Marco Albertim, presente!

O escritor Marco Albertim despediu-se da vida em 11 de abril. Encontrei-me com ele, aí por 2011, em Olinda e nos tornamos amigos. Eu admirava sua literatura excepcional, onde as habilidades de jornalista e ficcionista se juntavam num texto de rara fineza que refletia o empenho diário daqueles que lutam pela vida.

Por José Carlos Ruy*, especial para o Vermelho

Marco Albertim - Reprodução

Marcos Albertim deixou a vida num momento de pleno florescimento de sua literatura. Fiquei sem saber o que escrever em sua memória, mas agora acho que vale a pena reproduzir um texto que fiz como prefácio para seu livro Ingrid Tinha Alergia à Lama do Capibaribe.

É uma homenagem modesta a um grande escritor e ser humano que fará falta!

Leia o texto:

Olhar para o futuro

Conheci Marcos Albertim através do portal Vermelho, onde ele é colaborador regular. E onde publica semanalmente capítulos do romance Conspiração no Guadalupe. Foi uma descoberta! Um escritor denso, ligado nas coisas do povo, sensível à maneira popular de ver o mundo e encarar os problemas da sobrevivência, da luta cotidiana para manter a vida e a dignidade.

Tive a sorte de encontrar-me pessoalmente com ele pouco depois. E foi outra surpresa. Primeiro, pelo lugar do encontro: em Recife, numa reunião dos comunicadores pernambucanos do Partido Comunista do Brasil. Era um camarada! E mais: tivemos um passado em comum nos anos 70. Albertim – que agora já se transformara num amigável Marcão – fora da sucursal de Recife do jornal Movimento, base a partir da qual, juntamente com Luciano Siqueira, reorganizaram o Partido no estado, naquele final de ditadura militar. Na mesma época eu atuava na redação paulista do jornal.

Jornalista e escritor comunista, Marcos Albertim não é dado a soluções fáceis para os problemas que sua literatura aborda. O primeiro conto que chamou minha atenção – que faz parte deste livro – é a estória de Mundinho e Sansão (no conto Susto), dois brasileiros perdidos nos desvãos da vida e da sobrevivência, zanzando entre a terra natal e um sudeste mítico, à beira da estrada, inventando maneiras para sobreviver e encontrar qualquer tipo de trabalho.

A exploração que sofrem transpira a cada palavra; e também a resistência, muitas vezes inconsciente mas sempre ativa, que opõem a ela.

Resistência que, muitas vezes, eclode na luta contra a ditadura militar, pela voz e ação de personagens como Ingrid, Horácio, Miguel (do conto? novela?, que dá título ao livro), ou Venâncio (em Levem minha memória também). São alguns entre tantos que habitam este universo! História de gente comum, que vive nos bairros e periferias e registram a vida e o clima em Recife, Olinda, zona da mata – neste Pernambuco terra de luta.

Resistência permeada de entrechoques sentimentais, dúvidas, paixões, amores vividos e perdidos – mas sem o remoer de uma certa literatura de viés existencialista, centrada no indivíduo e seus próprios dilemas. Não. Os personagens que passam pela escrita de Albertim são densos e sofrem dos problemas que todo mundo tem. Precisam enfrentar – como todas as pessoas – o desafio de encontrar trabalho, derrotar a tacanhez do cotidiano, as pequenas e grandes opressões do dia a dia. Eles vivem e sofrem seus dramas. Mas não têm tempo para olhar o próprio umbigo: precisam olhar para o futuro.

*José Carlos Ruy é editor da Classe Operária, membro da Comissão Nacional de Comunicação e do Comitê Central do PCdoB; também integra a Comissão Editorial da revista Princípios