Ao indicar Telhada, PSDB aponta sintonia com a extrema direita

Para Paulo Vannuchi,  a indicação do deputado estadual Coronel Telhada (PSDB) para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia de Legislativa de São Paulo (Alesp) é um "absurdo". Ele afirma que a nomeação de Telhada coloca o PSDB em "em sintonia completa com essa avalanche conservadora, reacionária, ultradireitista" e "é uma tentativa de cerco e isolamento" aos movimentos sociais de defesa dos direitos humanos no estado.

Telhada pode presidir Comissão de Direitos Humanos em São Paulo

"Coronel Telhada é ex-comandante da Rota e coronel da Polícia Militar de São Paulo e se gaba de ter matado dezenas", conta Vannuchi. "É um apologista da morte."

Contudo, o analista debita a escolha equivocada na conta do governador Geraldo Alckmin, pois, segundo ele, a bancada tucana na Assembleia "é inteiramente dócil ao governador" e nada faz sem consulta-lo.

Vannuchi compara o que ocorre na Alesp com a nomeação, cerca de dois anos e meio atrás, do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, "uma espécie de escândalo", dadas à postura "fundamentalista, racista e homofóbica" do deputado, que gerou uma série de protestos. A diferença, lembra o analista, é que, no primeiro caso, a grande mídia deu intensa cobertura, tentando atribuir responsabilidades ao PT. Agora, com relação ao Coronel Telhada, a cobertura é bem menos intensa.

Vannuchi cita as reações contrárias à escolha do nome de Telhada para a Comissão de Direitos Humanos. O Instituto Vladmir Herzog divulgou carta, assinada por Ivo Herzog, filho do jornalista morto durante a ditadura, em que diz que tal indicação desonra a memória de seu pai e exige respeito aos direitos humanos.

A Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, dirigida por Antônio Funari Filho, pede ao líder do PSDB na Casa, deputado Carlão Pignatari, que revogue a indicação.

Outro deputado do próprio PSDB, Carlos Bezerra, que também é cotado para assumir a presidência na Comissão caso a nomeação de Telhada seja revista, classificou a indicação do mesmo como "surreal".

Paulo Sérgio Pinheiro, que foi Secretário Nacional de Direitos Humanos, no governo FHC, e é também um dos fundadores do PSDB, afirmou que a indicação desrespeita figuras históricas do partido ligadas aos direitos humanos, como os ex-governadores de São Paulo Franco Montoro e Mario Covas.

Vannuchi prevê que, caso a decisão seja confirmada, "os movimentos sociais e de direitos humanos não vão dar trégua e teremos vários embates."