Quem apostar na crise vai perder

 O principais temas tratados pela maioria dos meios de comunicação no Brasil são as “crises” econômica e política. As aspas são por conta do exagero e superdimensionamento com que estes temas são tratados.

Claudio Machado*

 E essa tendência de sobrevalorizar as dificuldades fiscais realmente existentes no governo central, vem se avolumando de tal forma que os mais desavisados já apresentam sinais de pânico, sejam pessoas físicas ou jurídicas.

Aliada a esta manipulação de informação, a má intenção de alguns setores acaba por  acrescentar água ao moinho da crise política, que também é real mas está muito longe de poder se classificada como uma crise institucional.

Somos um dos mis importantes países do planeta, a 7ª economia mundial e contamos com  instituições sólidas, funcionando normalmente, independente de mazelas identificadas aqui ou ali, como acontece em qualquer lugar, em qualquer país no mundo.

Sim, ajustes são necessários (não vou comentar aqui o mérito), mas o que o governo está fazendo é como se fossem aspirinas para combater uma febre branda, muito longe daqueles coquetéis  usados em pacientes de UTI.

A inflação de junho está na casa dos 8,9 e a previsão é que este ano fique nesse patamar, para começar a cair a partir do final do 4º trimestre, seguindo a tendência em 2016. Já a taxa de desemprego estabilizou no mesmo mês, em 6,9%, se comparada com o mês de maio.

Mas se existem setores da economia sentindo efetivamente as consequências deste momento de reequilíbrio fiscal, com retração de demanda e consequente necessidade de redução de postos de trabalho, outros setores vão bem e apresentam incontestáveis sinais de robustez e tendência de expansão. Para mais detalhes relaciono alguns exemplos com os respectivos links e fontes, caso queiram obter maiores informações:

1 – Movimentação de cargas no porto de Santos bate recorde histórico no primeiro semestre de 2015

http://cut.org.br/noticias/movimentacao-de-cargas-no-porto-de-santos-bate-recorde-historico-7981/

No primeiro semestre de 2015, 55,2 milhões de toneladas de mercadorias passaram pelo litoral paulista, superando o recorde do ano de 2013.

"O resultado foi ainda mais expressivo do que havíamos projetado e decorreu, principalmente, do aumento verificado nas exportações”, afirmou, em nota,  Angelino Caputo, presidente da Codesp.

2 – As vendas do comercio varejista no dia dos pais deve aumentar em 11,2% em 2015, se comparado ao ano anterior, de acordo com pesquisa realizada pela FecomercioRJ/Ipsos.

http://www.gironews.com/negocios/comercio-varejista-33288/

3 – Embraer alcança backlog recorde no 2º trimestre de 2015

http://www.aereo.jor.br/2015/07/15/embraer-alcanca-backlog-recorde-no-2o-trimestre-de-2015/

No final do segundo trimestre de 2015 (2T15), a carteira de pedidos firmes a entregar (backlog) da Embraer  chegou ao patamar de USD 22,9 bilhões, o maior da história da Empresa. No final do trimestre anterior, em 31 de março de 2015, a carteira de pedidos firmes totalizava USD 20,4 bilhões.

4 – Vendas de material de construção crescem 6% em junho de 2015

http://novo.anamaco.com.br/noticia-interna.aspx?uid=4181

Desempenho foi 10% superior ao mesmo período de 2014.  Aumento ocorre em lojas de todos os portes e em todas as regiões.

Os dados são do estudo mensal realizado pelo Instituto de Pesquisas da Universidade Anamaco com o apoio da Abrafati, Instituto Crisotila Brasil, Anfacer, Afeal e Siamfesp. O levantamento ouviu 530 lojistas das cinco regiões do país entre os dias 25 a 29 de junho e a margem de erro é de 4,3%.

5 – Apesar da crise, 55% das empresas devem contratar em 2015

http://www2.uol.com.br/canalexecutivo/notas151/060720158.htm

A Michael Page, uma das maiores consultorias globais especializadas em recrutamento e seleção de executivos, produziu uma pesquisa sobre expectativas sobre o mercado de trabalho no segundo semestre de 2015, na visão de gestores de Recursos Humanos e colaboradores do copo executivo das empresas.

6 – Sem crise! Mercado de casamentos não conhece o que é recessão

http://m.correio24horas.com.br/noticias/single/noticia/sem-crise-mercado-de-casamentos-nao-conhece-o-que-e-recessao/?cHash=0ef19327369d033f6f9862377b13e01e

Especialistas apontam que um orçamento para um casamento começa em R$ 40 mil e pode ir até o infinito.

A crise pode até adiar o tão sonhado casamento, mas não põe fim a uma tradição que, mesmo em tempos difíceis, movimenta um mercado de billhões de reais.  Só em 2014 foram gastos R$ 16,4 bilhões com celebrações, incluindo casamentos, que são os eventos mais representativos do setor, de acordo com a  Associação Brasileira de Eventos Sociais (Abrafesta). No país, já são mais de 8,5 mil empresas no ramo.

7 – Grendene tem lucro de R$ 86,8 milhões no 2º trimestre

http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/grendene-tem-lucro-de-r-86-8-milhoes-no-2o-trimestre

São Paulo – A calçadista Grendene registrou lucro líquido de R$ 86,8 milhões no segundo trimestre de 2015, o que representa alta de 19,8% ante o mesmo período do ano passado.

No primeiro semestre, o lucro atingiu R$ 223,7 milhões, expansão de 32,4%.

8 – Klabin tem alta de 21% no lucro do 2o tri com vendas maiores

http://br.reuters.com/article/businessNews/idBRKCN0PX1IV20150723?feedType=RSS&feedName=businessNews&utm_source=dlvr.it&utm_medium=twitter&dlvrit=1375018

A fabricante de papéis para embalagens Klabin teve alta anual de 21 por cento no lucro líquido do segundo trimestre, ajudada por aumento no volume de vendas e pela desvalorização do real contra o dólar que apoiou exportações maiores da companhia na comparação com um ano antes.

9 – 'Olhando para nossos resultados, você não saberia que há crise no Brasil', diz CEO da Oracle

http://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Empresa/noticia/2015/06/olhando-para-nossos-resultados-voce-nao-saberia-que-ha-crise-no-brasil-diz-ceo-da-oracle.html

O CEO da Oracle, Mark Hurd, enxerga na atual situação econômica brasileira uma oportunidade para crescer. Em passagem pelo Brasil nesta quarta-feira (24/06), o executivo afirmou que a empresa está investindo bastante no país e na América Latina como um todo e tendo resultados positivos.

"Se você olhasse para os nossos resultados, não saberia que há uma crise no Brasil", disse. O objetivo, segundo Hurd, é que a Oracle se torne a líder no fornecimento de aplicativos de negócios.

10 – Empresa de bebidas britânica compra dona da Maguary por US$ 189 milhões

http://oglobo.globo.com/economia/empresa-de-bebidas-britanica-compra-dona-da-maguary-por-us-189-milhoes-16911566

RIO – A Britvic, empresa de bebidas do Reino Unido que é responsável por marcas como a Fruit Shoot, vai pagar cerca de £ 121 milhões (US$ 189 milhões) pela Empresa Brasileira de Bebidas e Alimentos (Ebba), que vende produtos com as marcas Maguary e Dafruta. Com a aquisição, a companhia britânica vai conquistar a liderança do maior mercado do mundo de concentrados líquidos, além de ampliar a expansão internacional para além de Estados Unidos, Índia e Espanha.

11 – Uberlandia atrai 1,2 mil empreendimentos só neste ano

http://www.diariodocomercio.com.br/noticia.php?tit=uberlandia_atrai_1%2C2_mil_empreendimentos_somente_neste_ano&id=157149

Como podemos verificar, são dados de fontes idôneas que só reforçam a afirmação de que a crise midiática, aquela que nos chega em overdoses pelos canais de tv, páginas dos jornais e pelas ondas de rádio nada tem a ver com o mundo real, com o Brasil real.

Se de um lado o governo central está tendo que tomar medidas para fortalecer sua situação fiscal, que acabam afetando momentaneamente  alguns setores; de outro se regozija com a força de sua economia, de seu povo, seus trabalhadores e empresários patriotas, que sequem acreditando, trabalhando e investindo no Brasil, apesar dos arautos do caos, dos derrotistas, dos que apostam no “quanto pior melhor”, misturando os interesses maiores dessa grande nação com os interesses mesquinhos das disputas perdidas.

E os mesmos arautos e disseminadores do caos ainda prestam um grande desserviço ao Brasil, quando ocultam em suas pregações catastróficas sobre a “crise” brasileira, que a necessidade do ajuste fiscal é consequência de uma crise sistêmica e estrutural do capitalismo, deflagrada em 2007 nos Estados Unidos, provocada pela altíssima e irresponsável especulação financeira com papeis podres do setro imobiliário.

Essa crise se alastrou pelo mundo afora, tal qual epidemia, afetando indiscriminadamente todos os países, criando em muitos destes, verdadeira catástrofe econômica e  social, como são os casos da Grécia, Espanha e Portugal.

Até mesmo os Estados Unidos, passados quase 8 anos desde o início da crise, continua se debatendo para superar seus efeitos. Basta ver o comportamento errático de seu PIB, que quando começa a dar sinais de crescimento, convive em seguida com frustrantes indicadores, como foi o caso do 1º trimestre de 2015, quando a taxa anualizada caiu em 0,2% (http://www.folhavitoria.com.br/economia/noticia/2015/06/em-nova-leitura-pib-dos-eua-cai-0-2-a-taxa-anualizada-no-1o-tri.html ).

O Brasil, embora tenha recebido as rajadas de vento da crise iniciada em 2007, conseguiu a duras penas evitar que seus maiores e piores efeitos chegassem em sua economia e afetassem seu povo. Para isso teve que adotar as chamadas medidas anticíclicas, como desonerações de impostos, da folha de pagamento, entre outras, que impactam diretamente a arrecadação do tesouro e da previdência social.

Estas medidas foram necessárias e conseguiram fazer com que o consumo interno mantivesse a economia em expansão, enquanto o mundo todo reduzia sua demanda por produtos externos, inclusive e principalmente por commodities, que compõem os principais itens das exportações brasileiras.

Mas a crise econômica mundial está durando muito mais tempo do que a maioria dos analistas econômicos daqui de do exterior imaginavam, tendo passado, inclusive, por um repique em 2011.

Isto impôs ao Brasil a necessidade de interromper a adoção das medidas anticíclicas adotadas até então, uma vez que havia chegado ao limite possível de comprometimento do tesouro nacional, pois com a permanência da crise mundial e consequente retração da economia nacional, a arrecadação tributária já não estava mais dando conta de permitir a manutenção destas despesas especiais.

No quarto trimestre de 2015 já poderemos perceber que o pior terá passado e o Brasil seguirá sua trajetória, vocacionado para se tornar cada vez mais influente econômica e politicamente no cenário internacional, fortalecendo sua atual condição de potência mundial, conquistada na última década.

 * Secretário Estadual de Comunicação do PCdoB, vice-presidente da Casa da América Latina-CALLES e coordenador capixaba do Barão de Itararé