Após ato de racismo, Unesp volta a ser alvo de ações conservadoras

Dias após as paredes de um banheiro da Unesp, em Bauru (SP), chamarem a atenção pela presença de pichações racistas, novas manifestações foram encontradas. A repercussão do crime e o debate acentuado no espaço da universidade não inibiram as ações dos conservadores. 

Comissão vai redigir documento de denúncia e prevenção do racismo na Unesp - Reprodução

Os cartazes afixados com frases de apoio aos negros da instituição e contradizendo as frases “Unesp cheia de macacos fedidos” e “Negras fedem” foram pichados com suásticas e palavras para desqualificar o debate iniciado na universidade.

O professor do curso de Jornalismo e coordenador do Núcleo Negro para a Pesquisa e Extensão, Juarez Tadeu de Paula Xavier, 55, um dos citados nas ofensas racistas iniciais, aponta que essa é mais uma reação ao debate que foi reforçado. “A política de setores mais conservadores não se faz por meio da construção de um raciocínio e uma lógica política. O debate qualificado é substituído pela violência, falta de decoro, irresponsabilidade e pela discussão sem qualificação”, analisa o único professor negro dos cursos de Comunicação da Unesp.

Discurso conservador avança na universidade

Juarez analisa que o discurso na universidade reflete o momento atual vivenciado pela sociedade brasileira com a ascensão de um discurso conservador. Para ele, isso mostra uma reação aos avanços econômicos, políticos e sociais registrados no Brasil e a consequente mobilidade vertical que a população mais pobre com as políticas públicas adotadas pelo governo federal. “Há um conflito de ideias e opiniões de um debate público em alguns espaços e a universidade pública enfrenta isso. O debate mais conservador sobre os avanços dos problemas estruturais da sociedade brasileira replica na universidade. Ao invés de vir para o debate na esfera pública, esses setores preferem o anonimato dos banheiros e lá apresentar os seus pontos de vista contrários aos avanços sociais registrados no país”, reflete o pesquisador.

O professor de Jornalismo acredita que essas manifestações vão ser mais comuns a partir do fortalecimento do debate e a universidade pública tem a diferença de ser um espaço que propicia a formação de um contraditório. “Esse debate a sociedade não tem conseguido fazer devido ao monopólio dos meios de comunicação que são canais para a propagação desse discurso pouco qualificado. Nossas ações para denunciar o racismo, o machismo e a homofobia são para criar novos canis públicos e preservar o espaço democrático da universidade para que não haja o replique do discurso que domina a sociedade”, conclui.