Troika pretende asfixiar a Grécia, por qualquer meio

As negociações entre a Grécia e o Eurogrupo não deverão avançar. A Troika insiste que o ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, apresente uma proposta de reforma "plausível" para os credores. Em outras palavras, acabar com os direitos trabalhistas, intensificar a austeridade e, assim, dar prioridade para o pagamento da dívida.

Por Ariel Noyola Rodríguez*, no Russia Today

Diretora-geral do FMI, Christine Lagarde e ministro grego de finanças, Yanis Varoufakis

O tempo está se esgotando e a confiança depositada no Syriza também, portanto, em nenhum outro momento como agora está tão claro que a Grécia precisa pensar em buscar oxigênio fora dos limites da união monetária.

O Banco Central da Grécia surpreendeu todos com a publicação do seu relatório de política monetária 2014-2015. É que além de revelar as consequências do "estrangulamento econômico" imposto por Bruxelas, concluiu que se não for possível chegar a um acordo com os seus parceiros europeus, em breve, uma crise de enormes proporções será detonada.

"A crise da dívida como a que estamos vivendo atualmente tornou-se uma crise incontrolável, com grande risco para o sistema bancário e para a estabilidade financeira", disse. Foi a primeira vez que a instituição contempla seriamente a saída da Grécia da zona do euro.

Imediatamente, a mídia enfatizou que a maioria da população, cerca de 70%, está relutante em deixar a União Monetária, de acordo com uma pesquisa recente. Para manter a "moeda comum" e o Tratado de Maastricht a imprensa ocidental conclui que o próprio povo grego está disposto a aceitar as restrições das autoridades europeias: a austeridade é o custo da adesão a área do euro.

No entanto, impérios de mídia deixam de mencionar que esta mesma maioria se opõe às medidas que a Troika (formada pelo Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia) pretende impor. Além disso, essa mesma maioria está agora convencida de que o programa de resgate original de 245 bilhões de euros só proporcionou dificuldades econômicas. O aumento da desigualdade e da pobreza, falta de moradia, doenças mentais e suicídios, são a prova da "crise humanitária" que os gregos sofrem diariamente.

É urgente a mudança de curso na área econômica. A este respeito, o Governo grego tem insistido mais em resolver as necessidades imediatas (promoção de investimento, criação de emprego, maior distribuição de renda, etc.) e menos em questionar os termos da dívida. No entanto, Bruxelas bloqueou qualquer possibilidade de recuperação, colocando o reembolso da dívida como a maior prioridade.

O Primeiro-Ministro grego, Alexis Tsipras, está praticamente "algemado" para que implemente uma política econômica alternativa, uma situação contrária à sua vontade, diminuindo gradualmente a confiança em seu partido político, o Syriza.

Tsipras já denunciou que o Fundo Monetário Internacional (FMI) tinha "responsabilidade criminal" na crise. Ele também reiterou que seu governo não claudicaria à pressão da Troika, a proposta, em suas palavras, tem o objetivo de "humilhar o povo grego." Ele prometeu que os planos de ajustamento “seriam rejeitados em todos os momentos”.

Sob essa mesma linha de argumento, o ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, recusou a apresentar propostas para o Eurogrupo que envolvam elevar o "superávit primário", o aumento dos impostos adicionais (IVA), o desmantelamento do sistema de pensões, e assim por diante.

A Troika mantém a sua tentativa intransigência de impor as suas "reformas estruturais" por qualquer meio, enquanto Tsipras se recusa a trair as demandas do povo grego. Portanto, uma resolução tem sido adiada.

O governo grego tem 10 dias para resolver a questão e pagar as quatro parcelas mensais para o FMI (1,6 bilhões de euros) e abrir um novo plano de financiamento para 5 bilhões de euros. Para o mês de julho, Atenas deve pagar 3,5 bilhões de euros para o Banco Central Europeu (BCE), 465 milhões de euros ao FMI e 2 bilhões de euros para credores adicionais.

Dívida e mais austeridade, acabam por impor mais dívida, situação que coloca a Grécia em uma "espiral depressiva" que parece interminável. Como, então, obter recursos suficientes para honrar seus compromissos?

Se Tsipras decidir deixar o euro, as consequências poderão ser dramáticas, tanto para a economia grega, como para o resto das economias da região, incluindo, naturalmente, a Alemanha e a França. Berlim teme uma propagação em grande escala. Se a Grécia cai, os especuladores apostam contra países com maior fragilidade financeira: Finlândia, Espanha, Itália, Holanda, Portugal, e assim por diante.

Diminuído pela fraqueza do crescimento econômico e pela deflação (queda de preços), a zona do euro perderia ainda mais a confiança dos investidores internacionais. A crescente "aversão ao risco" que pode significar a saída da Grécia causaria aumentos nos rendimentos dos títulos soberanos (atualmente em níveis mínimos). Em situações de pânico, as taxas de juros iriam subir rapidamente, reduzindo severamente a liquidez entre os países.

A incerteza aumentaria e os fluxos de capital sofreria um "efeito borboleta": ligeiros aumentos da volatilidade dos mercados de dívida soberana, ligeiras quedas nos mercados de ações ou uma mudança na política monetária, seriam suficientes para desencadear enormes turbulências de crédito.

No entanto, a Troika parece determinada a derrubar o programa econômico da esquerda. O Syriza abriu as portas para as derrotas eleitorais do neoliberalismo na Europa e, portanto, tornou-se a presa favorita dos credores dispostos a impor sua vontade a qualquer custo. No entanto, os gregos devem confiar em si mesmos, estabelecer alianças além das suas fronteiras continentais e se concentrar em seus objetivos.

A democracia nasceu na Grécia antiga e nela as bases de um governo livre da "ditadura da Europa, dos credores”.

* Economista formado pela Universidade Nacional Autônoma do México.