Carlos Campelo: Por uma estratégia para o grande esporte

Por *Carlos Campelo

O Centro de Formação Olímpica do Nordeste (CFONE), construído e instalado diante do Castelão, em Fortaleza, foi idealizado pelo Governo Federal, através do Ministério do Esporte, e apresenta o perfil de um dos maiores complexos esportivos do mundo. Foi lançado em 2012, pela presidente Dilma Rousseff e o ministro Aldo Rebelo, dentro do "Plano Brasil Medalhas 2016", que nasceu com o objetivo de posicionar o Brasil entre os dez primeiros países nos Jogos Olímpicos e entre os cinco primeiros nos Jogos Paraolímpicos.

Ainda sem uma previsão de custeio à altura de sua grandiosidade, o CFONE carece de uma política que aproveite plenamente sua capacidade potencial, envolvendo setores e secretarias afins.

Em nosso Estado, o plano federal busca realizar seus objetivos mediante diversas ações, entre as quais se inclui:

(1) a criação de centros de treinamentos interligados numa rede de fomento, desde a iniciação esportiva nas escolas, nas Vilas Olímpicas ou nos Centros de Iniciação Esportiva (CIE’s), com a planejada construção de três unidades em Fortaleza e mais 13 no interior do Ceará;

(2) equipamento voltado para atender o padrão esportivo de alto rendimento, concebido e estruturado para a ciência do esporte, mediante a aplicação de técnicas e tecnologias de vanguarda que reúnam condições de competitividade e que busquem mecanismos atraentes aos melhores profissionais multidisciplinares, focados na formação de novas gerações de atletas.

Desde a criação do Ministério do Esporte, em 2003; da Lei de Incentivo ao Esporte Federal, em 2007, responsável pelo fomento – via renúncia fiscal – da ordem de R$ 1,3 bilhão (um bilhão e 300 milhões de reais) no período de sete anos; até o advento da Copa do Mundo de futebol 2014 e das Olimpíadas 2016 em nosso território, o modelo do CFONE foi pensado nos marcos de uma macropolítica do esporte.

Neste prumo, possui o perfil de suporte ao treinamento de até 26 modalidades olímpicas e paraolímpicas. Sem dúvidas, trata-se de uma relevante conquista para o nosso Estado.

O CFONE é, desse modo, um importante passo para o desenvolvimento do esporte na nossa região e em âmbito nacional, logrando atrair, agregar valor e benefícios que somente o esporte pode proporcionar, a exemplo do desenvolvimento do esporte de alto rendimento nas regiões Nordeste e, por contiguidade, Norte do país; dos entretenimentos esportivos e culturais; da capacitação esportiva; da medicina esportiva; da qualidade de vida, inclusão e integração social; das descobertas de talentos esportivos, entre outros diversos frutos dessa inédita iniciativa.

Confirmam sua importância na edificação do futuro do esporte, os recentes resultados obtidos no PAN 2015, no Canadá, onde o Brasil alcança a marca histórica de terceiro lugar no quadro geral de medalhas, à frente de Cuba – um país considerado um dos celeiros de atletas de alta performance – e apto a atrair, agregar valor e benefícios que somente o esporte pode proporcionar.

Apesar da grandiosidade e do custo total da iniciativa do CFONE, orçada em aproximadamente R$ 250 milhões, surge uma significativa demanda: com tantos espaços e complexidades oferecidos, é necessário que se elabore criativa estratégia de funcionamento, organização e custeio para assegurar a oferta de relevantes atividades para o cenário esportivo na região.

A integração de ações realizadas nos diferentes espaços do Centro é de fundamental importância para que, de fato, seus objetivos e metas gerem os resultados esperados. Este planejamento deve, portanto, contemplar da melhor forma possível as modalidades esportivas disponibilizadas.

Previamente a sua construção e inauguração, há questões a requerer ágil operacionalidade e que implicam nos mecanismos do "que fazer" e de "como custear": quais as metas e qual o custo para tornar operacional esta "máquina de fazer atletas"? É válido corrermos o risco de mantê-lo subutilizado, trilhando o caminho cômodo da terceirização da sua gestão e restrito aos eventos esportivos e culturais?

Na verdade o CFONE é um necessário equipamento que resulta de um diagnóstico da nossa realidade esportiva, um projeto robusto e de qualidade que deve se sustentar com excelência, veiculando todos os benefícios que o esporte pode proporcionar para o nosso povo nordestino e para o Brasil. O Governo do Estado (em articulação com as demais gestões estaduais da região); as Universidades e as federações olímpicas e paraolímpicas; ou seja, todos os responsáveis e beneficiários deste equipamento. Precisamos envolver a sociedade no amplo diálogo voltado para a necessidade urgente de consolidação de uma estratégia voltada para o funcionamento e organização – a melhor, mais eficaz e mais adequada gestão, democrática e transparente.

Com o intuito de contribuir para o bom debate, que desperte a melhor consciência da importância de um salto de qualidade desencadeado a partir da necessidade de um planejamento estratégico, com a articulada visão intersetorial e transversal prevista acima, acreditamos que a gestão desse complexo equipamento deva se realizar de forma exemplarmente compartilhada entre vinculadas como SEDUC, SECITECE e a SESPORTE.

Sugere-se o levantamento das múltiplas fontes de recursos disponíveis para custeio em parceria com ministérios, através das secretarias que compartilham a gestão, da viabilidade de financiamento via FUNDEB e da iniciativa privada, mediante as leis de incentivo ao esporte federal e estadual, convênios, confederações esportivas, entre outros; contemplarmos inclusive a ênfase na atenção redobrada ao desporto escolar e Jogos Escolares, possibilitando, entre outros aspectos corolários, o aumento da carga horária do professor de Educação Física na escola para cuidar dessa atividade, buscando a detecção de novos talentos; a maximização da utilização dos CIE’s e Vilas Olímpicas; a definição de espaços no CFONE para funcionamento ou instalação das Federações Olímpicas e Paraolímpicas contempladas no projeto.

É expressiva a demanda esportiva do nosso Estado. Um passo bem edificado e consolidado, a partir deste equipamento já construído, poderá contribuir para posicionar o Nordeste brasileiro e o País na vanguarda do esporte continental e mundial.

*Carlos Campelo é Secretário Executivo da SECEL (Secretaria de Esportes e Lazer do Município de Fortaleza) e mestrando em Administração.

Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do site.