Cunha foi destinatário de propina, diz Youssef

Em mais um depoimento à Justiça Federal nesta quarta-feira (13), o doleiro Alberto Youssef voltou a afirmar que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), era um dos "destinatários finais" da propina de cerca de R$ 4 milhões em contratos de navios-sonda da Petrobras investigados pela Operação Lava Jato.

Youssef e Cunha

Ele também reafirmou que Cunha foi o mentor de requerimentos feitos na Câmara para pressionar a empresa Mitsui, que não estaria pagando a propina em 2011. Disse também que foi procurado pelo executivo Julio Camargo após estes requerimentos.

“Fui chamado em 2011 pelo Julio Camargo no seu escritório, onde ele se encontrava muito preocupado e me relatou que o Fernando Soares, através do deputado Eduardo Cunha, havia pedido alguns requerimentos de informações referentes aos contratos da Mitsui, da Toyo e do próprio Julio Camargo, através de outros deputados", relatou ao juiz Sérgio Moro.

"Quando o senhor conversou com Julio Camargo ele falou quem eram os beneficiários das operações? Ou ele só falou no Fernando Soares?", perguntou Moro. O doleiro respondeu: "Falou no Fernando Soares e contou a história da pressão que o Eduardo Cunha estava fazendo para que ele pudesse pagar o Fernando Soares, dando entendimento que esse valor fosse também na época para o deputado”, disse o doleiro, réu confesso, preso desde março de 2014 por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Questionado pelo seu advogado sobre quem seriam os "destinatários finais" desta propina, Youssef reiterou ter “ouvido” de Camargo que eram "Fernando Soares e Eduardo Cunha" e disse que as propinas eram relativas aos contratos de navios-sonda.

Boa parte do que Youssef diz em seus depoimentos não se encontra provas muito menos vestígios de provas, com exceção de alguns casos como o do atual presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que nega o envolvimento no esquema de desvios na Petrobras.

A Procuradoria-Geral da República investiga se Cunha foi o autor da elaboração de dois requerimentos na Câmara, questionando informações dos contratos da Petrobras com a Mitsui – empresa que pagaria propina para Cunha e para o PMDB – como forma de coerção, pela suspensão dos pagamentos.

Esses requerimentos foram apresentados na Câmara em 2011, sob o nome da então suplente do deputado Solange Pereira de Almeida, hoje prefeita de Rio Bonito (RJ). Entretanto, os registros eletrônicos mostram Cunha como autor dos requerimentos, o que comprovaria as delações de Youssef.

O ex-diretor da área de informática da Câmara, Luiz Antonio Souza da Eira, disse em depoimento a procuradores e à Polícia Federal, um dia após ser demitido por Cunha, que a versão inicial do requerimento da auditoria do sistema de informática da Câmara foi gerada com a senha, "pessoal e intransferível", de Cunha.