Livro debate importância da Minustah para imagem do Exército do Brasil

Com o intuito de auxiliar na reorganização social do Haiti após diversos problemas políticos, além de um grande terremoto, que afetaram o país, foi criada em 30 de abril de 2004 a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah).

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A ação de paz foi uma iniciativa do Conselho de Segurança das Nações Unidas, após a deposição do presidente do país, na ocasião Jean-Bertrand Aristide, e está em vigor até hoje sob o comando do Exército brasileiro.

E justamente sobre esta participação nacional é que se debruçou Elaine Borges Tardin. Doutoranda e Mestre em Sociologia Política pela Universidade Estadual Norte Fluminense (UENF), ela se dedicou a analisar o impacto desta operação na imagem das Forças Armadas do país.

Em seu livro, O Exército Brasileiro no Haiti: a Reconstrução de uma Imagem Manchada pela Ditadura, a pesquisadora realiza uma análise sobre a cobertura midiática da participação dos militares do Brasil na campanha e sobre qual o impacto da missão na percepção da sociedade brasileira em relação ao órgão, muito desgastada após os 24 anos de regime ditatorial.

“O Exército seria aquela instituição que deveria salvaguardar os interesses nacionais. Com o golpe de 1964, no entanto, as Forças Armadas, tendo o Exército maior destaque, tomaram o poder político de fato, sob a justificativa de proteger o país …”, diz um trecho de sua obra.

“Essa intervenção direta, diferentemente das outras, indiretas que ocorreram anteriormente, mudou profundamente a imagem das Forças Armadas brasileiras, tanto em relação à memória política dos cidadãos brasileiros quanto nas críticas da imprensa, já no processo de redemocratização”.

Evidentemente que a participação do Brasil na missão de paz da ONU envolve uma série de outros fatores como os objetivos da política externa do governo brasileiro, questões humanitárias, geopolíticas, entre outros. No entanto, embora o livro traga também um panorama geral, a pesquisadora buscou se focar, essencialmente, em como esta atividade poderia ser importante, institucionalmente, para as Forças Armadas se aproximarem da sociedade e deixarem de lado a imagem associada com ditadura, repressão e tortura.

“Dizendo de outra forma, a Minustah tem servido para recompor o poder simbólico das Forças Armadas, perdido com a ditadura militar. Tem sido, sem dúvida, o principal instrumento de redefinição e reconstrução da imagem das Forças Armadas brasileiras na atualidade, principalmente após o terremoto de 2010. Assim, colaborou para a construção de um novo perfil para os militares do Exército, cuja imagem se mantinha afetada pela ditadura”.

Isso, porque, os haitianos, que já viviam uma crise política e econômica complexa, tiveram seus problemas sociais exponencialmente amplificados após o terremoto. Neste contexto que o comando de uma missão de ajuda humanitária se mostra importante para a imagem do Exército nacional.

Na obra, Elaine também coloca os depoimentos de alguns militares que participaram da ação no Haiti, debate o viés empregado pela cobertura da imprensa e faz uma retomada histórica sobre a influência política dos militares, no Brasil, ao longo da República.

Ela relembra ainda a história haitiana e os fatores que levaram ao desarranjo estrutural vivido pela nação caribenha. Além do Brasil, diversos países como Argentina, Benin, Bolívia, Canadá, Tchade, Chile, Croácia, Equador, Filipinas, França, Guatemala, Jordânia, Nepal, Paraguai, Peru, Portugal, Sri Lanka, Turquia e Uruguai contribuíram, de alguma forma, com as atividades de paz.