PCP, um Partido forte, de militantes ligados à vida e à luta

“Obtivemos um grande êxito”, afirmou o secretário-geral do Partido Comunista Português, Jerónimo de Sousa, na sessão com novos militantes realizada quinta-feira (14 de maio), em Lisboa. Na iniciativa ficou patente que muitos são os caminhos percorridos antes de tomar Partido, mas a uni-los está o apelo de lutar “contra a exploração, as injustiças sociais e o empobrecimento, por um Portugal com futuro, por uma sociedade mais justa”, acrescentou o secretário-geral do PCP.

PCP

Mais rigoroso é chamar de reunião a iniciativa ocorrida no Centro de Trabalho Vitória, em Lisboa. Reunião aberta e com um único ponto na agenda, como propôs logo no início Armindo Miranda, da Comissão Política do Comité Central, colhendo o acordo de todos.

A forma, num partido com as características e identidade que o PCP mantém, também é substância. Quem chega, começa logo a interiorizar que no grande coletivo partidário se preza e pratica uma profunda democracia interna, a concordância de todos, se possível, ou da maioria depois de manifestadas as várias posições, sobre, por exemplo, em que moldes irá decorrer e que conteúdo terá cada reunião.

A maioria dos presentes certamente já o sabia e por isso não estranhou que a ordem e o encadeamento dos trabalhos fossem sujeitos a apreciação plenária. Esta transparência de funcionamento, que no PCP se aplica com uma naturalidade desconcertante para quem olha através das paredes de vidro, é seguramente uma das razões que explicam o sucesso da campanha lançada em dezembro de 2013 pelo Comitê Central, dirigindo-se “a todos os que, preocupados com a situação do povo e do País, veem a necessidade da ruptura com a política de direita e de abdicação nacional”, “a todos os que se interrogam sobre o que é possível fazer”.

Compromisso

2.127 decidiram ser necessário responder positivamente ao apelo de agirem dando mais força ao PCP. O número mostra que o objetivo definido a priori (2.000 novos militantes), na campanha de adesão “Os Valores de Abril no Futuro de Portugal”, foi ultrapassado. Fato que sendo notável do ponto de vista quantitativo, muito mais o é em termos qualitativos. Tanto mais que representa a tradução concreta do que o PCP tem vindo a afirmar, contrariando sentenças que davam como irremediável o definhamento do Partido, quer mudasse, quer não mudasse – somos um partido diferente dos que são todos iguais e conseguimos contrariar “as campanhas antidemocráticas em voga”, referiu igualmente Jerónimo de Sousa na intervenção de abertura da reunião, aludindo ao discurso antipartidos e à paralela glorificação da ação dita inorgânica, à exaltação do individualismo e do repúdio pela política na apreensão da realidade e, mais ainda, na sua transformação.

A decisão de cada um dos que no último ano e meio se somaram ao “amplo movimento de adesão ao PCP”, constituindo “um exemplo e um apelo para novas adesões ao Partido”, tem “um importante significado político”.

É “um sinal de combate à resignação e ao conformismo, à pregação da desistência e da abdicação que o grande capital e os seus propagandistas tanto se esforçam para promover”, insistiu o secretário-geral comunista, para quem este reforço do PCP é, simultaneamente, um tônico de força aos valores que norteiam o Partido, “de estar plena e exclusivamente ao serviço dos trabalhadores, do povo e do país” e rejeitar benefícios próprios, outra diferença realçada face às organizações burguesas.

“Um compromisso de verdade e honestidade, de ação e luta, todos os dias, contra a exploração e as injustiças, pela defesa de direitos e a melhoria das condições de vida; de dedicação aos objetivos da libertação e emancipação social e nacional do povo português e de Portugal, e à causa internacional da libertação dos trabalhadores e dos povos”, salientou igualmente Jerónimo de Sousa.

Intervir

Nesse sentido, o secretário-geral do PCP lembrou tarefas mediatas e imediatas, porque, como tantas vezes tem dito, o Partido não é para ser nem para estar.

Prioridade de todos os militantes e, por conseguinte, dos que agora inauguram a sua militância, é o reforço da organização. Desde logo, com “a vossa integração partidária” e “a tarefa que vão desenvolver”, mas também contribuindo para que “outros vos sigam nesta opção” pelo “contato com trabalhadores, jovens e mulheres, para que também eles passem a ser membros do Partido Comunista Português, para que juntem a sua à nossa voz”.

Contato e esclarecimento, organização e promoção da luta que coloca como desafio urgente mobilizar para a Marcha Nacional “A Força do Povo”, por um Portugal com futuro, com a qual “afirmamos que está nas mãos dos trabalhadores e do povo decidir do seu destino, abrir outro caminho para Portugal, concretizar uma alternativa patriótica e de esquerda, vinculada aos valores de Abril”, frisou, mas que se insere na intervenção quotidiana dos comunistas e do seu Partido, que ligados à vida e à luta, são mais fortes.

Caminhos de um só sentido

Dar o passo. Avançar. Decidir. São muitas as expressões ou palavras que os novos militantes utilizam para se referirem ao momento em que decidem integrar o PCP, partido com o qual, na sua maioria, já simpatizavam e cujos objetivos partilhavam.

Trazem opinião, conhecimento, capacidade e possibilidade de participação diversificadas. Os “porquês” – do “porquê agora” ao “por que razão” – também são múltiplos, e na maioria dos casos expressos com uma candura e simplicidade sintéticas. Mas não se confunda isso com inocência, pois na sessão em que tomaram a palavra novos militantes do distrito de Lisboa e da Península de Setúbal, todos se assumiram “culpados” da opção revolucionária.

Nalguns, como para Rita ou Mateus, as razões são difíceis de exprimir ou quase só confessáveis entre camaradas, sabendo que a fraternidade comunista alcança a compreensão de certezas que se cruzam com a memória de vivências familiares. Depois, há um momento em que “a mais bárbara miséria e indigência que se vê por esse País fora” desencadeia o ato de aderir ao PCP, relatou Mateus.

Noutros casos, confirma-se que não há fronteiras capazes de reprimir a entrada no grande coletivo partidário, como ficou claro no testemunho de Álvaro, espanhol que ficou a trabalhar num país em que as “condições sociais e econômicas são semelhantes” às do seu, em que “o dinheiro de quem trabalha não sobra na conta ao fim do mês”, e que se encontra empenhado em contribuir para a luta no local de trabalho, um centro de contato; e como transpareceu da história de um camarada que, tendo nascido no Brasil e estando em Portugal há cerca de 40 anos, tendo sido sempre comunista e participado várias vezes nas listas da CDU na qualidade de independente, foi agora “desafiado por um dirigente sindical” a consumar a união de longa data com o PCP.

Das listas da CDU para o PCP também veio Sandra, que contou que no final de uma ação de campanha eleitoral, em Almada, interpelou Jerónimo de Sousa dizendo-lhe que era uma das 12 mil independentes que então estavam com a Coligação PCP/PEV. O secretário-geral do PCP respondeu-lhe que não se iria arrepender. “Eu aqui estou para dizer que não me arrependi”, afirmou.

Prioridade

Casos há, também, em que um período de afastamento forçado do PCP se interrompe. Assim sucedeu com Paulo, que explicou que a sua situação profissional esteve na base da perda de ligação anterior através da Juventude Comunista Portuguesa (JCP). Agora, retomada a militância, sente “mais orgulho em ser comunista e continuar com a nossa luta diária”.

Luta diária que Francisco, igualmente retornado ao Partido após uma temporada fora do país, não concebe sem a militância, sem intervenção concreta. “Dois meses depois de pagar quota e ler o Avante! semanalmente, pedi ao responsável da organização que me desse uma tarefa”, lembrou o camarada desafiando os demais a darem um pouco do seu tempo. Verão que “depois ganha-se o gosto” pelo que se realiza e “com isso ganham os militantes e o Partido”.

Já Mafalda e Leandra percorreram caminhos diferentes, embora partilhem um percurso no movimento associativo. A primeira, ligada à defesa dos direitos dos animais. A segunda, ao voluntariado nos bombeiros, mas ambas sentindo a necessidade de uma militância “mais total” capaz de enquadrar e dar sequência ao repúdio crescente pela crescente desigualdade.

Beatriz e Alves, por seu lado, chegaram ao Partido – outra das formas mais habituais de falar do desfecho que inaugura um novo ciclo de vida – através do contato com camaradas da JCP e com a intervenção reivindicativa nas escolas e nas ações de protesto, dinamizadas pelos militantes e organização comunistas no movimento estudantil. Alves é trabalhador-estudante e, por isso, dá hoje mais sentido e está mais convicto da “necessidade de lutar pelo socialismo”.

É o que decorre da experiência assimilada “lá onde o conflito de classe se dá”, viria a dizer Jerónimo de Sousa no encerramento da reunião, para sublinhar a importância e prioridade da existência de organização do PCP nas empresas e locais de trabalho e da luta organizada, “aquela que o capital verdadeiramente teme”, disse.

Recrutados nos locais de trabalho e neles concentrando o fundamental da sua militância, outros três camaradas seguem o exemplo de comunistas que, como eles, criam mais-valia, sentem a injustiça da sua espoliação e estão determinados a pôr fim à exploração. Vítor vota há mais de 25 anos “no PCP sem hesitação”. Por isso, depois de “ter tido o privilégio de ir a uma reunião de célula de empresa”, aderiu ao Partido. Luís está, como já estava antes de ter aderido ao PCP por contato com comunistas que intervêm no movimento sindical, disponível para “ajudar o Partido no que for preciso”. Pinheiro também está disponível para o que for necessário, ele que como os demais amadureceu no tempo a sua inscrição, mas que após prolongar a decisão, está empenhado em “lutar de forma ainda mais vinculada” em defesa “da liberdade e dos valores de Abril”.

Exemplos

Margarete

Jovem operária, desempregada que tem “a esperança de viver no socialismo”, vê no PCP o seu Partido “há muito tempo”. Percebeu agora que “sozinha não podia fazer nada” e que “juntos somos mais fortes”. Está organizada e aceitou tarefas, até porque sempre considerou que “para ser militante tinha de ser a sério, e não um capricho. Cartões na carteira tenho muitos, embora este seja o mais bonito”.

Francisco

Durante 13 anos o PCP foi-se revelando através de um camarada que, como ele, intervinha na Associação de Pais, bem como pela sua participação numa comissão de utentes da saúde. Foi percebendo que “ao contrário das outras forças políticas, o PCP informa e esclarece”, fazendo “despertar a consciência da população” e dinamizando a luta organizada. Para aderir ao Partido, “tinha de ser por convicção”. Essa foi-se reforçando pela “coerência” de posições do PCP “em relação à União Europeia, ao euro e às consequências desastrosas que trouxeram para o nosso país, confirmadas na destruição do aparelho produtivo ou na degradação da qualidade e condições de vida dos portugueses”. A ela juntou-se a “situação de emergência nacional” e a urgência de defender “um Portugal desenvolvido e soberano”.

Fonte: Jornal “Avante!”