As expectativas em torno do depoimento do primo de Beto Richa

Após ser declarado como foragido, o primo "distante" do governador Beto Richa (PSDB) se entregou na última quinta-feira (11) à noite às autoridades do Paraná. Luiz Abi Antoun teve prisão decretada após ser apontado como chefe de um esquema de corrupção que teria desviado cerca de R$ 38 milhões da Receita estadual.

Beto Richa

Desse total, aproximadamente R$ 4,3 milhões teriam abastecido o caixa da campanha de reeleição de Richa em 2014, segundo um dos delatores da Operação Publicano.

O pagamento de propina a servidores da Receita do Paraná em troca do abatimento de dívidas, com supervisão de pessoas ligadas a Beto Richa, é investigado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado). O esquema envolve auditores, contadores, empresários que teriam formado uma "organização criminosa" para facilitar a sonegação. Segundo informações do Jornal de Londrina, o depoimento de Abi é o mais esperado para essa semana.

Abi já havia sido preso em outra Operação, a Valdemort, que investiga suposta fraude em licitação do Departamento de Transportes, órgão da Secretaria de Administração e Previdência (Seap). Ele foi acusado de ter criado uma empresa laranja para vencer a licitação pela manutenção de veículos oficiais. Àquela época, Abi ficou em silêncio.

Segundo o promotor Jorge Costa, que atua na Publicano, "Abi alegou que estava em São Paulo e que iria se apresentar na tarde de quinta-feira, mas não conseguiu. Na mesma tarde, o advogado dele, Antonio Carlos Coelho Mendes, procurou o juiz da Vara de Execuções Penais (VEP), Katsujo Nakadomari, para saber onde Luiz Abi ficaria preso caso se entregasse", informou o jornal local.

Ex-assessor de Richa, quando este era deputado estadual, Abi foi apontado como alugém com muita influência "na escolha de nomes para o comando da Receita Estadual, conforme declaração do auditor Luiz Antônio Souza, em acordo de delação premiada firmado com o Gaeco no começo de maio. De acordo com as investigações do Gaeco, ocupar cargos de chefia era importante para o grupo de auditores manter o esquema de corrupção."

Luiz Antônio Souza também foi quem afirmou que R$ 4,3 milhões em propina foram repassados para a campanha de Beto Richa. "O dinheiro seria entregue ao ex-inspetor geral de fiscalização da Receita Estadual, Márcio de Albuquerque Lima, que faria o repasse a Abi, sempre segundo os depoimentos de Luiz Antônio de Souza." Albuquerque era próximo de Beto Richa. Ambos praticavam automobilismo juntos aos finais de semana.

Ainda de acordo com o jornal de Londrina, Luiz Abi foi instalado em uma cela individual da Penitenciária Estadual de Londrina I (PEL) e vai ficar isolado até ser chamado a depor.

A bancada de oposição ao governador Beto Richa na Assembleia do Paraná tenta articular uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o caso. Mas além de amargar a falta de assinaturas necessárias para aprovar a CPI – são necessárias ao menos 18, mas só seis deputados aderiram -, ainda seria necessário entrar em uma fila de espera. Desde que as investigações do Gaeco começaram a ganhar notoriedade, a bancada aliada de Richa adotou a estratégia de apresentar pedidos de CPI aleatórios, apenas para ocupar o espaço de comissões que a Assembleia pode tocar ao mesmo tempo, cinco por vez.