Obras do Rodoanel Norte aterram nascentes em plena crise hídrica
As obras do trecho norte do Rodoanel, orçadas em quase R$ 7 bilhões, cruzam áreas de preservação na Serra da Cantareira, que circunda a zona norte da região metropolitana de São Paulo e está levando à destruição rios e nascentes da região. Ambientalistas apontam que as nascentes fazem parte do abastecimento natural de reservatórios do Sistema Cantareira e que a extinção delas faz parte do quadro de crise hídrica na capital, o que tende a se agravar ainda mais este ano.
Publicado 26/05/2015 15:52
Num trecho da estrada em que foram construídas pilastras de sustentação há pouco tempo, por exemplo, existia um riacho chamado Guaraú, que virou apenas um fio de água. "Elas (as nascentes) foram soterradas, elas foram implodidas e muitas desviadas. O desvio da nascente seca o rio", alerta a ambientalista Elisa Puterman.
O presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, Carlos Bucohy, diz que "destruir regiões de mananciais, de nascentes, para passar uma estrada que poderia passar em outro local, é um absurdo" e informa que existe um processo do Ministério Público Ambiental de Guarullhos que tenta impedir a continuidade das obras do Rodoanel."Essas nascentes são de extrema importância para o abastecimento, não só agora, mas para o futuro da metrópole."
Segundo ele, as licenças ambientais para a obra são "suspeitas", pois, o Conselho Estadual de Meio Ambiente, sofre sucessivas ingerências políticas.
"Nós temos um conselho de 'faz-de-conta'. Quando o empreendimento é do governo, o governo tem ascendência sobre o conselho. Ou seja, você não tem uma participação social efetiva", denuncia Bucohy.
Heitor Bastos, outro ambientalista que mora há 35 anos na região e fotografa a biodiversidade da Cantareira, tem registros, inclusive, de uma cachoeira que existia ali e que já secou.