Cordel Umbilical: Carta de Erivan para Idalzira

Sua bênção mãe querida
Hoje eu estou contente
Pois recebi de presente
Uma luz em minha vida
Minha alma enternecida
Que tanta saudade tinha
Recebeu sua cartinha
Tão bonita de se ler
Que resolvi escrever
Logo a resposta minha

Não pense ser a senhora
A única a ter saudade
O meu peito também invade
Essa dor que nos devora
A gente reclama e chora
Da distância que maltrata
Que não há ouro nem prata
Que pague a separação
Seja de pai, mãe ou irmão
A saudade é sempre ingrata

Entre suspiros e ais
Eu vejo o tempo passando
E penso de quando em quando
Que o tempo não volta atrás
E que agora os meus pais
De mim estão bem distante
E relembro a cada instante
De papai e da senhora
E não estou vendo a hora
De vê-los o quanto antes

Porém vamos esperar
Que logo chega o natal
E eu recebo o aval
Para poder viajar
Espero poder lhes dar
De presente a alegria
E tirar a nostalgia
Que a senhora está vivendo
E passar dez dias tendo
Minha inteira companhia

Estou muito atarefado
Com a universidade
Pois eu sei que é verdade
E a senhora tem falado
Que o estudo concentrado
É quem nos traz o saber
E para se aprender
É preciso muito esforço
Que esse nó no pescoço
É só pra quem pode ter

Tem também a eleição
Do nosso centro acadêmico
Um assunto bem polêmico
Que tá dando confusão
Só aí gasto um tempão
Pra poder conciliar
Trabalhar e estudar
E para o curso crescer
Ter mais leitura e lazer
Precisa a gente lutar

Já falei muito de mim
Mas quero saber agora
Como é que está a senhora
Se o Cedro tá bom ou ruim
Se tá assado ou assim
Como é que está minha irmã
E o meu irmão Edvan
Se deu alguma notícia
Fale de Pedro e Patrícia
E de meu irmão Joan

Mamãe vou me despedir
Pois não posso demorar
Tenho ainda que estudar
Para depois poder ir
Tomar um banho e dormir
Pois tenho aula amanhã
Porém fico no afã
De abraçar a senhora
Um beijo de quem te adora
Seu filho José Erivam

Fortaleza, 19 de novembro de 1992

Esta é a carta que eu escrevi em novembro do ano passado e ainda não tinha enviado, segue agora junto com a outra.

Sua bênção minha mãe
Vim lhe dar uma alegria
Escrevendo esta cartinha
Em forma de poesia
Porém com outra razão
Vim lhe passar um carão
Pela sua teimosia

A senhora sempre deu
Muitos conselhos pra mim
Erivan isso não presta
Aquilo ali é ruim
Não beba que dá cirrose
Fumar dá tuberculose
E leva você ao fim

Porém agora sou eu
Que vou lhe aconselhar
Não coma carne de porco
Nem vá comer mungunzá
Não ande muito no sol
Cuide do colesterol
Para cem anos durar

Duas vezes por semana
Mande tirar a pressão
Vá lá no ambulatório
Organize o coração
Tome os remédios direito
Pro corpo ficar perfeito
E ter maior duração

Não coma com muito açúcar
Nem também com muito sal
Não coma com muito óleo
Pois este também faz mal
Não coma carne de bode
De peba também não pode
Senão vai pro hospital

Faça cooper todo dia
E também uma dieta
Não vá dormir muito tarde
Que a coisa se completa
Siga meu conselho agora
Que logo, logo a senhora
Vai virar uma atleta

Seguindo a minha receita
A senhora brevemente
Vai estar uma menina
Como era antigamente
Tomando banho de praia
Vestindo uma mini-saia
Dançando forró com a gente

Faça como estou dizendo
Que o retorno eu garanto
A senhora fazendo isso
Pode ir pra qualquer canto
Nada mais vai lhe doer
E o povo aí vai dizer
Idalzira, Erivan é santo

Agora quero pedir
Desculpas pela demora
Não pude lhe escrever antes
Porém lhe escrevo agora
Envio nas duas cartas
Rimas bonitas e fartas
Pra diversão da senhora

Quero explicar também
Como eu estou passando
De férias da faculdade
Mas ainda trabalhando
Umas férias muito bacana
Trabalhando na semana
Nas horas vagas rimando

Está quase terminando
A reforma da residência
Que agora talvez fique
Um lugar de mais decência
Com tudo no seu lugar
Irá muito melhorar
Aqui a nossa vivência

Mamãe vou me despedir
Pois já escrevi demais
Só Deus sabe a saudade
Que eu sinto dos meus pais
E aqui de vez em quando
Eu me acordo chorando
Dando suspiros e ais

Dê um abraço em papai
Que é o chefe do clã
Muitos votos de saúde
Que a senhora fique sã
Lembranças a toda praça
Aqui fica quem te abraça
Teu filho José Erivan

Fortaleza, 18 de fevereiro de 1993