Embaixador do Saara Ocidental encontra-se com movimentos sociais em BH

Na primeira visita a Belo Horizonte, o embaixador da República Árabe Saharaui Democrática (RASD) no Brasil, Mohamed Laarosi Bahia, encontrou-se com representantes de movimentos sociais na Casa do Jornalista, na noite de 2 de junho. A RASD, também conhecida como Saara Ocidental, luta há 40 anos por sua emancipação política e recuperação do seu território, ocupado pelo Reino de Marrocos, desde que o país tornou-se independente da Espanha. 

Embaixador do Saara Ocidental em BH - Rafael Gaia

Em 1931, o país foi dividido por muros militares de mais de 2.700 quilômetros, que garantem a exploração das suas riquezas – jazidas de fosfato, petróleo, gás, ferro, urânio e uma das áreas de pesca mais ricas do planeta, com mais de 1 mil quilômetros de costa – pelo regime feudal marroquino.

Do encontro, os participantes brasileiros retiraram uma agenda que inclui a criação de um comitê local de apoio e divulgação da causa saarauí em Minas. Comitê similar já foi formado no Rio de Janeiro e outro está se formando em Brasília. Em Minas – onde reside a única família saarauí no Brasil, um casal de médicos que participa do programa Mais Médicos –, a intenção é realizar, no segundo semestre, uma semana do povo saaraui, com exibição de filmes, apresentações e mostras de artes, além de debate sobre o tema.

Ao contrário de outros povos que lutam para recuperar sua patria, os saarauís não estão divididos em facções que se digladiam nem recorrem à luta armada e ao terrorismo para atingir seu objetivo. Cerca de 200 mil dos 1 milhão de saarauis vivem em um campo de refugiados na Argélia, onde mantém um governo no exílio, a Frente Polisário. Praticamente toda a população adulta no campo de refugiados tem formação universitária. Os saarauís têm mais uma peculiariedade: são o único povo africano de língua espanhola, o que os aproxima da América Latina.

Na América Latina estão muitas das mais de 80 nações que reconhecem a RASD, mas o Brasil, a Argentina e o Chile não fazem parte desse grupo. Integrante da União Africana desde 1984, a RASD é ignorada pelas maiores nações do mundo e pela grande mídia, e não tem representação na ONU. Os saarauís sequer contam com o apoio da ONU para fiscalizar violações dos direitos humanos praticados pelo Reino de Marrocos e um plebiscito marcado desde 1991 para decidir a autonomia nunca foi realizado, porque a família real marroquina se opõe.

Nos encontros que tem promovido no Brasil, o embaixador Mohamed Bahia vem obtendo apoio de movimentos sociais e de autoridades para seu pleito: o reconhecimento da RASD pelo governo brasileiro, a exemplo do que fez o presidente Lula com o Estado Palestino, em 2010. “Reconhecer a RASD não significa romper com Marrocos”, explicou Mohamed Bahia, que busca obter o apoio do Congresso Nacional.