

O dirigente comunista reforça que, para além das propostas, o PCdoB tem militância. “A questão fundamental é que as verdadeiras mudanças só irão ocorrem se o Partido estiver fortalecido, enraizado junto ao povo. É nosso papel assumir esta luta”.

Três frentes

Ao logo de mais de nove décadas de história, de conquistas, percalços e muita luta, o PCdoB vem acumulando aprendizado na construção partidária. “E ela se dá em três frentes, que tem que trabalhar de forma articulada: ação político-eleitoral, frente de ação social e ainda a luta de ideias. Não estamos começando do zero. Temos um patrimônio riquíssimo, que é a força da nossa militância”, enaltece Abel que acrescenta, em números, este crescimento nos últimos anos. No país são em torno de 350 mil filiados, enquanto no Ceará, este número é de cerca de 20 mil comunistas. “A vida partidária cotidiana depende da nossa atuação. Devemos garantir, onde quer que a gente esteja, ter como tarefa atuar na consolidação do PCdoB para torná-lo cada vez mais forte, consolidado, maior e com mais influência”, reitera.

Nova Presidência do PCdoB

Rodrigues considera a terceira parte do documento essencialmente vinculada à segunda. “Fortalecer o PCdoB também passa pelo fortalecimento de sua direção. A sucessão na presidência da legenda já havia sido definida no último congresso do Partido. Renato Rabelo já vinha colocando que era hora de renovar a política que equilibra permanência e renovação, o desafio de manter as bases, mas arejando. O PCdoB sempre busca unificar sua política e é assim também na sua renovação”, considera.

O dirigente comunista destaca a indicação acertada de Luciana Santos para presidir a legenda. “Ela é jovem, mulher, com muita capacidade, dedicada e fiel ao PCdoB, estudiosa da realidade do Brasil e do Partido, pessoa que, com o apoio do coletivo, saberá encaminhar nosso exército”.

Abel Rodrigues finalizou convidando a todos para a reunião ampliada do Comitê Estadual do PCdoB-CE que será realizada no dia 9 de maio, em Fortaleza. “O debate final no Ceará sobre a 10ª Conferência do Partido, contará com a participação de Luciana Santos. Esperamos ter mais um momento de debate, com a oportunidade de apresentação de novas emendas e propostas no sentido de enriquecer o documento que definirá os rumos do PCdoB para o próximo período”, ratifica.

Íntegra do Documento

De Fortaleza,
Carolina Campos