Democratizar a cultura não é um lema vazio, diz ministro Juca Ferreira

O ministro da Cultura Juca Ferreira garantiu nesta quinta-feira (9), em entrevista para a Agência Efe em Madri, que "o esforço de democratizar a cultura" no Brasil "não é um lema vazio" e que seus instrumentos para isso são o diálogo e a participação de todos.

Juca Ferreira - Foto: Agência EFE

Ferreira, que está de visita na capital espanhola, participou de um evento organizado pela Secretaria Ibero-Americana (Segib) com o título de "Brasil Remix: Modernização e Democratização da Cultura". A cultura no Brasil precisa de "modernização" porque o mundo está "avançando muito rapidamente desde o fim do século passado, em grande parte pelas novas tecnologias", disse o ministro à Efe.

Para Ferreira, o governo tem "a obrigação de modernizar as relações do Estado com a população para acompanhar esse processo de transformação muito acelerado em todos os âmbitos da cultura".

No Brasil "pouco mais" de 5% da população já entrou em um museu e "algo em torno" de 13% vai ao cinema. São números que "dentro do processo de democratização do país, nos impõem uma estratégia muito poderosa para fortalecer o acesso à cultura, que esteja disponível para toda a população", relatou o sociólogo.

Juca Ferreira assumiu o Ministério da Cultura no início do ano, seu retorno à pasta que ocupou entre 2008 e 2010, no segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, época na qual ambos realizaram uma "verdadeira revolução cultural".

O ministro considerou que foi um período no qual o governo "ampliou o conceito de cultura". "Toda a produção humana passou a nos interessar e ampliamos muito a ação e os conceitos do Ministério", disse. "Eu diria que foi o lado mais encantador da democratização do Brasil", afirmou com um sorriso o ministro e sociólogo de 66 anos.

Desde que deixou o Ministério pela primeira vez, Ferreira comentou que o país mudou muito e que "não existe a possibilidade de fazer o mesmo". Para o ministro, não só é preciso retomar os programas que "tinham sido abandonados ou enfraquecidos", mas também "iniciar um conjunto de estratégias novas", nas quais o atual governo está trabalhando.

E, para isso, Ferreira tem uma visão muito clara dos instrumentos que poderá utilizar. A política, para o ministro, "não pode ser feita dentro dos despachos, é preciso dialogar e é necessária a participação de artistas, produtores culturais, empresários. Todo esse mundo precisa ser incorporado na construção, execução e avaliação das políticas culturais".

Juca Ferreira disse que não se pode pensar no desenvolvimento de um país "apenas avaliando a dimensão econômica e produtiva". A cultura, e com ela a educação, são centrais "para se compreender a complexidade do mundo no século XXI", opinou.

Mas, além disso, a cultura precisa ter um aporte orçamentário necessário, por isso está tramitando no Brasil – de acordo com o ministro – um projeto no qual se propõe que um mínimo de 2% do orçamento seja destinado à cultura, o que "é pouco, mas é muito, e significaria hoje quadruplicar o orçamento" nesta matéria.

Embaixador especial da Segib de 2011 a 2012, Ferreira é um claro defensor da cooperação entre os países de região ibero-americana em todos os âmbitos e, devido ao cargo que ocupa, insiste no aspecto cultural.

"O Brasil é um país que tem uma importância global. (O presidente americano, Barack) Obama acaba de dizer que (o Brasil) é um 'player' global, não somente regional e esta é uma constatação real, mas nós estamos inseridos na América Latina e temos muitos espaços de inserção".

Ferreira defendeu a colaboração em todos os campos culturais. "Criar mercados comuns, sistemas de coprodução, criar uma possibilidade de troca cultural maior", pois – segundo Juca Ferreira – é "ruim, é péssimo" que os filmes espanhóis e argentinos cheguem ao Brasil através de produtoras americanas.

"Constituir um mundo Ibero-americano, eu acho que é uma tarefa importante para sobreviver e que nos desenvolvamos dentro de um mundo globalizado", concluiu Juca Ferreira.